sexta-feira, 16 de novembro de 2007

DESABAFO: Globalização da Loucura


Mundos incontroláveis e imcompreensíveis se confundem, se sucedem , se desorganizam e se reajustam dentro de mim.

Uma legião de ideais se exilou do bom senso e não consegue achar o caminho de volta para a realidade, especificamente para uma realidade onde as utopias são geralmente mal-vindas e desacreditadas. Os livros são um dos poucos companheiros que me entendem, me libertam, me desafiam e me protegem.

Minha mente atormentada, meu coração volúvel e meu espírito inquieto não conseguem se adaptar, se enquadrar e se converter às rotinas dogmáticas de um mundo onde assassinatos são tão banais quanto espirros, onde pessoas supostamente humanas mudam de caráter tão levianamente como se trocassem de roupa.

Nos labirintos da vida, vou vagando em busca de caminhos que agreguem sentido, coerência e encanto ao que sou, ao que penso e ao que faço; porém quase sempre sou espremido por convenções, fantasias e exigências que só me levam ao vazio do nada ou ao vácuo do absurdo.

As palavras precisam ser calculadas, as decisões devem ser racionalizadas e os passos têm que ser medidos; enfim, quase tudo é socorrido obsessivamente pela lógica, elevada n vezes a outras lógicas... Oh, mundos loucos!

Quero desaparecer por instantes deste mundo objetivo que me sufoca para poder resgatar a totalidade de minha plenitude subjetiva que parece ter se escondido em outra dimensão. Quero ser eu mesmo neste mundo que despersonaliza identidades, padroniza valores e manipula “revoluções” ideológicas.

Enquanto isso, Deus deve estar lá, exercendo sua soberania universal, vendo sua "platéia" brincar, brigar, se perder, se achar; num comércio interminável de intrigas, disputas, vaidades, egoísmos: é a sutil e paralela globalização da loucura.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

MÚSICA: Queria Morar Numa Favela

Letra: O Resto Do Mundo (Gabriel Pensador)

"Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela O meu sonho é morar numa favela Eu me chamo de excluido como alguém me chamou Mas pode me chamar do que quiser seu dotô Eu num tenho nome Eu num tenho identidade Eu num tenho nem certeza se eu sou gente de verdade Eu num tenho nada Mas gostaria de ter Aproveita seu dotô e dá um trocado pra eu comer...Eu gostaria de ter um pingo de orgulho Mas isso é impossivel pra quem come o entulho Misturado com os ratos e com as baratas E com o papel higiênico usado Nas latas de lixo Eu vivo como um bicho ou pior que isso Eu sou o resto O resto do mundo Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou... Eu num sou ninguém Eu tô com fome Tenho que me alimentar Eu posso num ter nome mas o estômago tá lá Por isso eu tenho que ser cara-de-pau Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal Tenho que me rebaixar a esse ponto porque a necessidade é maiordo que a moral Eu sou sujo eu sou feio eu sou anti-social Eu num posso aparecer na foto do cartão postal Porque pro rico e pro turista eu sou poluiçãoSei que sou um brasileiro Mas eu não sou cidadão Eu não tenho dignidade ou um teto pra morar E o meu banheiro é a rua E sem papel pra me limpar Honra? Não tenho Eu já nasci sem ela E o meu sonho é morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela O meu sonho é morar numa favela A minha vida é um pesadelo e eu não consigo acordar E eu não tenho perspectivas de sair do lugar A minha sina é suportar viver abaixo do chão E ser um resto solitário esquecido na multidão Eu sou o resto O resto do mundo Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto do mundo Eu num sou ninguém Eu num sou nada Eu num sou gente Eu sou o resto do mundou sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto Eu num sou ninguém Frustração É o resumo do meu ser Eu sou filho da miséria e o meu castigo é viver Eu vejo gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho umachance Deus! Me diga por quê? Eu sei que a maioria do Brasil é pobre Mas eu num chego a ser pobre eu sou podre! Um fracassado Mas não fui eu que fracassei Porque eu num pude tentar Então que culpa eu terei Quando eu me revoltar quebrar queimar matar Não tenho nada a perder Meu dia vai chegar Será que vai chagar? Mas por enquanto Eu sou o resto O resto do mundo Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto do mundo Eu num sou ninguém Eu num sou nada Eu num sou gente Eu sou o resto do mundou sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto Eu num sou ninguém Eu num sou registrado Eu num sou batizado Eu num sou civilizado Eu num sou filho do Senhor Eu num sou computado Eu num sou consultado Eu num sou vacinado Contribuinte eu num sou Eu num sou comemorado Eu num sou considerado Eu num sou empregado Eu num sou consumidor Eu num sou amado Eu num sou respeitado Eu num sou perdoado E também sou pecador Eu num sou representado por ninguém Eu num sou apresentado pra ninguém Eu num sou convidado de ninguém E eu num posso ser visitado por ninguém Além da minha triste sobrevivência eu tento entender a razão daminha existência Por quê que eu nasci? Por quê tô aqui? Um penetra no inferno sem lugar pra fugir Vivo na solidão mas não tenho privacidade E não conheço a sensação de ter um lar de verdade Eu sei que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigo Mas eu queria morar numa favela amigo Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela O meu sonho é morar numa favela."

MENSAGEM: Nossa Luz x Nosso Medo

Discurso de Posse de Nelson Mandela

[...]
"Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados para o cargo.
Nosso medo mais profundo é que sejamos excessivamente poderosos.
É nossa luz, e não nossas sombras, que nos amedronta.
Perguntamos a nós mesmos, quem somos nós para sermos brilhantes, maravilhosos, talentosos, fabulosos?
Na verdade, quem não devemos ser?
Vós sóis filhos de Deus.
Ser humilde nos atos em nada serve ao mundo.
Nada há de iluminado em retrair-se para que os demais não se sintam inseguros em vossa presença.
Nascemos para tornar manifesta a glória de Deus que está em nós.
Não apenas em alguns de nós, mas em todos nós.
E na medida em que deixamos nossas luz brilhar, inconscientemente damos aos demais permissão para que façam o mesmo.
Na medida em que nos libertamos de nossos medos, nossa presença liberta automaticamente os demais."
[...]

FONTE: A Return to Love, de Marianne Williamson in
O Poder do Foco (Ed. Best Seller - pg. 195)

COMENTÁRIOS: Uma Sociedade à Deriva


Uma Sociedade à Deriva: "carro-trabalho-Tv"

Livro: UMA SOCIEDADE À DERIVA: ENTREVISTAS E DEBATES – 1974-1997

( Cornelius Castoriadis, Ed. Idéias e Letras, 310 p. – Ano 2006, São Paulo )

[...] PG. 16 >

Que é o projeto de autonomia individual e coletiva?

É o projeto de uma sociedade onde todos os cidadãos têm a mesma possibilidade efetiva de participar da legislação, do governo, da jurisdição e por fim da instituição da sociedade. Esse estado de coisas pressupõe mudanças radicais nas instituições atuais. É nesse sentido que pode ser chamado de projeto revolucionário, subentendendo-se que revolução não significa massacres, rios de sangue, o extermínio de chouans ou a tomada do palácio de Inverno. É claro que esse estado de coisas está muito longe do sistema atual, cujo funcionamento é essencialmente não democrático. Nossos regimes são equivocadamente chamados democráticos, quando na verdade são oligarquias liberais.

Como esses regimes funcionais?

Esses regimes são liberais: não recorrem essencialmente à coerção, mas a uma espécie de semi-adesão indolente da população. Esta acabou finalmente sendo penetrada pelo imaginário capitalista: a finalidade da vida humana seria a expansão ilimitada da produção e do consumo, o suposto bem-estar material etc. Em conseqüência disso, a população fica totalmente privatizada. O slogan metrô-trabalho-cama [métro-boulot-dodo] de 1968 transformou-se em carro-trabalho-Tv. A população não participa da vida política: votar uma vez a cada cinco ou sete anos em alguém que não se conhece, sobre problemas que não se conhece e que o sistema faz tudo para impedir que você conheça não é participar. Mas para que haja uma mudança, para que haja realmente autogoverno, é decerto preciso mudar as instituições para que as pessoas possam participar da direção dos assuntos comuns; mas também é sobretudo preciso que mude a atitude dos indivíduos com relação às instituições e à coisa pública, a res publica, o que os gregos chamavam ta koina (os assuntos comuns). Pois, hoje, dominação de uma oligarquia e passividade e privatização do povo são apenas os dois lados de uma mesma moeda.

<>

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

DESABAFO: Indicadores do Absurdo


A cada dez indicadores (índices, parâmetros, estatísticas) revelados pelo mundo (parcial ou imparcial? adivinhe!) da mídia, pelo menos oito dados veiculados não tem nada a ver com nossas vidas imediatas, concretas e cotidianas. Tratam de códigos, jargões, hieroglifos de uma linguagem econômica distante, globalizada e muitas vezes especulativa. Assistindo o jornal por dez minutos, rapidamente percebemos a superficialidade de seus conteúdos sociais.

Em vez de informarem a dança desafinada do dólar, as totalizações difusas do PIB, o nervosismo paranóico das bolsas de valores, por que não denunciam o abismo estonteante das desigualdades, os sintomas indigestos da fome e o vício criminoso das corrupções? A maioria não está efetivamente preocupada em saber se a taxa Selic (relacionada aos juros) estacionou, escorregou ou levitou em tal período, muito embora ela deva ser baixa e competitiva.

A maioria quer saber em que planeta são gravadas as novelas da grande mídia, cujas personagens estão quase sempre bem vestidas, comem preferencialmente do bom e do melhor, andam de carro com a maior facilidade, muito raramente aparecem lendo, têm o hábito frequente de trairem seus pares conjugais e praticamente nunca expoem e debatem seus ideais coletivos. Sem falar da publicidade consumista que impesta o intervalo das programações.

A poucos metros da casa onde felizmente moro, não é difícil ver pessoas sem dinheiro, sem esperança, sem cidadania, sem teto, sem ocupação e sem tantas outras coisas essenciais para terem uma vida digna, autônoma e minimamente feliz. Essas pessoas não são simplesmente números resultantes de equações econômicas. São pessoas querendo ser gente, tentando sobreviver a cada dia e desejando ser reconhecidas (por que não?) como seres humanos.

MENSAGEM: O Líder do Século XXI


“Procura-se alguém que não tenha medo de mudanças;
Alguém que seja capaz de se auto-motivar;
Que se veja como um educador;
Alguém que não se contente com o que sabe e que queira sempre aprender mais;
Que entenda que o mundo todo está em seu próprio quintal;
Que seja um criador de oportunidades e que saiba aproveitá-las;
Alguém que seja um “empoderador” de empresas e pessoas;
Alguém que se incomode e não se acomode;
Que tenha visão;
Que saiba planejar;
Que lide bem com o imprevisível;
Procura-se alguém que perceba que vive em uma comunidade e que se preocupe com ela;
Que se encante com o que faz;
Que seja competente sem ser prepotente;
Alguém que questione tudo ao seu redor, principalmente sua vida e seu trabalho;
Que tenha respeito por si mesmo e pelos outros;
Que seja criativo e que use sua criatividade para solucionar problemas “insolúveis”;
Procura-se alguém que aprenda com todos sem preconceito;
Alguém que tenha ótimo humor;
Que acorde de manhã e veja um dia cheio de possibilidades pela frente;
Alguém que dê vida a tudo que faz ...

... Procura-se o Líder do Século XXI

Fonte: Apostila "As Novas Dimensões da Liderança" (2000)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

COMENTÁRIOS: Quando Nietzsche Chorou


LIVRO “QUANDO NIETZSCHE CHOROU”: CITAÇÕES COMENTADAS

1. “Eu tenho um porquê de viver e posso enfrentar qualquer como.”

Quando encontramos sentido para a vida nos fortalecemos para as dificuldades. Os pequenos fracassos tornam-se suportáveis em nome das grandes vitórias.

2. “Normalmente, o que não é perguntado é a pergunta importante.”

Isso mostra a força reveladora do silêncio, precisamente do silêncio sincero, pois a renúncia das palavras nem sempre confere legitimidade ao silêncio.

3. “Os pensamentos são as sombras de nossos sentimentos: sempre mais escuros, vazios e simples.”

Ao contrário desta afirmação, nossa sociedade ocidental supervaloriza o intelecto, a razão, o pensar; e subestima as emoções, a intuição, o sentir.

4. “De que serve um livro que não nos transporta além de todos os livros?”

Quem dera se tudo aquilo que lêssemos provocasse um efeito transcendental em nossas vidas, mas é preciso também que estejamos abertos a tal perspectiva.

5. “O importante é a coragem de sermos nós mesmos.”

Assumir nosso próprio e único “eu” perante a ingerência e multiplicidade de todos os “outros” não é uma tarefa fácil e requer de fato uma atitude corajosa.

6. “Não se ama ninguém: ama-se na verdade as sensações agradáveis que tal amor produz. Ama-se o desejo e não o desejado.”

É possível dissociar o desejo do desejado? O desejo em si, sem o desejado, não se tornaria algo abstrato, metafísico, esvaziado, e, portanto, incapaz de agradar?

7. “A melhor árvore ascende às maiores alturas e mergulha as raízes mais fundo.”

Uma boa metáfora para evidenciar as dimensões proporcionais da evolução, alertando que a expansão do crescimento exterior exige a devida profundidade interior.

8. “São pensamentos ociosos... não é um planejamento.”

É difícil distinguir um pensamento aparentemente ocioso de algo deliberadamente planejado. Não seria uma questão de conteúdo, mérito e alcance do planejamento?

9. “Sonho com um amor em que duas pessoas compartilham uma paixão de buscar juntas uma verdade mais elevada. Talvez seu nome real seja amizade.”

O amor, nessa acepção, seria a radicalização por excelência da amizade. Seria a amizade partilhada em toda a sua plenitude, magia e expressão.

10. “Morra no momento certo! Viva enquanto viver! A morte perde seu terror quando se morre depois de consumida a própria vida!”

Se não fizermos jus à própria vida, a morte pode nos matar ainda em vida. Todo instante vivido antes da morte deve estar repleto de vida e desprovido de morte.

FONTE: “Quando Nietzsche Chorou”, de Irvin D. Yalon, pela ed. Ediouro.

domingo, 4 de novembro de 2007

REFLEXÃO: Duas Dimensões Formativas

REFLEXÃO ENVIADA A UM AMIGO SEMI-CONCLUDENTE

Aprendi que temos que lidar sempre com duas dimensões formativas em nosso desenvolvimento humano. Uma mais medíocre: a do professor que finge que ensina e o aluno finge que aprende; a do superior que finge que administra e o subordinado finge que é gerenciado; enfim, formações que na verdade nos deseducam, nos deformam, nos apequenam, nos nivelam por baixo; onde somos levados muitas vezes a não-pensar, a não-questionar, a não-criar, a não-transformar etc. Por outro lado, vez por outra, nos deparamos com professores, gestores e demais agentes formadores de opinião, que não têm medo de ser desafiados, ultrapassados; muito pelo contrário, veêm academicamente no discípulo e profissionalmente no aprendiz a oportunidade compromissada e gratificante de influir coscienciosamente na formação autônoma e soberana de pessoas, cidadãos e executivos melhores para o mercado, para a sociedade e para todo o mundo. Neste segundo caso, somos nivelados por cima, somos agigantados, não somos proibidos a falar de sonhos e nossos potenciais não são atrofiados e jogados no lixo da inércia.

PENSAMENTOS: Dez Frases Próprias (I)

  1. “O sucesso de um projeto coletivo pode ser medido pelo tamanho dos sonhos daqueles que estão individualmente implicados em sua realização”.
  2. “Falar com pouco brilho e agir com muito medo: eis os sintomas inegáveis da insuficiência de vida e excesso de morte”.
  3. “Enquanto a maioria hesita se vale a pena tentar, uma minoria não perde tempo: erra, erra de novo, e ao longo de diferentes erros, aprende cada vez mais a acertar”.
  4. “Quando nos predispomos a conversar humanamente com alguém, a tirania dos interesses jamais consegue se sobrepor à democracia da amizade”.
  5. “O amor, quando pleno, também ama o não-dito, o não-beijo, o não-pensar, mas nunca o não-sentir”.
  6. “Que o tempo que avança no futuro lhe aproxime cada vez mais dos sonhos do passado, tornando seu presente mais feliz”.
  7. “As corrupções são filhas das grandes hipocrisias, as quais por sua vez descendem das pequenas mentiras”.
  8. “O sorriso é a lágrima pelo avesso, é a linguagem menos planejada e mais poética da amizade”.
  9. “Viver sem amor é tão fatal para a alma quanto respirar sem oxigênio o é para o corpo”.
  10. “São as lições de uma vida sem sentido que abrem caminho para o sentido da vida”.

CONTO: Esperança do Dia


Acordei mais cedo do que deveria, porém mais disposto do que merecia. O sol ainda bocejava sem pressa, anunciando um novo dia com raios de luz eficientemente preguiçosos e gradativamente fecundos.

Ao abrir a varanda de meu apartamento para cumprimentar os primeiros clarões da manhã e ser retribuído com os sussurros refrescantes do vento, tive que desviar o caminho habitual para a cozinha a fim de desligar o meu som, cansado de tocar a noite toda sem audiência.

Meia hora depois, me despedia do lar em direção à parada de ônibus. Era uma segunda-feira e o trabalho me chamava para o despertar da rotina semanal. Costumo ficar lendo alguma coisa até meu ônibus chegar.

Para não cansar a vista nem forçar o cérebro, nessas ocasiões priorizo romances leves, fluidos e envolventes, mas nesse dia, ainda que estivesse atento o suficiente para folhear obras mais densas, reflexivas e eruditas, optei por ler algo diferente, encantadoramente vivo e real.

Durante quinze minutos, meus olhos e demais sentidos se deixaram hipnotizar por uma poesia feminina, atraente e misteriosa: uma mulher cujos versos corpóreos rimavam perfeitamente com a beleza de seu rosto, iluminado por olhos que pareciam oscilar em tons de arco-íris.

Quanto mais eu a contemplava, mais ela se exibia. Li, sonhei e reli em todos os ritmos e direções possíveis as páginas desse espetáculo literário, saboreando seus conteúdos com devotada sensibilidade.

Antes do relógio do meu celular indicar que já estava na hora do meu ônibus passar, precisava transformar aquele poema à distância no princípio de um romance consubstanciado por nós dois; capaz de me transportar para lugares e experiências bem mais prazerosas, imprevisíveis e marcantes.

Precisava decifrar o nome e sobretudo o telefone dela. Enquanto ela se recolhia no canto da parada para analisar vaidosamente se eu era digno das respostas, meu ônibus me puxou. Antes de seguir viagem para puxar outros passageiros, eu só consegui ouvir uma resposta: - Sou a Esperança do Dia.

ARTIGO: Somos Elos de Redes

Habitamos e tecemos uma rede de redes que se entrelaçam, interagem, se sustentam e funcionam de maneira sistêmica. É o paradigma da abordagem sistêmica, que encerra um dos segredos mais brilhantes de todo o universo, servindo inclusive para demonstrar porque nada acontece por acaso. Para fins didáticos, consideramos que estas complexas redes fundamentam-se em cinco elementos: contatos, mensagens, relações, processos e condições.

Os contatos constituem os pontos, nós, entes ou posições que simbolizam fisicamente os sujeitos da(s) rede(s), tais como as pessoas, as instituições e os projetos, dentre outras categorias a serem focalizadas conforme o referencial de análise.
Tais contatos, em termos gerais, distinguem-se por dois critérios: o nível de acessibilidade e as perspectivas de contribuição. Ambos, numa escala gradativa e bem mais concreta, podem ser classificados com base em cinco sub-critérios: diretos ou indiretos; efetivos ou potenciais; estáveis ou instáveis; grandes ou pequenos; e formais ou informais.

As mensagens correspondem ao patrimônio próprio e dinâmico de cada contato, englobando os valores, objetivos, saberes, experiências, atitudes, vocações e demais aspectos pertinentes. As relações consistem nos atos de envio, recepção e intercâmbio de mensagens entre os contatos, quer tais comunicações ocorram de forma tangível ou intangível.

O poder de influência, repercussão e multiplicação das mensagens transmitidas nestas relações depende de fatores como o auto-conhecimento, o grau de sistematização, a confiança coletiva, as crenças auto-motivadoras, a cultura de aprendizagem, a habilidade interpessoal, a competência profissional e a estrutura objetiva dos contatos envolvidos.

Os processos caracterizam as relações construídas e mantidas a partir de fluxos coordenados e convergentes, visando à consecução de finalidades e resultados específicos. Quanto maior a complexidade, a prioridade e o investimento atribuídos a tais processos, maior deve ser o domínio da arte e ciência requeridos para desenvolvê-los com sucesso.

As condições equivalem aos fenômenos, variáveis e conjunturas de ordem visivelmente incontrolável sob marcos temporais e espaciais delimitados, que permeiam o ambiente das redes e são capazes de influenciar de modo positivo ou negativo os seus elementos. No entanto, todas as condições boas ou ruins produzidas pelas civilizações, nações e sociedades podem ser historicamente enfrentadas e alteradas pelas próprias gerações humanas.

ARTIGO: O Desafio da Militância

Cada pensamento, cada decisão e sobretudo cada atitude tomada pelo ser humano é uma oportunidade única de influenciar o mundo e de ser influenciado por ele, uma vez que toda relação é necessariamente dialética, ou seja, mutuamente transformadora.

Se me fosse possível resumir a grandeza da vida em poucas palavras, eu diria com a convicção mais inabalável que “nada é por acaso”. Do ponto de vista de nosso papel dinâmico frente aos processos sociais, este princípio assume visível relevância.

Isso significa, numa perspectiva sistêmica, que os objetivos, desafios e dilemas sociais de cada pessoa interferem ativamente nos rumos globais e históricos da existência, por menor que seja o impacto específico desta interação no âmbito mais geral.

Nesse sentido, a identificação com a causa das ONGs e movimentos sociais, na medida em que reforça a autonomia dos cidadãos envolvidos, revela-se bastante eficaz. Por outro lado, as exigências econômicas de sobrevivência precisam ser respeitadas.

A busca legítima de um conforto material e a expectativa fraternal da construção familiar são tendências naturais em nossa cultura civilizatória. O problema começa a se instalar quando os impulsos individuais ignoram os valores do bem-estar coletivo.

A miséria, a injustiça, a violência, o analfabetismo, o desemprego, a opressão, a corrupção, dentre outras graves imperfeições presentes em nossa face terrestre, merecem ser radicalmente identificadas, combatidas e extirpadas de nossa humanidade.

Tendo em vista que os governos e as empresas não conseguem resolver, por si só, a imensidão destes problemas, considero que o terceiro setor constitui uma alternativa concreta, estratégica e necessária de atuação e desenvolvimento social.

Onde a esfera estatal não chega e onde a iniciativa privada não prioriza, multidões anônimas de mentes e corações são capazes de se mexer, se organizar e se articular para afirmar sua identidade, reivindicar seus direitos e materializar suas utopias.

A mídia atrapalha muito e ajuda pouco. A religião às vezes se omite. Os partidos necessitam de coerência. A ciência pensa demais e sente de menos. As escolas e universidades poderiam se comprometer mais. A arte e a literatura também.

Se os sofrimentos da maioria te comovem e a alegria do teu vizinho prolonga o teu sorrir; então vamos mudar, vamos agir. Vamos renovar a poesia da esperança na militância de cada dia. Você não está sozinho na busca engajada de um outro caminho.

Teu trabalho ético, tua formação responsável, tuas leituras conscientes, tuas intervenções construtivas, tuas palavras solidárias, inclusive teu silêncio edificante, podem, em qualquer lugar e circunstância, estar a serviço de uma sociedade melhor.

Tudo que você diz, propõe e faz é importante, principalmente quando tua intenção está sintonizada com os anseios legítimos da população. Não confunda realismo com conformismo. O pior defeito é achar que os absurdos do mundo não têm conserto.

DESABAFO: Desdobramento de Gritos


Grito porque existo. Existo porque grito. Um grito detonado pela indignação histórica e universal de outros gritos. Um grito simplesmente pacífico, é verdade, mas nem por isso menos revolucionário. Um grito emaranhado de sentidos, com ou sem absurdos. Gritos de natureza própria, racionalizados pelos sentimentos de cada estação; ora ensolarados por sorrisos, ora nublados por lágrimas. Gritos que preferem se publicar ao invés de se calar, intercalados pelo silêncio militante que dialoga com a essência utópica de todos nós. Gritos que mais parecem sussurros vazios frente aos ouvidos omissos de consciências insensíveis. Gritos ensopados de amor, apimentados pelo sangue da justiça que fervilha nas veias rebeldes de cada palavra serena. Gritos que passeiam com seriedade na rede virtual de protestos reais. Gritos que plantam reflexões e colhem transformações; desenraizando velhos paradigmas e fermentando novas atitudes. Gritos tocados por convicções, inspirações e expressões tridimensionalmente retocadas pelo fluxo dialético de ações e reações.