segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

POESIA: Reagir ou Submergir

REAGIR OU SUBMERGIR


Quem vai enxugar o pranto de angústia
Da família pobre, entregue à própria sorte?
A bússola do bem travou e perdeu seu norte?
A simplicidade sincera foi vencida pela astúcia?

Todo mundo quer ser feliz, encontrar seu Sol,
Mas ignora a miséria que escorre sob o nariz.
A oportunidade ressurge e nos joga seu anzol,
Mas a cegueira continua: estreita, nua, deletéria.

Enquanto alguns lutam para sobreviver a cada dia,
Outros se especializam na arte de roubar e mentir.
E a Justiça nada faz, sob a anestesia de sua apatia.
Uns com licença para matar; outros, nem para sorrir.

É fácil criticar e sair espalhando que falhamos,
Mas cadê as soluções, ôhhh tal Poeta do Social?
Qualquer mudança exige uma profunda revisão moral
Sem a qual é melhor enterrar tudo em que acreditamos.

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

( Como sobremesa poética, encerro minhas postagens artísticas de 2010 com algumas reflexões que nunca conseguem se calar: O que podemos fazer para melhorar e mudar o mundo? Que tipo de felicidade buscamos e merecemos? Quando a justiça estará a serviço dos que precisam dela? )

POESIA: A Mudança Somos Nós




A MUDANÇA SOMOS NÓS

Quanta vida temos para explorar
Nas estradas de nossos corações!
Quantas lágrimas podemos derramar
Das mais lindas e sensíveis canções!

Aqui estamos juntos para celebrar
A luz do amor coletivo e cristalino,
Através da qual a justiça pode reinar,
Consagrando-nos a felicidade como destino.

Quando as ciências terão mais decência
E farão as pazes com a humanidade,
Para que o discernimento da realidade
Nos liberte do egoísmo e da violência?

Nosso planeta padece de graves crises:
Econômicas, ambientais, sociais, espirituais.
A ambição material nos levou longe demais.
Haja solidariedade para superar tais reveses!

Se não fosse a esperança, já teríamos afundado.
Só avança pra frente quem sabe olhar pro lado,
Se indignando com a miséria e os povos excluídos,
Das ruas escancaradas aos morros escarpados.

Precisamos revolucionar, sem vaidades e adiamentos,
Nossos olhares, atitudes, relações, buscas e valores;
Estendendo a todos os lugares e em todas as cores
Nossos sonhos, virtudes, reflexões, saberes e talentos.

( Poesia lida no "Natal na Estrada" da Delegação Cearense que participou da Expocatadores 2010, Encontro de Catadores em São Paulo. Escolhi esta mensagem para desejar a todos(as) os(as) amigos(as), colegas e contatos um 2011 de muita utopia, poesia e alegria )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

POESIA: Reciclando o Futuro


RECICLANDO O FUTURO

Somos do Ceará
Com muito orgulho
Viemos reciclar
Nosso futuro

Catador isolado
Também é explorado
Catador organizado
Jamais será pisado



Somos um movimento unido
De luta e voz ativa
Queremos coleta seletiva
Com catador remunerado

Somos do Ceará
Com muito orgulho
Viemos reciclar
Nosso futuro

Catador trabalhando
Catando com amor
As ruas limpando
Mas ninguém dá valor

Não não não
À incineração
Sem respeito ao ambiente
Não existe inclusão

Somos do Ceará
Com muito orgulho
Viemos reciclar
Nosso futuro

Ei ei ei, o Lula é nosso rei
Até coleta seletiva ele fez implantar
Sociedade e municípios, vamos acordar
Ajudando a Dilma a cumprir essa lei




( Essa poesia resultou de uma dinâmica em grupos visando a produção de uma mensagem musical da delegação cearense para o Encontro de Catadores em São Paulo - Expocatadores 2010. Trechos dessa composição foram entoados e repetidos ao longo do evento, especialmente a estrofe-refrão )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

POESIA: Recicladores de Utopia

RECICLADORES DE UTOPIA


Toda luta social é um gesto de amor,
Animado pela mais legítima solidariedade.
A causa dos catadores é uma prova de fidelidade
E bem-querer aos povos frágeis, excluídos do poder.

Nossa força se renova a cada conquista.
Cada obstáculo que surge em nossa pista
É enfrentado com união, organização e superação.
Nossa voz ecoa o grito atual de justiça da nação.

Estamos cansados de promessas vazias.
Chega de hipocrisia, sacanagem e preconceito!
Precisamos é de cidadania, inclusão e respeito,
Para termos mais renda, bem-estar e melhorias.

O Sol da felicidade coletiva desponta no horizonte!
Cada um de nós é a ponte para chegarmos lá.
A saudade de quem já partiu é o combustível constante
Que alimenta, enobrece e sustenta o nosso caminhar.

As desigualdades nunca foram e serão fenômenos naturais.
Sem educação e política ambientais, não existe sustentabilidade.
Nossa reciclagem não se restringe ao manejo de materiais;
É sobretudo de sensibilidade, consciência, utopia e humanidade.

( Poesia em homenagem à delegação cearense presente no Encontro de Catadores em São Paulo, ocorrido entre 21 e 23 de dezembro de 2010, encerrado com as participações de Lula e Dilma )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

POESIA: Você Sabia Que a Luz

VOCÊ SABIA QUE A LUZ

Quando apagada,
Nos reduz, nos apequena e nos empobrece;
Quando acesa,
Nos conduz, nos agiganta e nos enriquece.

Quando desviada e mal orientada,
Paralisa nossas forças e perpetua estagnações;
Quando concentrada e bem dirigida,
Mobiliza nossas potências e produz revoluções.

Quando escondida e negada,
Nos embriaga de vaidades, egoísmos e exclusão.
Quando ampliada e partilhada,
Nos brinda de virtudes, gentilezas e comunhão.

Quando banalizada e artificializada,
Torna a sociedade mais fria, competitiva, hostil e destrutiva.
Quando poetizada, cantada e celebrada,
Torna a humanidade mais leve, construtiva, feliz e emotiva.

( Poesia dedicada ao Natal de 2010 )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre as forças que nos tornam irmãos

UMA MENSAGEM PARA CATADORAS E CATADORES...


...SOBRE CONFIANÇA, AMOR E UNIÃO: AS FORÇAS QUE NOS TORNAM IRMÃOS.

Fiquei muito feliz ao saber que vocês continuam unidos e estão se preparando com muita esperança para criarem a organização de vocês.

Muitos catadores e catadoras gostariam de estar no seu lugar; sendo capacitados, orientados e encorajados a reciclarem aquilo que temos de mais potente em nossas mentes: a confiança. Confiança em si mesmos, confiança nos sonhos que brotam da alma e confiança na capacidade das instituições, redes e políticas de cooperarem para o bem comum do planeta.

Muitos de vocês ainda não sabem ler como gostariam. Isso é o de menos. Muitas (talvez milhões) das pessoas que têm formação universitária em alguma coisa, de tanto lerem e não fazerem nada, desaprenderam a sentir. E quem não consegue sentir, torna-se um analfabeto na linguagem do amor.

Há muita luz no mundo (sobretudo em tempos de Natal e Reveillon), mas é quase tudo artificial demais. Seja a luz que falta no mundo, acendendo com sua união o sonho de uma humanidade diferente, com relações mais solidárias e valores mais íntegros. Dentre outras tarefas, vocês existem para, com o espírito de dignidade e determinação que inspira seus passos e lutas, ensinarem a sociedade a transformarem os resíduos do capitalismo predador em alavancas de projeção e consolidação de um outro mundo; possível, necessário e urgente.

Muita gente tropeçou no meio do caminho, antes de ver a luz sorrir no futuro da vida terrena que não continuou. Hoje vocês estão colhendo frutos importantes e renovados desses dolorosos embates históricos. Quando você chora, as lágrimas que caem não são apenas suas; são de todo um povo explorado, marginalizado e excluído (e bote literalmente nisso!) – é na verdade uma multidão, irmanada pelas pegadas esculpidas com o suor e o sangue geracionais de milhares de milhares de índios e negros; cujos corpos tombaram no passado, mas cujos exemplos nunca deixarão de viver e iluminar os movimentos sócio-ambientais do presente.

Quem tem confiança na mente, amor no coração e união no dia-a-dia, tem (e sobretudo vivencia) a mais linda poesia; feita para celebrar, a cada instante e oportunidade, a alegria da vida e a força da mudança. Parabéns, catadoras e catadores do Serviluz, de Fortaleza e do Brasil, agigantado com os avanços inegáveis do Governo Lula e o engajamento contínuo da sociedade civil, desafiada a se reinventar institucionalmente para conquistar patamares mais firmes de sustentabilidade.

Que a Presidenta Dilma seja a Dilma que o povo espera e que o Sol do trabalho edificante e da justiça coletiva vos acompanhe sempre, em toda jornada de coleta, separação e comercialização de materiais recicláveis, mesmo quando o silêncio da vizinhança e a escuridão da noite ameaçarem enfraquecer suas energias.

(PS.: Dedico essa mensagem aos catadores do Serviluz e aos demais grupos do Projeto Cataforte - Fortalecimento do Associativismo e Cooperativismo dos Catadores de Materiais Recicláveis, executado no Ceará pela Cáritas).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Diplomacia dos EUA em apuros

Estou com escritos pendentes para postar devido à correria de final de semestre letivo, mas não posso deixar de difundir esta notícia, que tem despertado a injusta fúria da diplomacia internacional. Wikileaks tem feito vir à tona documentos que revelam os bastidores da política internacional, destacando nesse momento comunicados de embaixadores estadunidenses.

Concordo que nem tudo pode ser revelado, pois na minha leiga compreensão devem existir assuntos de extrema gravidade estratégica que mereçam a alcunha de segredos de Estado. Porém, a grande maioria dessas informações sigilosas que vêm circulando reflete apenas as visões, interesses e argumentos de alguns setores sobre os negócios e relações mundiais.

Já que se defende tanto a liberdade de imprensa, se deveria pelo menos respeitar a difusão dessas informações, portadoras de relevância histórica para a compreensão das motivações diplomáticas que tornam nosso planeta, apesar de tanta abundância alimentícia e riqueza científico-tecnológica, uma selva global de concentrações econômicas e exclusões sociais.

(Comentários introdutórios do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)


POR DENTRO DO WIKILEAKS

Por Natália Viana* - 01/12/2010

FONTE: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/por-dentro-do-wikileaks

Fui convidada por Julian Assange e sua equipe para trazer ao público brasileiro os documentos que interessam ao nosso país. Para esse fim, o Wikileaks decidiu elaborar conteúdo próprio também em português, com matérias fresquinhas sobre os documentos da embaixada e consulados norte-americanos no Brasil.

Por trás dessa nova experiência está a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação. O Wikileaks quer ter um canal direto de comunicação com os internautas brasileiros, um dos maiores grupos do mundo, e com os ativistas no Brasil que lutam pela liberdade de imprensa e de informação. Nada mais apropriado para um ano em que a liberdade de informação dominou boa parte da pauta da campanha eleitoral.

Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.

Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.

Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.

Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.

Documentos sobre Brasil

No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.

Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.

O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.

Impressões

A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.

Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.

Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.

O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.

Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.

O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.

É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial. Uma ironia e tanto.

*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi