quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O que eu gostaria de ganhar...

O que eu gostaria de ganhar nos meus 30 anos?

1. Gostaria de ganhar o desdobramento e o revigoramento contínuo de sua amizade, pois sem isso – em sentido radicalmente ampliado - seríamos pessoas indiferentes, insensíveis e desumanas.

2. Gostaria de ganhar, com mais freqüência e facilidade, informações e notícias sobre as trajetórias de meus amigos, pois quanto menos as pessoas se conhecem, maiores as dificuldades de se sustentar e reciclar amizades ao longo do tempo.

3. Gostaria de ganhar, ainda nesta vida, o dobro do tempo que estou completando agora, para que eu possa ser ainda melhor: mais útil, mais produtivo, mais idealista e mais sincero do que pude ser até então.

4. Gostaria de ganhar, para a vida concreta de meu país e Estado nos próximos quatro anos de mandato político, governantes preparados e comprometidos com as necessidades e aspirações das maiores populares.

5. Gostaria de ganhar uma passagem completa para dentro de mim mesmo, para que eu possa conhecer, enfrentar e driblar melhor minhas limitações, minhas imperfeições e minhas turbulências.

6. Gostaria de ganhar mais tempo, incentivo e inspiração para eu aprimorar e aprofundar minha faculdade de escrever – seja em prosa e/ou versos – minha história, meu mundo e minhas mensagens.

7. Gostaria de ganhar um estoque inesgotável de esperanças para abastecer a militância social das gerações vindouras e curar o pessimismo presente daqueles que acham erroneamente que o Brasil não tem jeito e que é impossível mudar o mundo.

8. Gostaria de ganhar uma vacina contra meus medos, especialmente de três deles: o medo dos meus sonhos se aposentarem de mim; o medo de algum dia ser obrigado a me tornar aquilo que eu não sou; e o medo de que a violência das pessoas tranque os outros dentro das fronteiras omissas de seu próprio ego.

9. Gostaria de ganhar o poder mágico de me teletransportar quando quiser para a Bolívia, terra de minha família paterna biológica e palco político de exemplares avanços sociais e populares protagonizados pelo atual presidente indígena deste instigante país.

10. Gostaria de ganhar um álbum para guardar e eternizar, como figurinhas teimosamente grudadas nos poros da alma, todas as lembranças felizes que me fizeram sorrir e brilhar, lado a lado com todas as lembranças tristes que me fizerem evoluir e sentir.

11. Gostaria de ganhar um projetor de livros, a fim de exibir nas paredes do meu quarto (ou melhor, do meu lar, já que um e outro se confundem) as páginas de livros que o destino exige que eu leia, incorpore e vivencie.

12. Gostaria de ganhar um kit de sensibilidade composto por dois equipamentos: um microscópio para eu enxergar com a maior profundidade possível tudo que as pessoas trazem e fazem de bem; e um telescópio para poder captar as dores mais distantes que afetam o universo único de cada pessoa.

13. Gostaria de ganhar uma receita de valores para cozinhar, digerir e distribuir em todas as refeições individuais e coletivas de meu caráter: doses cavalares de amor, tempero picante de justiça e pitadas a gosto de esperança.

14. Gostaria de ganhar um arsenal de picaretas e explosivos para derrubar e destruir todos os muros do preconceito, da hipocrisia, da arrogância e da maledicência.

15. Gostaria de ganhar uma tabuada mágica para multiplicar o tempo de convivência com as pessoas amigas, somar as energias das pessoas ousadas, diminuir as distâncias que separam as pessoas inimigas e dividir exemplos positivos entre as pessoas negativas.

16. Gostaria de ganhar uma ponte ecumênica, edificada pelo idioma da tolerância, para que todos os religiosos, agnósticos e ateus possam cruzar, na democracia de seu próprio ritmo, o abismo igualmente legítimo das crenças e descrenças inerentes a cada povo e cultura.

17. Gostaria de ganhar a capacidade de poder sempre dialogar e aprender com cada momento vivido, morrido e ressuscitado de mim mesmo, ampliando percepções e ganhando experiências, inclusive junto a outras pessoas, que me possibilitem errar menos e ser mais.

18. Gostaria de ganhar um foguete para conseguir acessar os horizontes elevados e imponderáveis de mim mesmo e assim adquirir o discernimento que ainda me falta para separar, dentre outras dicotomias paradoxais, o supérfluo do necessário, a essência da aparência, o encontro da fuga, a vocação da alienação, bem como a plenitude da carência.

19. Gostaria de ganhar um freio para desacelerar a correria desnecessária e doentia das pessoas, como se vivêssemos todos em uma estressante maratona e não tivéssemos mais tempo e habilidade para contemplar e desfrutar, em câmera lenta, as belezas gratuitas e comoventes da natureza e os mistérios imprevisíveis e apaixonantes das relações humanas.

20. Gostaria de ganhar uma cesta gigante para sair escavando, colhendo, fermentando e devolvendo os ideais perdidos e as utopias abandonadas de todas as pessoas que se tornaram realistas, egoístas e inúteis demais.

21. Gostaria de ganhar um detector de mentiras, instalável sem burocracia na consciência de cada cidadão de bem, para que sejam impiedosamente desmascaradas todas as farsas semeadas ideologicamente nos livros oficiais e parciais de história, nas mídias prostituíveis e hipnotizantes do presente e nas voláteis promessas de futuro dos políticos inconseqüentes.

22. Gostaria de ganhar um bolo do tamanho da tragédia do Haiti para que cada vela dramaticamente apagada lá faça nascer, em proporções multiplicadas, uma criança mais solidária no mundo, capaz de se indignar com a gula desmedida de pouquíssimas pessoas que teimam em concentrar para si a enorme maioria das riquezas, propriedades, benefícios e oportunidades já nascidas e ou grávidas em cada labirinto intragável do planeta.

23. Gostaria de ganhar pequenas, eventuais e singelas participações nos fenômenos da natureza, mediante as seguintes performances principais: ser um pouco a gota da chuva que banha as tuas aventuras; ser um pouco o raio de luz que tateia teus caminhos; ser um pouco a nota de silêncio que povoa tuas reflexões; e ser também um pouco a partícula de energia que movimenta tuas atitudes.

24. Gostaria de ganhar uma vaga dentro do coração feminino de quem tenha coragem de me amar (e vice-versa), para que meus pensamentos racionais e sentimentos irracionais se tornem aliados e cúmplices um do outro.

25. Gostaria de ganhar uma tonelada de sementes de humanidade altruisticamente modificada para plantá-las no solo quase estéril - mas ainda recuperável - dos seres desumanos que matam, que roubam e que mentem; para não confessar as mil canalhices em pequena escala.

26. Gostaria de ser pelo menos um centímetro quadrado da folha biográfica de papel em branco que imprime e sintetiza, na superfície ao mesmo tempo caraquenta e cristalina de cada dia, os avanços e recuos, flores e espinhos, asas e algemas, regras e descompassos, certezas e dilemas, bem como as prosas e poesias de meus amigos, familiares e colegas de internet.

27. Gostaria de ganhar um cinema personalizado e portátil para exibir, sempre que eu desejar, as glórias de superação, as marchas de revolução, os banquetes de realização e as coreografias ensaiadas na contra-mão de todos os mestres, líderes e celebridades que souberam se apequenar diante da grandeza de seus liderados, discípulos e multidões anônimas.

28. Gostaria de ganhar a autorização do Banco Periférico Central para esculpir em todas as cédulas de dinheiro comercializáveis em todas as economias, gastanças e poupanças o seguinte alerta de negação máxima, “eu não sou Deus”, para que um dia as criaturinhas darwinianas (pré-macacóides e pós-capitalóides) entendam que o dinheiro, se for apropriado e administrado em doses neoliberais e excludentes, trará malefícios irreversíveis à dieta do umbigo e sobretudo à saúde do planeta, que poderá amanhã ser rebatizado para Enterra.

29. Gostaria de ganhar o prêmio da loteria proveniente daqueles que apostam que não faz sentido sermos individualmente felizes enquanto formos coletivamente tão infelizes.

30. Gostaria de ganhar suas múltiplias e contagiantes presenças: a presença de sua voz em minha música, de seu olhar em meu arco-íris, de seu espírito em minhas introspecções e de seu corpo em minha festa magma de aniversário de 30 anos para a qual estou convidando 30 amigos e amigas extraordinários(as).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

POEMITO XII: Versos em Grito

"Vestido de prosa,
Caminho,
Entre pedras racionais,
No céu emocional de mim mesmo,
Para me perder e desnudar-se em versos"

VEIA ESTOURADA do Poeta do Social

PS.: Mini poesia inspirada no Projeto140 (http://projeto140.blogspot.com), criado para divulgar e incentivar a poesia via twitter (@Projeto140 - Que poesia você está fazendo?)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

POESIA: Não Importa Se Voamos

NÃO IMPORTA SE VOAMOS

Levantem, cantem, enlouqueçam...
Esqueçam logo essa normalidade
(idiota, impotente, hipócrita, demente)
Que nos adoece, diminui, envelhece!

Coloquem a razão no fogo da emoção!
Deixem a sensibilidade ganhar asas
E os ideais invadirem as suas casas!
Façam do amor o lema de toda geração!

Arranquem os cabelos da maldade!
Ponham suas dúvidas de castigo!
Aposentem a egolatria do umbigo!
Ecoem ao infinito o grito da verdade!

A realidade é escrava dos sonhos.
A indiferença é o veneno da arte.
Xeque-mate para povos tristonhos:
A arte de sonhar veio nos salvar!

Enquanto o vento da ousadia passava,
Embarcamos nos sonhos e decolamos.
Quando a gente parava, tudo afundava;
Mas chegamos, não importa se voamos...

O medo aqui de cima não vale nada.
O preconceito aqui de longe é uma piada.
Onde estamos agora, a beleza é perfeita.
Fruto nenhum estraga mais a colheita.

Quanto mais escuro, maior é o muro.
Sem fé, qualquer topada machuca o pé.
O peso da cruz depende do fluxo da luz,
Da força interior que funda a exterior.

Se não fosse o roteiro da utopia,
Nenhuma noite alcançaria o dia.
Se o impossível fosse absoluto,
Viver seria relativamente um luto.

Somente com Deus o poeta duela
Na criação inexplicável de mundos
Onde o mistério dos versos profundos
E obras imponderáveis nunca se revela.

Enquanto o vento da ousadia passava,
Embarcamos nos sonhos e decolamos.
Quando a gente parava, tudo afundava;
Mas chegamos, não importa se voamos...

(Pablo Robles - POETA DO SOCIAL)

Em homenagem à minha primeira participação no sarau do Templo da Poesia