Quem dera se dez por cento da grande mídia fizesse eco a este lúcido alerta de Leornado Boff. Já que as sociedades ricas exploram tanto a indústria de entretenimento do futebol, deviam pelo menos seguir seu exemplo nas outras movimentações, muito mais sérias, da vida cotidiada. Ou seja, falta trabalho em equipe, articulação em rede, estratégia coletiva, complementação de papéis, treinamentos sistemáticos. Cada problema não deve virar a bola da vez e fazer com que os "jogadores geopolíticos" corram afoitos e desorientados atrás dela. Assim ninguém "faz gol" e muita coisa fica atolada na mesmice. A crise econômica não pode diminuir o combate à problemática ambiental. O aquecimento global não pode desviar o foco dos conflitos locais. A mente não pode ser divorciada do coração. A fé, nem que seja pelo menos a esperança em si mesmo, não pode ser externalizada e institucionalizada pelas religiões. E por falar em fé, como dói fundo na alma da consciência saber que investimentos sociais não passam de esmolas frente aos astronômicos orçamentos bélicos. O primeiro remédio, o mais essencial para salvarmos o futuro, é universalmente gratuito e insuperavelmente potente: amar a vida, conforme a sensibilidade ecumênica deste escritor prescreve à humanidade.
(Comentários do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)
ELES NÃO AMAM A VIDA
Por Leornardo Boff
FONTE: Agência Carta Maior - 02/12/2008
LINK: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4042&boletim_id=499&componente_id=8726
A busca de uma saída para a crise econômico-financeira mundial está cercada de riscos. O primeiro é que os países ricos busquem soluções que resolvam seus problemas, esquecendo do caráter interdependente de todas as economias. A inclusão dos países emergentes pouco significou, pois suas propostas mal foram consideradas. Prevaleceu ainda a lógica neoliberal que garante a parte leonina aos ricos.
O segundo é perder de vista as demais crises, a ecológica, a climática, a energética e a alimentar. Concentrar-se apenas na questão econômica, sem considerar as outras, é jogar com a insustentabilidade a médio prazo. Cabe recordar o que diz a Carta da Terra: "nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes" (Preâmbulo).
O terceiro risco, mais grave, consiste em apenas melhorar as regulações existentes em vez de buscar alternativas, com a ilusão de que o velho paradigma neoliberal teria ainda a capacidade de tornar criativo o caos atual.
O problema não é a Terra. Ela pode continuar sem nós e continuará. A magna quaesto, a questão maior, é o ser humano voraz e irresponsável que ama mais a morte que a vida, mais o lucro que a cooperação, mais seu bem estar individual que o bem geral de toda a comunidade de vida. Se os responsáveis pelas decisões globais não considerarem a inter-retro-dependência de todas estas questões e não forjarem uma coalizão de forças capaz de equacioná-las aí sim estaremos literalmente perdidos.
Na verdade, se houvesse um mínimo de bom senso, a solução do cataclismo econômico e dos principais problemas infra-estruturais da humanidade seria encontrada. Basta proceder a um amplo e geral desarmamento já que não há confrontos entre potências militares. A construção de armas, propiciada pelo complexo industrial-militar, é a segunda maior fonte de lucro do capital. O orçamento militar mundial é da ordem de um trilhão e cem bilhões de dólares/ano. Já se gastaram somente no Iraque dois trilhões de dólares. Para este ano, o governo norte-americano encomendou armas no valor de um trilhão e meio de dólares.
Estudos de organismos de paz revelaram que com 24 bilhões de dólares/ano - apenas 2,6% do orçamento militar total - poder-se-ia reduzir pela metade a fome do mundo. Com 12 bilhões - 1,3% do referido orçamento - poder-se-ia garantir a saúde reprodutiva de todas as mulheres da Terra.
Com grande coragem, o atual Presidente da Assembléia da ONU, o padre nicaragüense Miguel d’Escoto, denunciava em seu discurso inaugural em meados de outubro: existem aproximadamente 31.000 ogivas nucleares em depósitos, 13.000 distribuidas em vários lugares no mundo e 4.600 em estado de alerta máximo, quer dizer, prontas para serem lançadas em poucos minutos.
A força destrutiva destas armas é aproximadamente de 5.000 megatons, força que é 200.000 vezes mais avassaladora que a bomba lançada sobre Hiroshima. Somadas com as armas químicas e biológicas, pode-se destruir por 25 formas diferentes toda a espécie humana. Postular o desarmamento não é ingenuidade, é ser racional e garantir a vida que ama a vida e que foge da morte. Aqui se ama a morte.
Só este fato mostra que a atual humanidade é feita, em grande parte, por gente irracional, violenta, obtusa, inimiga da vida e de si mesma. A natureza da guerra moderna mudou substancialmente. Outrora "morria quem ia para a guerra". Agora não, as principais vítimas são civis. De cada 100 mortos em guerra, 7 são soldados, 93 são civis, dos quais 34, crianças.
Na guerra do Iraque já morreram 650.00 civis e apenas cerca de 3.000 soldados aliados. Hoje assistimos algo absolutamente inédito e de extrema irracionalidade: a guerra contra a Terra. Sempre se faziam guerras entre exércitos, povos e nações. Agora, todos unidos, fazemos guerra contra Gaia: não deixamos um momento sem agredi-la, explorá-la até entregar todo seu sangue. E ainda invocamos a legitimação divina para o nosso crime, pois cumprimos o mandato: "multiplicai-vos, enchei e subjugai a Terra"(Gen 1,28).
Se assim é, para onde vamos? Não para o reino da vida.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
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2 comentários:
Pablo,
Parabéns por mais um excelente post. (Visitei seu blog há pouco; mas vou lendo os textos, devagar). Eu também me dedico a contribuir para uma sociedade melhor, começando, claro em minha família. Atuo como educadora em uma escola de eudcação infantil 1ªs séries do ensino fundamental(base).
Às vezes algumas colegas se cansam, por causa da corrupção, "sujeiras" que acontecem nas administrações, e até eu, por 1 minuto, fico pensativa em tanta falta de ética, de sensibilidade com o dinheiro do povo (impostos).
Nossa, é lasttimável ver que as vezes existem alguma política na educação do país, porque um banco tal exige que isso aconteça, senão não saem finaciamentos,. aff...
mas deixo aqui para mim e outros colegas que às vezes se desanimam, a frase do mandela à eleição de Obama: "Sua vitória demonstrou que nenhuma pessoa no mundo deve deixar de sonhar em transformar o mundo em um lugar melhor".
Então, nessas sábias palavras, vamos adiante! Com fé.
Valeu, abraços,
Lena.
Oi, Lena
Fico muito muito por seu rico comentário. Seja sempre bem-vinda no Grito Pacífico.
Não falta motivos para "desistir" do mundo, mas nos inpiremos por exemplo na mensagem de Mandela, para nunca perdermos a esperança
Parabéns por seu trabalho comprometido como educadora. É uma ação de formiguinha, mas que, de tijolo em tijolo, está participando da construção de um Brasil muito melhor.
Forte abraço e sigamos adiante!
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