sábado, 28 de fevereiro de 2009

MENSAGEM: Morre Lentamente

MORRE LENTAMENTE - Por Pablo Neruda

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar,
morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoínho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante...

Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade.

Mensagens que Acordam Lágrimas

Há mensagens que acordam (num misto emocionado de indignação e esperança) as lágrimas mais preguiçosas do coração, da consciência. As palavras abaixo, inspiradas em Leonardo Boff e magistralmente concatenadas em formato de apresentação por "um peregrino", são a expressão viva do quanto ainda somos pequenos e involuídos.

Faço cintilar em meu blog a íntegra do texto contido nessa tocante apresentação (em .ppt), que espalhei por e-mail no dia 18 de fevereiro com os dizeres:

"Recuso-me a acrescentar uma vírgula a esta tocante mensagem, mas vale lembrar que não ouvi-la e não fazer nada significará impor um ponto final; não nessa frase, mas talvez em nossa abençoada mansão planetária.

Reflitamos e divulguemos, para o bem maior das gerações vindouras, essa mensagem de alerta, mudança e esperança.

(mensagem anexa em pps com som)

Pablo Robles

"Em tempos de humanidade desumanizada, de desordem sangrenta, nada deve parecer natural, porque nada deve parecer impossível de ser mudado" (Bertolt Brecht)"

Sem mais preâmbulos, vamos lê-la e refletir:

(Comentários esperançosos de Grito Pacífico, mudando o mundo com você)

TRANSCRIÇÃO DA APRESENTAÇÃO "FÓRUM_SOCIAL_2009"

Ser humano é lutar pela plenitude da vida (Frei Betto)

Um outro mundo é possível.

De 27 de janeiro a 1o de fevereiro de 2009, a cidade de Belém, Pará, sediou a nona edição do Fórum Social Mundial.

Um evento que contou com aproximadamente cem mil inscritos, provindos de mais de 160 países.

Representantes de movimentos sociais, de tradições religiosas e espirituais, ONGs, intelectuais solidários, universitários, estudantes, cidadãos do mundo.

A confluência das mais variadas lutas em prol da dignidade humana.

Cem mil mentes e corações em busca de caminhos para um outro mundo possível.
Um outro mundo possível, que comporte os sonhos da menina palestina e da menina brasileira.

Um outro mundo possível, onde sejam respeitados os direitos básicos da menina africana, da menina peruana,...
...e da menina afegã.

E dentre as tantas atividades realizadas durante o Fórum Social estavam as palestras proferidas pelo teólogo, professor e escritor Leonardo Boff.

Num dos encontros, cujo tema era “Diálogos com os movimentos de Juventude pelo Meio Ambiente ”, ele se reuniu especificamente com os jovens.

Estudantes, universitários, ativistas, sonhadores, em busca de um outro mundo possível.

A enorme tenda mostrou-se pequena para abrigar todos os interessados por ouvir as suas palavras.

Palavras de sabedoria, palavras de compaixão.

E iniciou a sua exposição, Leonardo Boff, falando sobre a crise financeira que assola o mundo.

US$ 15 trilhões de dólares evaporados em questão de poucos dias, levando consigo imensas corporações, grandes bancos e tradicionais fábricas.

E deixando para trás, em meio às frias estatísticas, as demissões em massa, o desemprego, a fome, o desespero, as lágrimas.

Uma crise que não assolou a periferia, mas o coração do império.

E lembrou-nos Leonardo Boff que as artimanhas sutis do capital procurarão se refazer.

Dirão - os economistas, as corporações transnacionais e os detentores do poder - que o capitalismo vive de crises, e que esta é mais uma crise cíclica.

E tentarão nos empurrar mais do mesmo, mais consumo, mais conflitos, mais individualismo...

Porém, a crise atual é terminal. O desafio não é remediar o que não tem conserto, mas buscar novas alternativas.

O sistema atual, regido pelo capital e pelas leis do mercado, que, em sua natureza, é voraz, acumulador, depredador do meio ambiente, criador de desigualdades e sem sentido de solidariedade, atesta a sua própria falência.

Um sistema onde a cada quatro minutos uma pessoa perde a visão, em decorrência da carência de vitamina A, declara o seu próprio fracasso.

Um sistema onde a cada cinco segundos uma criança com menos de cinco anos morre de fome ou desnutrição atesta a sua própria falência.

Um sistema que criou desumanos sofrimentos e gritantes desigualdades.

O sistema vigente, que tem como pilar um individualismo avassalador, demonstrou-se incapaz de assegurar o bem-estar da humanidade.

Um individualismo que se revela na linguagem cotidiana: O meu emprego, o meu salário, a minha casa, o meu carro, a minha família...

Um sistema onde ninguém é levado a construir algo em comum, onde a competição, o acúmulo e a ostentação predominam em detrimento da solidariedade, da caridade e da compaixão.

Um sistema onde as crianças aprendem tão cedo a conjugar o verbo comprar, mas que desconhecem o que seja compartilhar.

Um sistema que incentiva o consumismo inconsequente e desenfreado, e que tanto cultua os bens materiais.

Uma cultura que dissemina compulsão e consumismo, que associa o produto a um conceito de felicidade.

Um sistema que desconhece o amor, a caridade e a compaixão, e que se fez cego e surdo para o apelo do excluído, do necessitado.

O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.

Um sistema que por longas décadas alega não possuir recursos para promover a educação, a saúde e para aplacar a fome mundial, mas que tanto gasta com guerras, conflitos e com a indústria bélica,...

...e que se mostra capaz de mobilizar em poucas horas três trilhões de dólares para socorrer bancos, montadoras e corretoras, atesta seu próprio fracasso terminal.

Como foi que permitimos chegar a este ponto? Quanto tempo ainda haverá de passar até que resgatemos a nossa humanidade perdida?

Um punhado de farinha e água para enganar a fome, acrescido, nos dias de sorte, de um pouco de sal.

Além da crise financeira, nos deparamos também com a crise ambiental.

A falta de solidariedade que impera nas nossas relações sociais. E a falta de solidariedade para com a Natureza.

A ânsia pelo crescimento econômico, aliada ao consumismo compulsivo, resultou na dilapidação sem precedentes da Natureza.

O atual modelo econômico fracassou contra a própria humanidade e contra o planeta.

O bem-estar de todos e a preservação da Terra são sacrificados ao lucro de poucos.

O consumo inconsequente aumentou o desperdício, a produção de lixo, e os impactos ambientais.

E poluímos mares e rios...

O desenvolvimento técnico-científico, dissociado da consciência ecológica, fez com que saqueássemos os recursos naturais numa escala sem precedentes.

E a ruptura entre o trabalho e o cuidado fez com que o afã desmedido de produção se revertesse na ânsia incontida de dominação das forças da natureza.

Os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites, tanto da Terra quanto do capitalismo.

Já não mais podemos prosseguir com a perversa lógica do capital, baseada no acúmulo e no desperdício:

“Quem não tem quer; quem tem quer mais; quem tem mais diz que nunca é suficiente.”
A lógica do capital que tanto incentiva o supérfluo, a ostentação e o desperdício...

Imagem de celulares descartados, quase todos em perfeitas condições de uso. Somente nos EUA, 426.000 aparelhos são jogados fora diariamente, trocados por modelos mais novos.

E juntamente com os aparelhos vão-se embora também carregadores, baterias, acessórios...

Os atuais padrões de extração, produção e consumo, mostraram-se insustentáveis,...
...além da capacidade de reposição e regeneração do planeta.

A Terra está dando sinais inequívocos de que já não aguenta mais.

Sinais como a escassez de água potável, e o aquecimento global.

Sinais como as mudanças climáticas, que já começaram a afligir crescentes parcelas da população ao redor do planeta.

A Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada.

As crises financeira, climática, energética, alimentar e outras, - todas elas nos remetem para a crise do paradigma dominante.

Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades.

Projeções feitas por pesquisadores e cientistas ambientais mostram que, se o consumo continuar no ritmo atual, em 2050 precisaremos de dois planetas Terra.

Qual o mundo que iremos deixar para as próximas gerações?...

Qual o mundo que iremos deixar para as próximas gerações?...

Cultivar a solidariedade intergeracional, para com os que virão depois de nós.

Eles também precisam satisfazer suas necessidades, e habitar um planeta minimamente saudável.

Buscar novos valores. Alimentar novas esperanças.

Novos rumos, e novos paradigmas.

A interculturalidade, - o diálogo entre o chamado saber ocidental e o saber tradicional, milenar, a cosmovisão indígena.

As tradições dos povos nativos falam do ser humano como jardineiro.

Conforme ensinam tais tradições, o ser humano deve cultivar a Terra com cuidado e senso de justiça e estética.

A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é nosso dever sagrado.

Devemos lançar um novo olhar sobre a realidade, adotar um novo paradigma de relacionamento com todos os seres.

O universo caminhou 15 bilhões de anos para produzir o planeta que habitamos, essa admirável obra que nós, seres humanos, recebemos como herança, para cuidar como jardineiros, e preservar como guardiões fiéis.

Somos todos interdependentes uns dos outros, coexistimos no mesmo cosmos e na mesma natureza.

Uma mesma Fonte alimentadora, misteriosa e inominável, sustenta e confere vida a tudo que existe. O mesmo Sopro permeia toda a existência.

A vida é milagre, tão belo quanto curto, que deve ser cultivado como as flores mais belas.

Como nunca antes na história o destino comum nos conclama a buscar um novo começo.
Promover a ecologia do cuidado, que zela pelos interesses de toda a comunidade de vida. Coexistir com respeito, cooperação e harmonia com os demais moradores deste pequeno planeta, - animais, vegetais, seres humanos.

A interculturalidade, o encontro com outras tradições, outras culturas, enriquece a nossa visão do mundo e da vida.

Ter olhos para os que são diferentes. Ter ouvidos para a sua voz, as suas melodias, canções, histórias...

Habitamos todos uma Casa comum. Temos uma origem comum e, certamente, um mesmo destino comum.

As tantas flores, com suas cores e formas distintas. Diferenças superficiais, pois a terra que as nutre e sustenta é uma.

Um único Sopro as anima, conferindo-lhes significado, sentido e vida.
O desafio do tempo presente é o de resgatar as utopias esquecidas, reescrever o nosso sonho comum.

Um único Sopro, uma única Alma, uma mesma esperança.

E em meio à agitada rotina da vida moderna, encontrar tempo para refletir sobre perguntas metafísicas...

E em meio à agitada rotina da vida moderna, encontrar tempo para refletir sobre perguntas metafísicas...

Ter ouvidos para a voz que fala em nós, que nos convoca para a prática do bem...
...e que diante de uma noite estrelada nos pergunta:

“Quem sustenta e se esconde atrás daquelas estrelas?...”

A voz que, quando diante de um recém-nascido, com respeito e admiração pergunta:

“Quem foi que produziu esta vida?...”

“Onde é que, no olhar da criança, começa o céu e acaba a terra?”

O texto desta apresentação se baseia em palestra proferida por Leonardo Boff durante o Fórum Social Mundial, Belém, Pará, janeiro de 2009.

Para saber mais acerca do tema, acesse:
www.forumsocialmundial.org.br
www.leonardoboff.com.br

Tema musical: Unchained Melody, Righteous Brothers (versão instrumental)

Formatação: um_peregrino@hotmail.com

Um outro mundo é possível.

Sim, eu posso (me alfabetizar)

Não adianta reinventar a roda. Por mais que o tempo passe e reviravoltas de toda ordem modulem os ritmos civilizatórios do planeta, a educação continuará sendo a solução das soluções: o remédio mais eficaz, consistente e regenerador para os descalabros que assistimos nos quadrantes de um mundo que ainda abriga (pasmem) 774 milhões de adultos analfabetos, conforme o artigo abaixo noticia. O Brasil, diga-se de passagem, continua escorregando feio nesse quesito, e não é por falta de soluções disponíveis. Este inovador método cubano, altamente reconhecido e premiado pela Unesco, está multiplicando a dignidade social e o sabor cultural pela vida de vários países da América Latina. Seguindo-se a Cuba e Venezuela, Bolívia se tornou, no finalzinho de 2008, o terceiro país da região curado da chaga do analfabetismo. Parabéns ao protagonismo educativo e ao compromisso humanitário de Cuba!

SIM, EU POSSO

Por Iran Barbosa - 25/11/08

FONTE: http://www.pt.org.br/portalpt/index.php?option=com_content&task=view&id=72146&Itemid=201

Cuba sempre foi exemplo de solidariedade. A ajuda humanitária que presta a outros países nas áreas de saúde, educação, programas de cooperação energética e esporte, segue a linha do herói cubano Jose Martí: Pátria é Humanidade. E que Pátria mais humana tem sido Cuba!

Entre tantas ações humanitárias cabe destacar o método cubano de alfabetização de jovens e adultos "Yo sí, puedo!" (Sim, eu posso!), elaborado pelo Instituto Pedagógico Latino-americano y Caribeño (Iplac), de Cuba, com a finalidade de erradicar o analfabetismo da América Latina e que ganhou da UNESCO, em 2002, 2003 e 2006, o prêmio Rey Sejong. Esse prêmio foi instituído pela UNESCO em 1989 em prol da erradicação do analfabetismo no mundo.

O prêmio foi entregue a Cuba pelo "seu esforço em fazer progredir as possibilidades individuais das pessoas e o potencial da sociedade graças a método de ensino inovador utilizado com êxito em mais de 15 países, entre eles Equador e Venezuela".

O método lançado em 2002, no Haiti, está disponível em português, inglês, francês e espanhol e é adaptado às características sociais, culturais e lingüísticas de cada país, com base num estudo local da realidade social, econômica e cultural.

A proposta metodológica do Sim, eu posso! é constituída de encontros presenciais, em que o processo de ensino-aprendizagem é mediado pela utilização de tecnologias, como aparelhos de TV e vídeo. São 17 fitas, com 65 vídeo-aulas de 30 minutos cada que totalizam 32,5 horas de gravação. Em média são necessários 3 meses para o processo de alfabetização.

No caso do Brasil, todas as 65 vídeo-aulas (disponíveis em VHS e DVD) foram gravadas em português com atores brasileiros, entre eles Chico Diaz, o Átila, da novela A Favorita.

A aprendizagem ocorre pela correspondência entre números e letras, e acontece em três fases: exercícios de coordenação motora, ensino de leitura-escrita e consolidação. Também são utilizados vídeos metodológicos que orientam os monitores, sempre presentes, a conduzir o encontro para que os alfabetizandos aprendam com mais facilidade.

O método é baseado no amplo conhecimento prévio que as pessoas têm dos números, apesar de não saberem ler. A ligação entre número e letra constitui-se em elemento motivador e facilitador da aprendizagem em um curto espaço de tempo.

Outro facilitador do aprendizado é a utilização da multimídia, um eficaz recurso para garantir a percepção e o acúmulo de conhecimento. Isso porque os recursos multimídia estimulam mais sentidos que as simples mídias. A partir do momento em que a pessoa é estimulada em mais de um sentido, a capacidade de processamento e armazenamento das informações aumentam consideravelmente.

Paulo Freire, ao trabalhar materiais audiovisuais como slides, gravuras, foi um dos pioneiros na utilização da linguagem multimídia na alfabetização de adultos. A proposta pedagógica de Paulo Freire, segundo a qual o alfabetizando deve conhecer o texto e o contexto, em um processo dialético, manifesta-se no Sim, eu posso!.

Para os/as alfabetizandos/as, o método cubano é como uma telenovela, que os estimula a assistirem às aulas e retornarem no dia seguinte para assistirem ao "próximo capítulo".

Por ser uma eficaz, rápida e atrativa ferramenta para a alfabetização de jovens e adultos, o Sim, eu posso! está contribuindo, em diversos países, para alcançar, até 2015, uma melhoria de 50% nos níveis de alfabetização de adultos.

Esse é um dos seis objetivos do chamado "Compromisso de Dacar", fruto do Fórum de Educação para Todos, realizado em Dacar, Senegal, em 2000, com a participação de 164 países, entre eles o Brasil.

A Venezuela é um bom exemplo da eficácia do método, graças à utilização do Sim, eu posso! e ao esforço do Presidente Chavez e sua equipe, o país atingiu a meta da agenda de Educação para Todos (EPT), relativa à alfabetização de adultos, com 10 anos de antecedência.

Em 2003, a Venezuela tinha 1,5 milhões de analfabetos, em 28 de outubro de 2005, Nicolas Maduro, então Presidente do Congresso, na presença da representante da Unesco, María Luisa Jáuregui, assinou um Ato Congressional, declarando o país Território Livre de Analfabetismo.

Segundo o Relatório de Monitoramento Global Educação para Todos 2008, publicado anualmente pela UNESCO, há no mundo 774 milhões de adultos analfabetos, três quartos desses analfabetos concentram-se em 15 países, entre eles o Brasil.

Ainda conforme o Relatório de Monitoramento Global Educação para Todos 2008, as projeções das taxas de alfabetização de adultos, apesar de não serem elaboradas com dados muito atuais (os dados para a projeção 2015 da taxa de alfabetização do Brasil são relativos a 2004 e, no caso da Venezuela, ao Censo de 2001), colocam o Brasil no grupo de países em risco de não alcançar, até 2015, o objetivo 4 – alfabetização de adultos.

Conforme a última Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios – PNAD, o país permanecia, em 2007, com uma taxa de analfabetismo de jovens e adultos de dois dígitos – 10%. A redução em relação a 2006 foi de apenas 0,4%.

O PNAD também ressalta as desigualdades regionais. No Nordeste a taxa de analfabetismo é o dobro da média nacional, enquanto na Região Sul cai para 5,4%.

Além das desigualdades regionais existe uma distância enorme entre o meio urbano e rural e entre a população em geral e determinados segmentos sociais.

No caso específico dos pescadores/as artesanais, conforme dados do Sistema de Acompanhamento Estatístico-Gerencial do Seguro Desemprego/MTE, a taxa de analfabetismo chega a 42,96%.

O Brasil tem um grande desafio pela frente e sem dúvida a utilização do Sim, eu posso! pode contribuir muito para a redução das taxas de analfabetismo entre jovens e adultos, principalmente entre segmentos como o de pescadores, onde o método pode ser aplicado durante o período de defeso, que dura em média 4 meses, ajudando assim a reduzir a taxa de analfabetismo entre a categoria.

*Iran Barbosa é deputado federal (PT-SE), titular da Comissão de Educação e Cultura da Câmara e professor.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dom Hélder: um exemplo imorredouro

Quantas pessoas vocacionadas para a justiça social, de trajetória iluminada e legado inabalável, tiveram seus nomes preteridos ao Prêmio Nobel da Paz por motivo de campanhas caluniosas e difamatórias? Pois os militares e intelectuais coniventes da ditadura brasileira conseguiram abortar as quatro indicações (plenamente justas) recebidas por Dom Hélder Câmara. Apesar deste lapso, o mundo soube reconhecer, por inúmeras e categóricas vias, a grandeza deste religioso, cuja fé comungava inexoravelmente com a sede de justiça em favor dos oprimidos e excluídos. Deve-se a ele a coragem de denunciar em Paris, pela primeira vez, a prática de tortura contra presos políticos no Brasil. Ainda sob o clima do seu centenário de nascimento, o artigo abaixo corrobora os feitos deste meu conterrâneo cearense que depois foi brilhar em outra seara nordestina. Que a luz do seu exemplo continue acesa entre os católicos, religiosos em geral e demais cidadãos de bem!

(Comentários introdutórios de Grito Pacífico, mudando o mundo com você)

DOM HÉLDER CÂMARA: SINÔNIMO DE JUSTIÇA E PAZ

FONTE: http://www.antonioviana.com.br/2009/site/ver_noticia.php?id=53999

Por Messias Pontes - 04/02/2009

"Os amantes da justiça e da paz, em todo o mundo, e em especial no Nordeste brasileiro, comemoram com entusiasmo o centenário do cearense mais ilustre do século XX. Trata-se de Dom Hélder Pessoa Câmara, nascido em Fortaleza no dia 7 de fevereiro de 1909, décimo-primeiro filho de uma família de classe média.

Aquele menino pequeno e franzino entrou no Seminário Diocesano de Fortaleza com 14 anos de idade, sendo ordenado padre aos 22 anos, no dia 15 de agosto de 1931, com autorização especial do Vaticano, pois não possuía a idade mínima exigida. Desde cedo demonstrou interesse pelo trabalho com os mais humildes e excluídos da sociedade, tendo fundado, no mesmo ano da sua ordenação, a Legião Cearense do Trabalho, e, dois anos depois, a Sindicalização Operária Feminina Católica, que congregava as lavadeiras, engomadeiras e empregadas domésticas.

Em 1936, o padre Hélder transferiu-se para o Rio de Janeiro, dedicando-se às atividades apostólicas. Aos 43 anos foi ordenado bispo, sendo nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro no dia 3 de março de 1952. Em 27 de agosto de 1999, este extraordinário pequeno-grande deixou de respirar o ar poluído pela hipocrisia e pelo capitalismo, e foi buscar noutra dimensão o ar puro da verdade, da solidariedade, da justiça e da paz.

Estes dados iniciais, com todas as minúcias, destinam-se a um certo desembargador do Tribunal Regional do Trabalho, da 7ª Região, que disse não saber quem era Dom Hélder Câmara. Isto para justificar a injustificável retirada do nome daquele sacerdote do prédio anexo ao Fórum Autran Nunes, no Centro da capital cearense, para colocar o do seu pai já falecido, como ele desembargador. Indignada, a desembargadora Dulcina Palhano retirou-se em sinal de protesto. A reação de vários segmentos da sociedade foi tamanha que a decisão foi revogada pelo mesmo placar de quatro a três.

Dom Hélder foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), tendo destacada atuação no Concílio Vaticano II,oportunidade em que foi um dos propositores e signatários do Pacto das Catacumbas, que teve forte influência na Teologia da Libertação.

Ao chegar à capital pernambucana em 1964 para assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife, foi recepcionado por uma multidão, mas também por oficiais do 4º Exército que lhe apresentaram uma lista de religiosos – padres, freiras e leigos - que deveriam ser transferidos para bem longe. Ao receber a lista, Dom Hélder ironizou, afirmando que faltava um nome. Logo um general perguntou: mas quem? E ele respondeu: o de Dom Hélder Câmara.

Se os generais golpistas já olhavam para Dom Hélder com desconfiança, em função das suas posições progressistas e, principalmente o seu compromisso explícito com os excluídos da sociedade, a partir daquele momento passaram a odiá-lo, impedindo-o até de ter acesso aos meios de comunicação de massa para divulgar as suas mensagens durante todo o período ditatorial, encerrado em 15 de março de 1985. Mesmo as emissoras católicas em todo o País eram proibidas até de citar o seu nome.

Lembro-me bem de quando comecei a trabalhar no MEB-Fortaleza (Movimento de Educação de Base), no final da década de 1960. Havia um flanelógrafo ao lado do estúdio da Rádio Assunção Cearense com as determinações baixadas pelo diretor da emissora, radialista Geraldo Fontenele, onde se destacava a proibição de pelo menos citar o nome de Dom Hélder Câmara, Dom Antonio Fragoso (bispo de Crateús), Dom José Maria Pires, também conhecido por Dom Pelé por causa da sua cor (bispo da Paraíba) e até mesmo do general da ativa do Exército, o cearense Albuquerque Lima porque este era contra a ditadura militar. Porém a recomendação maior era para Dom Hélder.

Tive o privilégio de passar uma manhã de sábado com ele em Olinda, em 1970, levado pelo conterrâneo e amigo padre Oliveira Rocha, então vigário da paróquia de Jardim São Paulo, em Recife. Ele demonstrou estar feliz por receber um conterrâneo que comungava com ele da mesma luta pelas liberdades democráticas e por uma sociedade sem exploradores e explorados, sem analfabetismo, sem prostituição, sem fome, sem miséria, onde todos tenham o sagrado direito a todos os direitos, inclusive à informação sem manipulação.

Depois de muito tempo de conversa, Dom Hélder foi me mostrar a parede externa do quarto onde dormia, toda perfurada de balas de metralhadora. “Foram nossos irmãos equivocados do Exército, mas eles não me amedrontam. Eles já tiveram muitas oportunidades, mas não têm coragem de me matar por causa da repercussão internacional”, disse ele com um sorriso encantador. Aliás, o seu sorriso era sempre encantador. Ele conquistava as pessoas pelo coração e pelo sorriso. Era uma pessoa ímpar. Impressionante!

Ao exigir a abertura democrática no Brasil e denunciar, aqui e lá fora, os crimes da ditadura militar, os generais golpistas passaram a persegui-lo e até ameaçá-lo de morte. Sua casa em Olinda – a sacristia da igreja - foi metralhada em 1970 como forma de amedrontá-lo, mas Dom Hélder continuava mais firme ainda na defesa da democracia e dos direitos humanos.

Ele celebrava a missa diariamente pela manhã. Ao terminar, pedia ao sacristão que levasse para tomar café com ele os mendigos que estivessem por perto. Tratava-os todos comi irmãos e com muito carinho. Costumava dizer que “quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, mas quando pergunto pelas causas da pobreza, chamam-me de comunista”.

Pela sua incansável luta em defesa da justiça e dos direitos humanos, Dom Hélder teve seu nome quatro vezes indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz. No entanto foi preterido as quatro vezes em função das pressões dos militares colonizados e golpistas que se utilizavam de empresários venais e reacionários como o dono do jornal O Estado de São Paulo, Júlio Mesquita, que foi a Oslo pressionar o comitê designado pelo parlamento norueguês para retirar o nome do pequeno-gigante cearense dos concorrentes do Nobel da Paz.

Dom Hélder escreveu mais de uma dezenas de livros que foram traduzidos em diversos idiomas, entre eles o espanhol, inglês, francês, alemão, japonês, coreano, italiano, norueguês, sueco, dinamarquês, holandês e finlandês. Além disso, ele recebeu 32 títulos de Doutor Honoris Causa e 24 prêmios dos mais diversos órgãos internacionais, e 30 títulos de cidadania em municípios brasileiros. Se vivo fosse, certamente teria ido a Belém (PA) participar do Fórum Social Mundial.

Por toda sua luta em defesa da verdade, da justiça e da paz (sem justiça não há paz, costumava enfatizar), pelas perseguições sofridas e pela coragem com que enfrentou os “poderosos”, Dom Hélder Câmara merecia um monumento em cada cidade, em cada bairro deste País. Infelizmente somente a paróquia de Santo Afonso, no bairro Parquelândia, comandada pelo padre Geovane, ergueu uma estátua dele em frente à igreja.

A programação em Recife para comemorar o centenário de nascimento deste gigante amante da liberdade, da justiça e da paz é das mais extensas, compreendendo não só o 7 de fevereiro, mas todo o ano de 2009. A Prefeitura Municipal de Fortaleza e o Governo do Estado do Ceará - como bem disse em artigo publicado na semana passada no jornal O Povo o médico e ex-vereador por Fortaleza José Maria Pontes - estão devendo um memorial em homenagem a Dom Hélder Câmara na capital cearense.

Para homenagear a pessoa e as obras do Arcebispo Emérito de Recife e Olinda, a Arquidiocese de Fortaleza realizará no próximo sábado 7 uma Celebração Eucarística em comemoração aos 100 anos de nascimento do Dom na paróquia de Santo Afonso, na Parquelândia".

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Repúdio à infeliz "ditabranda" da Folha

Violência não se negocia, se relativiza e se revisa. A Folha de São Paulo, em editorial recente, prestou um péssimo desserviço aos leitores. Ao atenuar as mazelas da ditadura que aterrorizou o Brasil durante 21 anos, a Folha demonstra indisfarçável cumplicidade e insensibilidade frente a este capítulo infame de nossa história política. As profundas perdas que ficaram para trás e os vestígios dolorosos que sobreviveram não autorizam qualquer concessão nessa matéria. Enquanto finalizo este comentário, o manifesto eletrônico já conseguiu reunir mais de 2600 assinaturas virtuais. A minha foi a de número 2609. Participe também! Encerro com as palavras bem felizes de outro signatário: "Ao tentar esconder o seu passado no presente, a FOLHA DE SÃO PAULO consegue, no máximo, enterrar o seu próprio futuro".

(Comentários indignados de Grito Pacífico, mudando o mundo com você)

REPÚDIO À "DITABRANDA" DA FOLHA DE SÃO PAULO

FONTE: http://vermelho.org.br/base.asp?texto=51452 - 24/02/2009

Circula pela internet um manifesto [veja adiante], aberto à adesão dos interessados, de repúdio ao editorial da Folha de S. Paulo publicado na semana passada. Na ocasião, para desqualificar a vitória de Hugo Chávez num referendo democrático sobre a possibilidade da reeleição o jornal da família Frias escancarou toda a sua postura autoritária ao insinuar que o governo bolivariano seria pior do que a ditadura militar brasileira que prendeu, matou e torturou milhares de patriotas entre 1964-1984.

O asqueroso editorial chega a qualificar a ditadura brasileira de ''ditabranda''. Já em relação à Itália de Berlusconi que, com suas ''rondas de cidadãos'' e sua pretensão de que nos médicos delatem estrangeiros em situação irregular, transita perigosamente para o fascismo e a ditadura que o caracteriza, a Folha e seus notórios editorialistas calam-se significativamente. Será o fascismo também uma ''ditabranda''?

Além do repúdio, a petição também presta solidariedade à professora Maria Victoria Benevides e ao jurista Fabio Konder Comparato, os primeiros a condenarem o editorial na sessão de cartas do jornal, tendo sido insultados pela direção daquele jornal. ''Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de 'ditabranda'?'', questionou Benevides. ''O autor do vergonhoso editorial e o diretor que o aprovou deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça púbica e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada'', afirmou Comparato.

A resposta do jornal lembrou a reação de Bush, Cheney e Rumsfeld aos críticos de suas políticas terroristas. ''A Folha respeita a opinião dos leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas delas. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio às ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua 'indignação' é obviamente cínica e mentirosa''. Juntos, o editorial fascista e a resposta arrogante indicam a urgência da coleta de adesões ao manifesto de repúdio à Folha de S. Paulo.

Como afirma o documento, que já colheu mais de mil adesões, ''ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 64, os abaixo-assinados manifestam o seu mais firme e veemente repúdio a arbitrária e inverídica revisão histórica contida no editorial da Folha de S. Paulo de 17 de fevereiro. Ao denominar de 'ditabranda' o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país... O estelionato semântico manifesto pelo neologismo 'ditabranda' é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964''.

CONTEÚDO DO MANIFESTO DE REPÚDIO E SOLIDARIEDADE

FONTE: http://www.ipetitions.com/petition/solidariedadeabenevidesecomparat/index.html

Ante a viva lembranca da dura e permanente violencia desencadeada pelo regime militar de 1964, os abaixo-assinados manifestam seu mais firme e veemente repudio a arbitraria e inveridica revisao historica contida no editorial da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro de 2009. Ao denominar ditabranda o regime politico vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direcao editorial do jornal insulta e avilta a memoria dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratizacao do pais. Perseguicoes, prisoes iniquas, torturas, assassinatos, suicidios forjados e execucoes sumarias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no periodo mais longo e sombrio da historia política brasileira. O estelionato semantico manifesto pelo neologismo ditabranda e, a rigor, uma fraudulenta revisao historica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensao das liberdades e direitos democraticos no pos-1964.

Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a Nota de redacao, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro (p. 3) em resposta as cartas enviadas a Painel do Leitor pelos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fabio Konder Comparato. Sem razoes ou argumentos, a Folha de S. Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrarios e irresponsaveis a atuacao desses dois combativos academicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante as insolitas criticas pessoais e politicas contidas na infamante nota da direcao editorial do jornal.

Pela luta pertinaz e consequente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Fingi ser gari e fiquei invisível

Na sociedade em que vivemos, infelizmente, as pessoas valem pelo que tem e não pelo que são. A aparência alimentada pelo imaginário social dominante sobrepõe-se à essência que dignifica e singulariza nossa personalidade. Isso resulta em relações hipócritas, forjadas pelas conveniências do status quo. Quem tem pouco é como se não tivesse nada. Quem tem uma profissão popular é como se fosse inútil. Quem não ostenta uma boa imagem econômica é como se fosse um cidadão inferior e fracassado; ou pior, é como se não tivesse nome, como se não existisse para praticamente ninguém. Deveríamos, em vez de 8 anos, viver pelo menos 8 dias como gari (ou algo do gênero) para aprendermos a redescobrir o valor universal de toda pessoa humana.

(Comentários reflexivos do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)

"A vida é a soma de todas as suas escolhas" Até quando só tomaremos conhecimento do sofrimento alheio se passarmos pela mesma experiência?

TESE DE MESTRADO NA USP por um PSICÓLOGO. O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'

'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.

Plínio Delphino, Diário de São Paulo

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.

Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:

'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.

No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:

'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi.

Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?

Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?

Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real?

Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.

Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.

Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Hora da Mudança Chegou



É muito fácil elogiar ou criticar um evento da magnitude de um Fórum Social Mundial. O FSM de Belém pecou no quesito da organização. Isso é um fato incontestável que deve ser avaliado e corrigido. Entretanto, é preciso lembrar que o Fórum não é um ato isolado que ocorre timidamente uma vez por ano. Constitui um processo permanente, dinâmico e eminentemente plural de experimentação, reflexão e construção.

Um ponto alto do Fórum representou o encontro das principais lideranças progressistas da América Latina. Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo, Hugo Chavez e Lula entoaram a canção de uma nova América Latina, comprometida com a materialização de esperanças esmagadas pela tirania, conservadorismo e subserviência de governos que só enxergavam as elites e faziam vista grossa para tudo aquilo que emanava genuinamente do povo.

A presença destes cinco presidentes, longe do pedestal solene de seus pronunciamentos oficiais e compromissos governamentais, mostrou que, graças ao apoio popular e protagonismo civil representado pelo público ali reunido, “outros países” são possíveis. Ou seja, as maiorias sociais são capazes de eleger e sustentar representantes políticos à altura (em tese) de suas demandas nacionais, sonhos coletivos e projetos de soberania.

As questões ambientais foram debatidas com a relevância, abrangência e urgência exigidas pela complexidade do tema. A Amazônia, enaltecida pelo rastro exemplar de Chico Mendes, ganhou novo alento de preservação dentro da agenda internacional.

Os povos indígenas de diferentes recantos da América e do mundo encontraram ambiente privilegiado para realimentarem suas lutas históricas, compartilharem suas visões sustentáveis de mundo e projetarem seus paradigmas de bem-estar coletivo.

Os estudantes, acampados e congregados em abundância, puderam assistir in loco a aula viva e multicolorida da edificação social de outra realidade, capaz de lhes devolver o diploma da cidadania intelectual seqüestrado pela mercantilização da educação.

As mulheres, pulsando corações destemidos e encarnando almas sedentas por outras relações de gênero, de poder e de convivência, puderam fundir e alavancar, mais uma vez, os passos de sua marcha rumo a práticas de sociabilidade mais dignas e equânimes.

Já faz algum tempo que mudar o mundo deixou de ser uma idéia vaga, difusa e abstrata. Tornou-se necessidade cada vez mais imperiosa, concreta e inadiável. Os movimentos sociais e organizações progressistas da sociedade civil, legitimados pelas comunidades e grupos populares que embasam os processos de militância, são novamente chamados a catalisar e convergir suas melhores e mais ousadas energias para fazer jus ao espírito do Fórum.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

POESIA ESPECIAL: Semeando Outro Mundo


SEMEANDO OUTRO MUNDO*

Nossa vida é uma longa caminhada
Em busca de luz, amor, paz e justiça
Para que todo suor e lágrima mortiça
Purifiquem a fé e o sangue da jornada.

Outra sociedade só depende de nós.
Cada grupo, movimento e organização
É uma ponte de utopia em transição
Para um mundo gerido por nossa voz.

Ou suicidamos ou mudamos o mundo,
Ou destruímos ou salvamos a natureza;
Ou priorizamos as pessoas e sua beleza,
Ou o futuro cairá num abismo sem fundo.

Viva o processo do Fórum Social Mundial,
Convidando pessoas de toda raça e local
Para derrotar as barbáries do capitalismo
E refundar as bases do bem-estar coletivo.

Um novo Sol já pulsa forte no horizonte,
Impedindo-nos de temer, recuar, hesitar.
Chegou a hora desta articulação gigante
Aprofundar os rumos que devemos trilhar.

Uma nova canção emana de toda direção,
Mobilizando a consciência de cada cidadão
Para um projeto de civilização bem diferente,
Pois o modelo vigente está falido, decadente.

A economia entrou novamente em letargia
Por conta de um sistema egoísta e doente.
A exploração da Amazônia é preocupante,
Ameaçando sua biodiversidade noite e dia.

Pobre Afeganistão, triste Iraque, oh Palestina
Quem será a próxima vítima desta carnificina?
Haja Obama para tirar os EUA de tanta lama,
Apodrecida pelo ódio que em vão se derrama.

Sigamos em frente, multiplicados pelo amor
Que emoldura o sorriso poético da esperança!
Abençoado seja o teu tijolo diário de militância,
Entregue à tarefa de converter espinhos em flor!

( Poeta do Social - Pablo Robles )

*Em homenagem ao Fórum Social Mundial 2009 em Belém