sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

POESIA EVENTUAL: Coreografia Cíclica das Mãos

COREOGRAFIA CÍCLICA DAS MÃOS

Quantas mãos desenvolvem
As virtudes de seus toques?

Quantas mãos se encolhem
Perante a frieza dos ventos?

Quantas mãos ainda jovens
Precisarão ganhar retoques?

Quantas mãos se conhecem
E reconhecem seus talentos?

Mãos que se anunciam para nascer
Mãos que se encontram para brincar
Mãos que se disciplinam para aprender
Mãos que se lapidam para trabalhar
Mãos que se entregam ao ato de criar
Mãos que se aproximam para brindar
Mãos que se entrelaçam para passear
Mãos que se humilham para sobreviver
Mãos que se arriscam para se vingar
Mãos que se energizam para orar
Mãos que se unificam para protestar
Mãos que se mobilizam para votar
Mãos que se associam para ajudar
Mãos que se fundem para amar

* * * * * * * * *

Mãos que se esboçam no ventre
Mãos que decoram novo quarto
Mãos que estão para aparecer
Mãos que participam do parto
Mãos que erguem um novo ser
Mãos que emocionam a gente

Mãos que fazem coisas erradas
Mãos que aprontam macacadas
Mãos que emolduram caretas
Mãos que ganham palmadas
Mãos que passam pomadas
Mãos que largam as chupetas

Mãos que adoram bolas
Mãos que jogam bilas
Mãos que soltam pipas
Mãos que giram peões
Mãos que imitam pistolas
Mãos que fingem ser aviões
Mãos que trocam figurinhas
Mãos que embaralham cartas
Mãos que vestem as bonecas
Mãos que espatifam brinquedos
Mãos que mudam canais de TV
Mãos que descobrem a internet
Mãos que escalam os arvoredos
Mãos que desembrulham matas
Mãos que cavam buracos na areia
Mãos que furam bolhas de chiclete
Mãos que montam quebra-cabeças
Mãos que desmontam as trancinhas
Mãos que se lambuzam de chocolate

Mãos que utilizam a lousa
Mãos que realizam as tarefas
Mãos que preenchem a chamada
Mãos que rabiscam as letrinhas
Mãos que facilitam as continhas
Mãos que sinalizam dúvidas
Mãos que corrigem provas
Mãos que recebem o boletim

Mãos que produzem arte
Mãos que tecem histórias
Mãos que pintam aquarelas
Mãos que guiam orquestras
Mãos que desfilam no piano
Mãos que dançam nas águas
Mãos que aprumam as velas
Mãos que modelam esculturas

Mãos que batem no peito
Mãos que afirmam valores
Mãos que levantam troféus
Mãos que hasteiam bandeiras
Mãos que acendem fogueiras
Mãos que agradecem aos céus
Mãos que aplaudem espetáculos
Mãos que se soltam nos carnavais
Mãos que celebram aniversários
Mãos que evoluem a cada estação
Mãos que exercitam uma profissão
Mãos que anotam fatos nos diários

* * * * * * * * *

Mãos que adubam a terra
Mãos que cultivam hortas
Mãos que plantam árvores
Mãos que fornecem grãos

Mãos que misturam ingredientes
Mãos que operam engrenagens
Mãos que enfeitam prateleiras
Mãos que selecionam produtos
Mãos que processam pedidos
Mãos que empacotam compras
Mãos que recolhem as gorjetas
Mãos que abastecem geladeiras
Mãos que preparam as comidas
Mãos que descartam embalagens

Mãos que varrem o chão
Mãos que catam lixos
Mãos que afastam fezes
Mãos que agarram o pão
Mãos que duelam com bichos
Mãos que assinalam reveses

Mãos que abafam gritos
Mãos que simulam apitos
Mãos que pedem esmola
Mãos que solicitam carona

Mãos que concentram riquezas
Mãos que praticam corrupções
Mãos que assinam demissões
Mãos que repudiam gentilezas

Mãos que matam muriçocas
Mãos que espremem piolhos
Mãos que usam baladeiras
Mãos que derrubam gaivotas
Mãos que traficam drogas
Mãos que se fazem valentes
Mãos que apontam armas
Mãos que desferem facadas
Mãos que lançam granadas
Mãos que costuram feridas
Mãos que atingem inocentes
Mãos que enxugam lágrimas

Mãos que pedem clemência
Mãos que suplicam proteção
Mãos que aplacam a violência
Mãos que acalmam a multidão

Mãos que agitam os sinos
Mãos que levam oferendas
Mãos que folheiam a bíblia
Mãos que canalizam preces
Mãos que contabilizam fiéis
Mãos que organizam a liturgia
Mãos que tangem peregrinos

Mãos que carregam bebidas
Mãos que perdem a direção
Mãos que sacrificam vidas
Mãos que tampam o caixão

Mãos que amparam doentes
Mãos que efetuam curativos
Mãos que socializam carinhos
Mãos que acolhem as crianças
Mãos que atendem os carentes
Mãos que indicam os caminhos

Mãos que assentam cimentos
Mãos que enfileiram tijolos
Mãos que pavimentam estradas
Mãos que erigem monumentos

Mãos que exercem a cidadania
Mãos que escolhem os políticos
Mãos que consultam os direitos
Mãos que tateiam outra coreografia

* * * * * * * * *

Mãos que escovam dentes
Mãos que vestem uniformes
Mãos que passam batom
Mãos que ajeitam gravatas
Mãos que abrem escritórios
Mãos que batem o ponto
Mãos que cumprem funções
Mãos que despacham ofícios
Mãos que remexem gavetas
Mãos que seguem padrões

Mãos que driblam a rotina
Mãos que distribuem beijos
Mãos que disfarçam sorrisos
Mãos que acenam esperanças
Mãos que se tocam na surdina
Mãos que acenam saudades
Mãos que enlaçam amizades
Mãos que despertam desejos

Mãos que ligam o chuveiro
Mãos que passam perfume
Mãos que arrumam cabelos
Mãos que atiçam as brasas
Mãos que desligam as luzes
Mãos que desarrumam os lençóis
Mãos que se misturam com os pés
Mãos que repousam em comunhão

* * * * * * * * *

Mãos frágeis de gestação
Mãos vivas de experimentação
Mãos precoces de adestramento
Mãos amordaçadas de apatia
Mãos calejadas de cansaço
Mãos reluzentes de vaidades
Mãos amputadas de desilusão
Mãos crispadas de indignação
Mãos insufladas de rebeldia
Mãos gratificantes de superação
Mãos febris de arrebatamento
Mãos abençoadas de inspiração
Mãos cheias de generosidades
Mãos enrugadas de sabedoria
Mãos comovidas de realização
Mãos magnetizadas de utopia

Quantas mãos desenvolvem
As virtudes de seus toques?

Quantas mãos se encolhem
Perante a frieza dos ventos?

Quantas mãos ainda jovens
Precisarão ganhar retoques?

Quantas mãos se conhecem
E reconhecem seus talentos?

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