quinta-feira, 30 de junho de 2011

Indefinições Artísticas do Amor

Na matemática das emoções, os cálculos irracionais são as operações que mais funcionam. Na gramática das relações, o silêncio é a mensagem cúmplice que inspira, conecta e sustenta as declarações. A busca de afeto mobiliza o maior intercâmbio de energias subjetivas do planeta, desencadeando migrações mútuas e oscilantes de aspirações, abstrações e realizações, muito sutis para a química e descoordenadas para a geografia.

Em algumas mulheres a gente encontra inteligência e alegria, não mais que isso; em outras, encontramos beleza e prazer, não mais que isso; algumas ainda oferecem sensibilidade e caráter, não mais que isso. Contudo, quando determinadas combinações femininas se juntam caprichosamente no coração dos homens (ou vice-versa), a felicidade ganha tons especiais, colorindo de amor as experiências da vida, as lembranças da mente e os mistérios da alma.

O menor detalhe para uma pessoa pode significar a maior motivação para outra. Os obstáculos intransponíveis para uns representam degraus naturais para alguns. A palavra que faltou nas primeiras conversas dança com a atitude que restou das últimas promessas. Entre uma palavra e outra, gestos inesperados podem dizer muito mais do que o suficiente. A vida é assim mesmo, deliciosamente vestida de paradoxos e despida de protocolos.

Se é verdade que a alma morreria de tédio sem o oxigênio revigorante da arte, não é menos verdade que a arte logo envelheceria sem o constante rejuvenescimento estético da vontade ética de sentir que dá sentido ao ser amador e amável que humaniza intimamente a (co)existência de homens e mulheres. É por demais estonteante e estúpido querer sistematizar a dinâmica do coração, pois quem muito ousa entendê-lo desaprende a vivê-lo.

O próprio amor, como a arte que de tantas formas tenta expressá-lo, tem o poder mágico de mudar a escala de tudo: abismos e pontes se revezam, tempos e espaços se embaralham, medos e sonhos se confundem... a ordem e o caos tecem rimas quase perfeitas, como se ilusões e realidades fossem prolongamentos alternáveis da arte de se deixar apaixonar pelo amor, se perdendo em seus reversos e se reencontrando em seus versos.

Afinal, racionalizar o subjetivo é tão grave e prejudicial quanto superficializar a essência. Enquanto pensamentos rastejam disciplinadamente, sentimentos voam, farejando e salvando tudo que as certezas dogmáticas e tiranas escondem, limitam e condenam.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

POESIA: Amor Demasiadamente Humano

AMOR DEMASIADAMENTE HUMANO

Amor não fala; exala.
Amor não briga; abriga.
Amor não se atura; cura.
Amor não cega; sossega.

Amor não rotiniza; sintoniza.
Amor não esvazia; se recria.
Amor não se esquiva; cativa.
Amor não afunda; aprofunda.
Amor não ironiza; poetiza.

Amor não domina; ensina.
Amor não aperta; liberta.
Amor não prende; entende.
Amor não priva; incentiva.
Amor não impõe; expõe.

Amor não julga; enxuga.
Amor não contraria; alivia.
Amor não grita; escuta.
Amor não disputa; exulta.
Amor não rivaliza, harmoniza.
Amor não ofende; transcende.

Amor não idealiza; realiza.
Amor não hesita; acredita.
Amor não atropela; espera.
Amor não se apaga; se guarda.
Amor não se encolhe; se recolhe.

Amor não espanta; encanta.
Amor não se rende; surpreende.
Amor não se isenta; se reinventa.
Amor não complementa; incrementa.

Amor não esfria; arrepia.
Amor não sufoca; tateia.
Amor não vacila; cintila.
Amor não desliza; destoa.
Amor não tropeça; se encaixa.
Amor não desconta; desponta.
Amor não planeja; apronta.
Amor não padece; estremece.

(Poesia dedicada ao Dia dos Namorados 2011)