segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

POESIA: Reagir ou Submergir

REAGIR OU SUBMERGIR


Quem vai enxugar o pranto de angústia
Da família pobre, entregue à própria sorte?
A bússola do bem travou e perdeu seu norte?
A simplicidade sincera foi vencida pela astúcia?

Todo mundo quer ser feliz, encontrar seu Sol,
Mas ignora a miséria que escorre sob o nariz.
A oportunidade ressurge e nos joga seu anzol,
Mas a cegueira continua: estreita, nua, deletéria.

Enquanto alguns lutam para sobreviver a cada dia,
Outros se especializam na arte de roubar e mentir.
E a Justiça nada faz, sob a anestesia de sua apatia.
Uns com licença para matar; outros, nem para sorrir.

É fácil criticar e sair espalhando que falhamos,
Mas cadê as soluções, ôhhh tal Poeta do Social?
Qualquer mudança exige uma profunda revisão moral
Sem a qual é melhor enterrar tudo em que acreditamos.

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

( Como sobremesa poética, encerro minhas postagens artísticas de 2010 com algumas reflexões que nunca conseguem se calar: O que podemos fazer para melhorar e mudar o mundo? Que tipo de felicidade buscamos e merecemos? Quando a justiça estará a serviço dos que precisam dela? )

POESIA: A Mudança Somos Nós




A MUDANÇA SOMOS NÓS

Quanta vida temos para explorar
Nas estradas de nossos corações!
Quantas lágrimas podemos derramar
Das mais lindas e sensíveis canções!

Aqui estamos juntos para celebrar
A luz do amor coletivo e cristalino,
Através da qual a justiça pode reinar,
Consagrando-nos a felicidade como destino.

Quando as ciências terão mais decência
E farão as pazes com a humanidade,
Para que o discernimento da realidade
Nos liberte do egoísmo e da violência?

Nosso planeta padece de graves crises:
Econômicas, ambientais, sociais, espirituais.
A ambição material nos levou longe demais.
Haja solidariedade para superar tais reveses!

Se não fosse a esperança, já teríamos afundado.
Só avança pra frente quem sabe olhar pro lado,
Se indignando com a miséria e os povos excluídos,
Das ruas escancaradas aos morros escarpados.

Precisamos revolucionar, sem vaidades e adiamentos,
Nossos olhares, atitudes, relações, buscas e valores;
Estendendo a todos os lugares e em todas as cores
Nossos sonhos, virtudes, reflexões, saberes e talentos.

( Poesia lida no "Natal na Estrada" da Delegação Cearense que participou da Expocatadores 2010, Encontro de Catadores em São Paulo. Escolhi esta mensagem para desejar a todos(as) os(as) amigos(as), colegas e contatos um 2011 de muita utopia, poesia e alegria )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

POESIA: Reciclando o Futuro


RECICLANDO O FUTURO

Somos do Ceará
Com muito orgulho
Viemos reciclar
Nosso futuro

Catador isolado
Também é explorado
Catador organizado
Jamais será pisado



Somos um movimento unido
De luta e voz ativa
Queremos coleta seletiva
Com catador remunerado

Somos do Ceará
Com muito orgulho
Viemos reciclar
Nosso futuro

Catador trabalhando
Catando com amor
As ruas limpando
Mas ninguém dá valor

Não não não
À incineração
Sem respeito ao ambiente
Não existe inclusão

Somos do Ceará
Com muito orgulho
Viemos reciclar
Nosso futuro

Ei ei ei, o Lula é nosso rei
Até coleta seletiva ele fez implantar
Sociedade e municípios, vamos acordar
Ajudando a Dilma a cumprir essa lei




( Essa poesia resultou de uma dinâmica em grupos visando a produção de uma mensagem musical da delegação cearense para o Encontro de Catadores em São Paulo - Expocatadores 2010. Trechos dessa composição foram entoados e repetidos ao longo do evento, especialmente a estrofe-refrão )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

POESIA: Recicladores de Utopia

RECICLADORES DE UTOPIA


Toda luta social é um gesto de amor,
Animado pela mais legítima solidariedade.
A causa dos catadores é uma prova de fidelidade
E bem-querer aos povos frágeis, excluídos do poder.

Nossa força se renova a cada conquista.
Cada obstáculo que surge em nossa pista
É enfrentado com união, organização e superação.
Nossa voz ecoa o grito atual de justiça da nação.

Estamos cansados de promessas vazias.
Chega de hipocrisia, sacanagem e preconceito!
Precisamos é de cidadania, inclusão e respeito,
Para termos mais renda, bem-estar e melhorias.

O Sol da felicidade coletiva desponta no horizonte!
Cada um de nós é a ponte para chegarmos lá.
A saudade de quem já partiu é o combustível constante
Que alimenta, enobrece e sustenta o nosso caminhar.

As desigualdades nunca foram e serão fenômenos naturais.
Sem educação e política ambientais, não existe sustentabilidade.
Nossa reciclagem não se restringe ao manejo de materiais;
É sobretudo de sensibilidade, consciência, utopia e humanidade.

( Poesia em homenagem à delegação cearense presente no Encontro de Catadores em São Paulo, ocorrido entre 21 e 23 de dezembro de 2010, encerrado com as participações de Lula e Dilma )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

POESIA: Você Sabia Que a Luz

VOCÊ SABIA QUE A LUZ

Quando apagada,
Nos reduz, nos apequena e nos empobrece;
Quando acesa,
Nos conduz, nos agiganta e nos enriquece.

Quando desviada e mal orientada,
Paralisa nossas forças e perpetua estagnações;
Quando concentrada e bem dirigida,
Mobiliza nossas potências e produz revoluções.

Quando escondida e negada,
Nos embriaga de vaidades, egoísmos e exclusão.
Quando ampliada e partilhada,
Nos brinda de virtudes, gentilezas e comunhão.

Quando banalizada e artificializada,
Torna a sociedade mais fria, competitiva, hostil e destrutiva.
Quando poetizada, cantada e celebrada,
Torna a humanidade mais leve, construtiva, feliz e emotiva.

( Poesia dedicada ao Natal de 2010 )

Por Pablo Robles - POETA DO SOCIAL

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre as forças que nos tornam irmãos

UMA MENSAGEM PARA CATADORAS E CATADORES...


...SOBRE CONFIANÇA, AMOR E UNIÃO: AS FORÇAS QUE NOS TORNAM IRMÃOS.

Fiquei muito feliz ao saber que vocês continuam unidos e estão se preparando com muita esperança para criarem a organização de vocês.

Muitos catadores e catadoras gostariam de estar no seu lugar; sendo capacitados, orientados e encorajados a reciclarem aquilo que temos de mais potente em nossas mentes: a confiança. Confiança em si mesmos, confiança nos sonhos que brotam da alma e confiança na capacidade das instituições, redes e políticas de cooperarem para o bem comum do planeta.

Muitos de vocês ainda não sabem ler como gostariam. Isso é o de menos. Muitas (talvez milhões) das pessoas que têm formação universitária em alguma coisa, de tanto lerem e não fazerem nada, desaprenderam a sentir. E quem não consegue sentir, torna-se um analfabeto na linguagem do amor.

Há muita luz no mundo (sobretudo em tempos de Natal e Reveillon), mas é quase tudo artificial demais. Seja a luz que falta no mundo, acendendo com sua união o sonho de uma humanidade diferente, com relações mais solidárias e valores mais íntegros. Dentre outras tarefas, vocês existem para, com o espírito de dignidade e determinação que inspira seus passos e lutas, ensinarem a sociedade a transformarem os resíduos do capitalismo predador em alavancas de projeção e consolidação de um outro mundo; possível, necessário e urgente.

Muita gente tropeçou no meio do caminho, antes de ver a luz sorrir no futuro da vida terrena que não continuou. Hoje vocês estão colhendo frutos importantes e renovados desses dolorosos embates históricos. Quando você chora, as lágrimas que caem não são apenas suas; são de todo um povo explorado, marginalizado e excluído (e bote literalmente nisso!) – é na verdade uma multidão, irmanada pelas pegadas esculpidas com o suor e o sangue geracionais de milhares de milhares de índios e negros; cujos corpos tombaram no passado, mas cujos exemplos nunca deixarão de viver e iluminar os movimentos sócio-ambientais do presente.

Quem tem confiança na mente, amor no coração e união no dia-a-dia, tem (e sobretudo vivencia) a mais linda poesia; feita para celebrar, a cada instante e oportunidade, a alegria da vida e a força da mudança. Parabéns, catadoras e catadores do Serviluz, de Fortaleza e do Brasil, agigantado com os avanços inegáveis do Governo Lula e o engajamento contínuo da sociedade civil, desafiada a se reinventar institucionalmente para conquistar patamares mais firmes de sustentabilidade.

Que a Presidenta Dilma seja a Dilma que o povo espera e que o Sol do trabalho edificante e da justiça coletiva vos acompanhe sempre, em toda jornada de coleta, separação e comercialização de materiais recicláveis, mesmo quando o silêncio da vizinhança e a escuridão da noite ameaçarem enfraquecer suas energias.

(PS.: Dedico essa mensagem aos catadores do Serviluz e aos demais grupos do Projeto Cataforte - Fortalecimento do Associativismo e Cooperativismo dos Catadores de Materiais Recicláveis, executado no Ceará pela Cáritas).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Diplomacia dos EUA em apuros

Estou com escritos pendentes para postar devido à correria de final de semestre letivo, mas não posso deixar de difundir esta notícia, que tem despertado a injusta fúria da diplomacia internacional. Wikileaks tem feito vir à tona documentos que revelam os bastidores da política internacional, destacando nesse momento comunicados de embaixadores estadunidenses.

Concordo que nem tudo pode ser revelado, pois na minha leiga compreensão devem existir assuntos de extrema gravidade estratégica que mereçam a alcunha de segredos de Estado. Porém, a grande maioria dessas informações sigilosas que vêm circulando reflete apenas as visões, interesses e argumentos de alguns setores sobre os negócios e relações mundiais.

Já que se defende tanto a liberdade de imprensa, se deveria pelo menos respeitar a difusão dessas informações, portadoras de relevância histórica para a compreensão das motivações diplomáticas que tornam nosso planeta, apesar de tanta abundância alimentícia e riqueza científico-tecnológica, uma selva global de concentrações econômicas e exclusões sociais.

(Comentários introdutórios do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)


POR DENTRO DO WIKILEAKS

Por Natália Viana* - 01/12/2010

FONTE: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/por-dentro-do-wikileaks

Fui convidada por Julian Assange e sua equipe para trazer ao público brasileiro os documentos que interessam ao nosso país. Para esse fim, o Wikileaks decidiu elaborar conteúdo próprio também em português, com matérias fresquinhas sobre os documentos da embaixada e consulados norte-americanos no Brasil.

Por trás dessa nova experiência está a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação. O Wikileaks quer ter um canal direto de comunicação com os internautas brasileiros, um dos maiores grupos do mundo, e com os ativistas no Brasil que lutam pela liberdade de imprensa e de informação. Nada mais apropriado para um ano em que a liberdade de informação dominou boa parte da pauta da campanha eleitoral.

Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.

Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.

Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.

Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.

Documentos sobre Brasil

No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.

Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.

O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.

Impressões

A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.

Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.

Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.

O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.

Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.

O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.

É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial. Uma ironia e tanto.

*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi

terça-feira, 30 de novembro de 2010

POESIA: Levante e Siga Adiante

LEVANTE E SIGA ADIANTE

Instantes fugazes de insensata empolgação
Podem custar anos de dor e arrependimento.
Entregar-se ao vício é trancar-se numa prisão
Cuja recuperação da liberdade é um tormento.

Claro, nem todo mundo tem uma infância feliz.
Há famílias que não têm nem estrutura afetiva.
Porém, refugiar-se na droga é a pior alternativa.
Nunca devemos nos iludir com o que ela nos diz.

Ninguém merece viver e sofrer como um bicho,
Deixando apodrecer os sonhos nas latas de lixo.
Torna a tua biografia um exemplo de superação
E deixa o amor-próprio reassumir o teu coração!

Espalha com o teu sorriso a virtude da amizade
Canta com tua lágrima o refrão da sensibilidade
A grandeza do universo é infinita como a tua alma
O tempo é generoso: o futuro não escolhe; acolhe.

Sim, sabemos que nosso mundo também,
Às vezes, é injusto, deprimente; uma droga.
Mas, poxa, sem tua força, tudo fica ainda pior!
Você é único, especial, importante; um gigante.

Levante-se, antes que seja tarde demais!
Inspire-se em quem te ama e siga adiante!
Agarre com fé os planos deixados para trás!
Depois da noite, o Sol sempre volta radiante!

Por Pablo Robles, Poeta do Social

( Poesia especial para trabalho junto a Disciplina de Psicologia do Adolescente, semestre 2010.2, do curso de Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará. A atividade baseou-se no livro Esmeralda: Porque não dancei, de Esmeralda Ortiz, que narra a experiência vivida pela autora como menina de rua usuária de drogas com passagens sucessivas pela FEBEM. Hoje, além de escritora, Esmeralda é jornalista. )

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dilma, Serra e seus (nossos) abismos

Vamos fazer uma brincadeira séria? Sacrifique poucos minutos de seu tempo para ler essas duas notícias, amostras representativas dos dois pólos da campanha presidencial em disputa:

a) Artistas e intelectuais repetem um palanque como o de 1989

b) Quem são os “investidores” que ouviram FHC?

Como todo jogo instrutivo, a regra é “faça de conta que você é de um país (ou planeta) distante e chegou agora no Brasil”. Isso lhe permitirá ver tudo sem preconceito, como a criança que você foi um dia achando “que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes” (trecho da música Índios, do Legião Urbana).

O jogo começa e ganha quem descobrir mais diferenças entre os dois candidatos. Descobertas o máximo de diferenças, elas serão utilizadas para ajudar as eleitoras e os eleitores brasileiros a escolherem o melhor candidato para governar o país.

Durante o jogo, algumas questões causam bastante perplexidade entre os participantes:

1) Por que Dilma tem tanto apoio de pessoas conhecidas, íntegras e preocupadas com o destino coletivo da nação, enquanto quase não se vê manifestos de pessoas e instituições declarando explicitamente e divulgando abertamente sua preferência pelo Serra?

2) Por que um lado (o da Dilma) afirma com orgulho o governo do partido que representa (PT), destacando suas conquistas históricas recentes (lideradas por Lula), enquanto o outro lado (o do Serra) esconde ou minimiza o papel, a imagem e a ideologia do PSDB de FHC?

3) Por que a esperança, a alegria, a solidariedade, a integração, a altivez, a positividade, a diversidade e a autocrítica predominam tanto nas falas e sentimentos dos partidários e simpatizantes da Dilma, enquanto que o preconceito, o medo, a arrogância, a intolerância, a difamação, o oportunismo, a hipocrisia e o anonimato são atraídos para o campo do Serra?

O jogo chega ao fim e os participantes, reunidos de forma presencial e pela internet em diversas assembléias – tanto nas esferas familiares e comunitárias como nos espaços institucionais e organizados – chegam praticamente a uma mesma reflexão, uma mesma conclusão, uma mesma visão:

UM ABISMO (MUITO MAIOR DO QUE SE PENSAVA) SEPARA DILMA E SERRA.

Ela, Dilma, quer continuar ajudando o Brasil a se libertar de seus atrasos históricos, que remontam aos tempos de quando os índios viviam aqui, certamente mais felizes, ainda que fossem cientificamente ingênuos em matéria de tecnologia moderna (atômica ou não).

Ele, Serra (político profissional com palhaçadas amadoras), parafraseando o Tiririca (palhaço profissional com popularidade amadora), é a certeza de que, se ganhar, “melhor do que tá não fica” e a suspeita mais ou menos certa de que as coisas vão piorar, regredir, involuir...

Especialmente para as maiorias populares e as minorias oprimidas por elites egoístas e entreguistas, satisfeitas em lucrar sozinhas enquanto os “menos capazes”, nordestinos ou não, para brilharem em Estados economicamente ricos como São Paulo, precisam muitas vezes transformar a piada da vida de seu povo pobre na alavanca digna da superação de si mesmos.

domingo, 17 de outubro de 2010

PORQUE SOU DILMA 13

PORQUE SOU DILMA 13

Poderia dedicar intermináveis linhas para comparar os avanços e resultados do governo Lula em relação ao seu antecessor FHC. Ambos tiveram o mesmo tempo como presidente. O de melhor educação formal foi o que menos fez para o povo. Aquele que nem inglês fala direito reposicionou o Brasil no mapa do mundo, perante os países e idiomas de todos os quadrantes.

Infelizmente, vivemos tempos efêmeros, líquidos, descartáveis. Somos bombardeados por informações curtas, rápidas e episódicas; e o que é pior, nem sempre imparciais, isentas e éticas. Falar e divulgar a verdade pode aborrecer o patrão e causar sua demissão e sua conseqüente exclusão do “mercado”. Noticiar coisas boas não dá lucro. Tragédias parecem mais eficentes.

Diante desses dois fatos (Lula/PT objetivamente melhor que FHC/PSDB; e uma mídia que, por informar mal, acaba nos deseducando e despolitizando), como entender a campanha Dilma x Serra e avaliar a qualidade da cidadania brasileira? Em vez de debatermos propostas e de discutirmos projetos estratégicos de país, nos deixamos infectar e hipnotizar por boatos.

O boato não é nada mais nada menos que a principal arma utilizada pela campanha Serra. A arma mais medíocre, mais primitiva, mais covarde. As eleições desse ano, como tantas vezes fizeram com o Lula, estão sendo pautadas pela tragédia. Uma voz aqui e acolá tenta elevar o nível, mas o grosso da estratégia do Serra “do bem” é espalhar o mal e associá-lo à Dilma.

Como toda tragédia tem sua face cômica, vamos a ela: a mulher do “bonzinho” Serra mordeu a própria língua e sua máscara de “virtude maternal” caiu: a Mônica Serra, quem diria, após revelações de uma ex-aluna sua e repercussões na mídia alternativa, assumiu já ter abortado, conforme noticiou a própria Folha de São Paulo (jornal tradicionalmente pró-Serra e anti-Lula): http://mariafro.com.br/wordpress/?p=20474. O feitiço voltou como bumerangue ao feiticeiro.

Quem opta por fazer valer conscientemente seu voto - partindo friamente da realidade coletiva do país e não dos fantasmas individuais do medo impregnados nas entranhas de preconceito que se nutrem dos farelos de egoísmo que pairam na moralidade humana - prefere a Dilma, mesmo que essa adesão não seja automática e desprovida de criticidade, como professou o PSOL e emendou um editorial do Brasil de Fato cujo diagnóstico foi ecoado por Emir Sader: “Dilma não é o governo dos nossos sonhos. Serra é o governo dos nossos pesadelos”.

Eu deveria saltar nesse testemunho o fator Marina Silva, pois acho muito ambígua e contraditória a postura do PV, que vem sendo assediado pelo PSDB em troca de alguns Ministérios caso Serra vença. Ver o Serra citando Chico Mendes soa tão oportunista e patético quanto se FHC viesse a citar o Che Guevara para seduzir os jovens da geração passada. Para quem votou em Marina para enriquecer o debate político no segundo turno, viu que o tiro até agora está saindo pela culatra, conforme argumentei no princípio do texto.

De qualquer forma, devemos aguardar os posicionamentos finais da Marina quanto ao duelo Dilma x Serra. De antemão, cabe a ressalva de que a neutralidade geralmente é omissa e pode chegar a ser burra, no sentido da incoerência histórica e biográfica. E por falar em neutralidade, o que penso do voto nulo, o clássico voto de protesto? Começo com a tese mais pragmática que minha essência idealista consegue tolerar: existe a opção do país ser presidido por ninguém, pelo nada, pelo acaso? Não existe: alguém (oxalá uma mulher) será eleito(a) para tal.

Sobre essa questão, escutemos o Código Eleitoral Brasileiro (Lei nº 4.737/art. 224) diz que: “se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do estado nas eleições federais e estaduais, ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações, e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias”. Quando se espalhou essa cláusula, houve quem achasse equivocadamente que os novos candidatos teriam que ser outros, mas isso não procede.

Sou pessoalmente socialista, e tenho mobilizado essa minha inclinação política através dos trabalhos sociais que desenvolvo há 11 anos em ONGs, dos escritos (em verso e prosa) que posto em meu blog e das frases reflexivas que ponho nas redes sociais da internet, como twitter, orkut/facebook e MSN. A propósito, um dos meus sonhos é que, a partir dos meus 50 anos de idade, eu possa encontrar mais tempo e melhores condições para me dedicar de forma mais atenta e livre à minha produção escrita e quem sabe fecundar algum romance. Mas se eu “abortar” antes algum livro solo de poesias (sociais), por favor, não me denunciem.

Cara pálida, mas o que o parágrafo anterior tem a ver com a Dilma e o voto nulo? Calma, eu explico. Tem a ver com minha atitude regular, contaste e radical de "protesto" contra o sistema capitalista. Quem já mergulhou no meu blog, se banha facilmente com essa minha orientação. Mas isso me impede de usar cartão de crédito? Não. De buscar negociar serviços e projetos sociais remunerados para sobreviver? Também não. Afinal, respiramos capitalismo.

Igualmente, respiramos o atual modelo republicano, presidencialista e representativo que compete à democracia política brasileira. Como poderia votar nulo se pago impostos e gero receitas para usufruir de bens e serviços públicos, desde o ônibus que pego para trabalhar, passando pelo Programa Luz para Todos que reduz minha taxa de aluguel até a atual faculdade pública de Ciências Sociais que curso na UFC, como estudante da primeira turma noturna que foi aberta (semestre 2009.1) – ampliação essa favorecida pelo governo Lula.

Desculpem se estiquei demais o texto. Tenho esse problema crônico e cíclico de TPM (Tensão de Prolixidade Máxima). Mas toda justificativa pública deve ser minimamente fundamentada em princípios, experiências e atitudes. Face ao exposto, declaro que Sou Dilma e a desejo como Presidente do Brasil. O que não significa dizer que me calarei e me acomodarei quando ela for eleita e alegrar a maioria das mulheres, homens, jovens e idosos do país. Termino este manifesto pessoal, independente e suprapartidário com a seguinte reflexão:

Esses regimes são liberais: não recorrem essencialmente à coerção, mas a uma espécie de semi-adesão indolente da população. Esta acabou finalmente sendo penetrada pelo imaginário capitalista: a finalidade da vida humana seria a expansão ilimitada da produção e do consumo, o suposto bem-estar material etc. Em conseqüência disso, a população fica totalmente privatizada. O slogan metrô-trabalho-cama [métro-boulot-dodo] de 1968 transformou-se em carro-trabalho-Tv. A população não participa da vida política: votar uma vez a cada cinco ou sete anos em alguém que não se conhece, sobre problemas que não se conhece e que o sistema faz tudo para impedir que você conheça não é participar. Mas para que haja uma mudança, para que haja realmente autogoverno, é decerto preciso mudar as instituições para que as pessoas possam participar da direção dos assuntos comuns; mas também é sobretudo preciso que mude a atitude dos indivíduos com relação às instituições e à coisa pública, a res publica, o que os gregos chamavam ta koina (os assuntos comuns). Pois, hoje, dominação de uma oligarquia e passividade e privatização do povo são apenas os dois lados de uma mesma moeda

(CORNELIUS CASTORIADIS, extraído do livro “Uma Sociedade à Deriva”, pág. 16)

sábado, 9 de outubro de 2010

POESIA ESPECIAL: Direito de Ser Criança

Aquela criança em (de)formação,
Sem maldade, malícia e preconceito;
Pode se tornar um adulto (in)feliz,
Com lacunas e amarguras no peito...
Psicologicamente fraca, familiarmente confusa,
Moralmente pobre, profissionalmente sem jeito.

Na ânsia competitiva de turbinarmos
A mente sem pressa e sem tensão
Das crianças, transformamos sua infância
Em paranóia; seu lazer, em ocupação.

Queremos que elas logo saibam ler,
Antes de serem estimuladas a sentir.
Nessa toada, são primeiro levadas a calcular
Fórmulas abstratas e decorar regras vazias;
Em vez de somar virtudes e dividir exemplos:
Como se fossem menos lucrativas e importantes
A equação do sorrir e a gramática do amar...
Como se apenas fossem miniaturas de gigantes!

Se o tempo é dinheiro, criança é poder ??
Se viver é consumir, ser equivale a ter ??

O que seriam as crianças para as instituições???
Recipientes férteis para escolas neuróticas?
Massas de modelar para religiões dogmáticas?
Mercados precoces para propagandas hipócritas?

Toda criança tem o direito de ser criança!!!...
Criar um mundo paralelo, dançar a sua dança!!
A fantasia ingênua e sadia é o seu único guia.
Adultecê-la é extinguir a mais elementar utopia!

Pablo Robles – POETA DO SOCIAL

(Em homenagem ao Dia das Crianças de 2010)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Por uma política limpa

As eleições se aproximam.

E a guerra de informação (ou desinformação) se intensifica, desqualificando e desmoralizando a grandeza coletiva do fazer político para o bem comum. Dane-se a ética, a coerência e o bom senso. Assim pregam os jornalistas conservadores, porta-vozes exclusivos de seus patrões.

Mas o Brasil tem mudado.

As empresas midiáticas tradicionais estão perdendo o controle ideológico sobre os “espectadores” brasileiros. Tais grupos, arquitetados contra a realidade dos fatos e especializados em manipulações de toda espécie, já não detém o monopólio da verdade.

O povo está menos bobo.

A opinião pública, cada vez mais, favorecida pela internet e pelas facilidades modernas de comunicação, vem deixando de ser, portanto, a opinião publicada pela mídia privada. Novos tempos prometem, além da popularização da inclusão digital, a democratização cultural.

Não empreste sua opinião.

Desconfie das matérias recheadas de adjetivos de baixo calão. Quem muito ofende, pouco entende. A emoção, anexada ao preconceito, turva o exercício da razão. Fantasmas do passado não cabem mais nas práticas do presente. Chegou a vez de você assumir sua voz.

Inclusive entre as eleições.

domingo, 19 de setembro de 2010

Edgar Morin e sua Militância pela Educação

Na raiz de tantos problemas em que a humanidade se debate, a educação tem presença garantida e reclama prioridade soberana, ainda que a silenciosa omissão da mesmice simplista insista em fazer-se cega, surda e totalmente imune à educação, àquilo de que mais carecemos hoje para sermos mais generosos e harmoniosos com as pessoas, o meio ambiente, nossos desígnios éticos e, naturalmente, consigo próprios.

O sociólogo Edgar Morin é a semente ainda viva e pujante de lucidez que vem semeando, com brilhante militância intelectual, novos rumos, princípios e paradigmas para a educação do século vigente. A ortodoxia acadêmica, impotente face à complexidade dos problemas que passou longe de resolver, aos poucos foi (e continua) se rendendo à nova visão de educação formulada pelo autor e ultimamente recomendada pela Unesco.

Ele estará aqui, em Fortaleza, em uma Conferência Internacional sobre os Sete Saberes. Que sua passagem renove a missão sócio-educativa das pessoas presentes e instituições interessadas, revigorando as mentalidades de todo o mundo para pedagogias que realmente nos libertem, nos elevem e nos solidarizem (mais), em vez da desinformação acrítica que fragmenta as consciências, congela as utopias e aprisiona o potencial revolucionário dos saberes.

(Comentários do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)

REPRODUZO MATÉRIA DO JORNAL O POVO SOBRE EVENTO COM MORIN NO CEARÁ. A SEÇÃO VIDA & ARTE DO JORNAL, PUBLICADA EM 19/09/2010, DEDICOU-LHE UMA SÉRIE ESPECIAL DE TEXTOS. CONFIRAM!

PENSADOR DOS SETE SABERES

Antropologia, comunicação, sociologia, política, economia, filosofia, cibernética, educação. Aos 89 anos, o francês Edgar Morin traz consigo incontáveis reflexões sobre (quase) tudo no mundo. Convidado da Conferência Internacional sobre os Sete Saberes para uma Educação do Presente, organizada pela Unesco e a Universidade Estadual do Ceará, ele vem a Fortaleza esta semana e recebe, no Vida & Arte Cultura, releituras de cinco estudiosos de sua obra

Por Alinne Rodrigues - 18/09/2010

http://www.opovo.com.br/app/opovo/vida-e-arte/2010/09/18/internaimpressavidaearte,2043567/pensador-dos-sete-saberes.shtml

O Brasil já havia sido escolhido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para sediar uma discussão de proporções continentais sobre educação. A posição geográfica é estratégica em relação a Europa e América Latina. Faltava decidir o lugar. Escalada pela Unesco, a professora Maria Cândida Moraes, da Universidade Católica de Brasília, viajou pelas instituições de ensino superior e escolheu a Universidade Estadual do Ceará para receber educadores e pesquisadores de todo o mundo.

“Em fevereiro de 2009, a professora Cândida havia recebido da Unesco a incumbência de preparar um evento acadêmico comemorativo dos 10 anos do lançamento da obra Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, do pensador francês Edgar Morin. Ela e a Unesco identificaram na Uece as condições necessárias para a mobilização e realização do evento”, conta a professora Celina Ellery, pró-reitora de extensão e vice-presidente da conferência.

Com abertura nesta terça-feira, 21, o evento é presidido pelo representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny (confira o bate-pronto) e conta com presidência de honra de Morin. Completando 35 anos de existência, a Uece comemora o sucesso nas inscrições: a 15 dias da abertura, as vagas para assistir à conferência estavam esgotadas. Mais de mil educadores vão participar de forma presencial e, segundo Celina, serão recebidas comitivas de vários países europeus e latino-americanos. “O esgotamento das vagas mostra a identificação e o interesse, e, nesse sentido, a Uece está atendendo à demanda e ampliando o diálogo”, comenta o reitor Francisco de Assis Moura Araripe.

Em termos práticos, a universidade vai atender essa procura através de videoconferências em todo o Brasil. “Diversas instituições que possuem infraestrutura adequada vão receber o sinal em vídeo do evento pela Internet, na perspectiva de disseminar o conteúdo das conferências para um público mais amplo. A própria Uece disponibilizará salas, como também a Universidade Católica de Brasília, a Universidade Federal do Ceará, a Universidade de Fortaleza e a Faculdade Integrada do Ceará”, ele diz. Somando-se os públicos, a expectativa é de que cerca de 6 mil pessoas acompanhem os diálogos. (Alinne Rodrigues)

Conferência Internacional Sobre Os Sete Saberes Para Uma Educação Do Presente - De terça, 21, a sexta, 24, no Hotel Praia Centro (avenida Monsenhor Tabosa, 740 – Praia de Iracema). Ato de abertura às 9 horas, com o dr. Vincent Defourny (Unesco), o governador do Estado e os reitores da Uece e da UCB. Conferência de abertura com Edgar Morin, Os sete saberes necessários a uma educação do presente: importância e finalidade da proposta. Na quarta-feira, 22, às 19 horas, Morin recebe o título de Doutor Honoris Causa no auditório da reitoria da Uece.

domingo, 22 de agosto de 2010

Alguém prefere agir contra a fome?

Uma enquete vista em um dado portal perguntava: “quem foi melhor no debate de presidenciáveis organizado pela Band?”. Até aí nenhuma surpresa. A mania do quem foi pior e quem foi melhor já está impregnada em nosso sangue cultural, não obstante a desigualdade de oportunidades, de tempo e de mídia que envolve cada candidata(o).

O que me chamou a atenção nesta enquete foi ver a opção “preferi ver o futebol” como uma das respostas disponíveis para o internauta marcar. Sabidamente, uma emissora pouco isenta transferiu propositadamente o horário do jogo para “concorrer” com o debate. Quem de nós prefere ver algo em vez de agir? Criticar em vez de construir? Possuir em vez de amar? Essa alternativa, ao destoar das outras, evoca nas consciências debates bem mais profundos.

Não vou aqui ser hipócrita e fundar um partido contra o futebol, a novela, o filme apressado que atropela nosso olhar, a música sem conteúdo que entorpece nosso ouvir. O sentido que quero convocar para nossa “conversa offline” é o sentido mesmo de nossa sobrevivência enquanto espécie não-suicida; ou melhor, de nossa transcendência para uma condição que vá além do inumano, do subumano, do desumano.

Sim, ainda não somos dignos de autêntica humanidade. Nossa insensibilidade não tem idade. Estamos apodrecendo nossas esperanças de geração em geração, omissão em omissão.

Enquanto isso, uma obviedade insiste em invadir o campo discursivo desse texto e gritar silenciosamente para todo mundo – pelo menos – sentir: enquanto a bola rola em disputadas direções, atrai multidões e faz lucrar milhões, a fome continua ali, quase estagnada pela falta de investimentos econômicos, políticos e morais. E não vamos apontar dedos e tirar nosso time de campo, pois fazer o bem, no contexto essencial de nossas biografias e no âmbito histórico das civilizações, é a coisa mais democrática, voluntária e gratificante do universo.

Competir para acabar com a fome (do bairro onde você brincou pela primeira vez ao planeta onde você chorou pela última vez) não dá audiência, não gera demanda, não aumenta o PIB, não lota as igrejas e tampouco interessa muito às academias que preferem competir por quem “produz” mais citação de teorias (e ideologias) terceiras, estas tantas vezes reprodutoras (e empobrecedoras) das idéias de um quarto ou décimo intelectual... e quem ousar politizar a ciência, pior; nem citado e condecorado será. Como consolo, em vez de ter um paper traduzido mundo afora, ganhará no máximo espaço discreto nos jornais estampados esquina adentro.

Façamos de conta que seu time de futebol já perdeu na semana, a novela do dia já acabou, seu seriado preferido já passou e você por acaso até aqui pacientemente chegou, sem olhar para o relógio nem antever o próximo e-mail de sua caixa postal masoquistamente lotada. Que analogia entrelaça a bola e a barriga? A bola, quando achatada, lembra a barriga esvaziada, esfomeada, estagnada, desnutrida. A barriga, quando dilatada (nem que seja por vermes do tipo lumbricóides apoliticus ou sadismus capitalóide), lembra a bola inflada, dançando e girando em toda potência futebolística, orgulhosa de cumprir sua missão de assinalar gols.

E tudo será perfeito se os gols forem, jogo após jogo, sempre a favor do time que torcemos, pois com isso poderemos indiretamente nos sagrar campeões, identificados simbolicamente com os melhores. Porém, ao competirmos (e raramente cooperarmos) com outros jogadores em nossa rotina cotidiana, a bola da fome segue marcando gols contra, como se os perdedores dessas partidas existenciais fossem sempre relegados coletivamente a escanteio... ou merecessem absurdamente serem “expulsos” sem direito a chances e advertências saudáveis.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Conservadorismo de São Paulo

O autor foi muito feliz, preciso e claro nesse artigo. São Paulo afirma e reafirma cada vez mais o título de capital brasileira do conservadorismo, do deixa tudo como está que é melhor para nós e pior para eles, incapazes de suarem individualmente e construírem riquezas materiais como a elite empreendedora que ambiciona continuar liderando, supostamente, a marcha do Brasil (contra o povo e apesar do povo). Não enxergam que a abundância de uns (sudestinos, sulistas) foi erguida e exacerbada sobre a exploração de outros (nordestinos, nortistas). É claro que a solução não é incitar e belicizar as desigualdades regionais. Mas é preciso reconhecê-las para superá-las, não é?

(Comentários introdutórios do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)


SÃO PAULO É UM REDUTO DO CONSERVADORISMO?

Por Altamiro Borges

FONTE: http://altamiroborges.blogspot.com/2010/08/sao-paulo-e-um-reduto-do.html - 19/08/2010

Até agora, as sondagens eleitorais dos quatro maiores institutos de pesquisa confirmam a tese de que São Paulo, o principal centro industrial e financeiro do país e que concentra a maior fatia do eleitorado brasileiro (22,3%), tornou-se o reduto do conservadorismo nativo. Enquanto na maior parte do Brasil, Dilma Rousseff, que expressa a continuidade do ciclo progressista aberto pelo presidente Lula, dispara nas pesquisas, neste estado a situação ainda é desvantajosa.

Forte hegemonia demotucana

Apesar da queda na diferença, José Serra, o candidato das elites, mantém folgada vantagem nas sondagens para a sucessão presidencial. Ele aposta todas suas fichas no estado para garantir sua ida ao segundo turno. Já o direitista Geraldo Alckmin, cria do regime militar e seguidor do Opus Dei, pode vencer o pleito para o governo estadual já no primeiro turno. Caso esse prognóstico se confirme, os demotucanos obterão a quinta vitória consecutiva em São Paulo.

Em 2006, PSDB e DEM fizeram barba e cabelo. É certo que o “picolé de chuchu” perdeu votos entre o primeiro e o segundo turno, fato inédito na história; mas o bloco conservador-neoliberal consolidou a sua hegemonia no estado. Elegeu o governador em primeiro turno e uma expressiva bancada de deputados federais e estaduais. Nas eleições municipais de 2008, o DEM conquistou a prefeitura da capital e o PSBD foi vitorioso em importantes cidades do interior paulista.

O paraíso dos rentistas

Quais as razões desta forte hegemonia dos demotucanos no estado, que destoa do restante do país no qual se verifica uma tendência mais progressista nas eleições. No livro “Os ricos no Brasil”, o economista Marcio Pochmann revela que São Paulo se transformou no paraíso de rentistas e das camadas médias abastadas. O Estado, que já foi a locomotiva industrial do país e hoje mais se parece com um cemitério de fábricas, é o principal centro da oligarquia financeira. Das 20 mil famílias que especulam com os títulos da dívida pública, quase 80% reside em São Paulo.

Esta elite preconceituosa mora em condomínios de luxo, desloca-se em helicópteros (a segunda maior frota do mundo) e carros blindados (a maior frota do planeta), e consome em butiques de luxo, como a contrabandista Daslu. Ela não tem qualquer identidade ou compromisso com a nação, estando totalmente apartada da realidade de penúria dos brasileiros. Ela ainda influência uma ampla camada média, que come mortadela e arrota caviar. Estas são as principais bases de sustentação e apoio do bloco neoliberal e de movimentos golpistas e racistas, como o “Cansei”.

Direita enraizada no poder

No outro extremo, como apontam vários livros recentes sobre sindicalismo, o violento processo de desindustrialização do Estado, que resultou em desemprego, informalidade e precarização do trabalho, golpeou a combativa classe operária e fragilizou os seus sindicatos, enfraquecendo a influência política das forças mais vinculadas às lutas dos trabalhadores. Nas eleições de 2006, por exemplo, a bancada de deputados ligada ao sindicalismo perdeu terreno no estado. Estes dois fatores objetivos, entre outros, explicariam a forte hegemonia dos neoliberais em São Paulo.

Há também causas subjetivas. A direita paulista domina todos os poderes no estado. É maioria na Assembléia Legislativa, conseguindo abortar mais de 70 pedidos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs); tem forte peso no Poder Judiciário, com a nomeação de vários representantes das elites; conta com o apoio da mídia, que concentra no estado as matrizes dos seus impérios e garante blindagem ao tucanato e ódio aos setores oposicionistas. E há ainda os erros das próprias forças progressistas, que são tímidas e ineficientes no combate ao neoliberalismo no estado.

Laboratório e palanque dos neoliberais

Estes e outros fatores transformaram São Paulo no laboratório e também o principal palanque dos neoliberais no país. Daqui operam as maiores referências da direita “moderna”, como FHC, Geraldo Alckmin e José Serra, e as mais poderosas entidades empresariais, como a federação das indústrias (Fiesp) e a dos banqueiros (Febraban). Daqui se irradiam as manipulações da mídia, com as redações da revista Veja, dos jornais Folha e Estadão e das maiores emissoras de TV. Toda a orquestração para barrar as mudanças no Brasil parte atualmente de São Paulo.

As eleições de 2010 indicarão se as mudanças promovidas pelo governo Lula poderão fazer ruir a hegemonia demotucana no estado. O aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores, alavancado pela valorização do salário mínimo, os programas sociais, como Bolsa Família, que já beneficia mais de um milhão de famílias paulistas, e a geração de emprego podem abalar o domínio dos conservadores em São Paulo. Mas isto depende do poder de convencimento da militância social.

domingo, 15 de agosto de 2010

POESIA: Novas Escaladas

NOVAS ESCALADAS

Não precisa ter medo,
Se puder, apenas sinta...
O convite do desconhecido,
O perfume místico da libido,
A sombra meiga do arvoredo,
A luz que sussurra desde cedo.

A beleza da vida está nos detalhes;
O segredo da felicidade, no caminho.
A magia da alma escorre pelos olhares.
E quem é sensível, nunca está sozinho.
As poesias precisam de você para rimar!

Se alguém te iludir, mentir, machucar,
E seu coração tropeçar, esfriar, recuar,
Mude o refrão, a coreografia, a canção!
Confie nos atalhos e fuja da contramão!
Escale o futuro sem os fardos do passado,
Driblando os ventos da rotina sem conteúdo.

Se a gente cai, é para aprender a levantar.
De repente, o presente pode ser diferente.
É melhor ser humilde do que ser incoerente.
Viver é a arte de sorrir, compreender e amar.

Cada passo configura inéditas tentativas
De sermos mais maduros, mais humanos.
Mesmo atolados por pressões e ocupações,
Tecemos sempre novas trajetórias e planos
Rumo a experiências mais plenas e criativas.

Se pensarmos demais, podemos desistir.
Só avança quem se lança a correr riscos.
A incerteza é a única certeza que presta.
Amplie a visão e verás muita porta aberta;
Mas se não ousar voar, nem vale a pena ir!

(uma singela homenagem a uma recente amiga prestes a aniversariar)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CONTO: A Experiência da Convivência

De repente ela (re)apareceu. Dessa vez em toda sua essência e eloqüência. Seu instinto de sobrevivência estava ferido. A gaiola familiar estava sufocando a Lanny. A relação mãe e filha estava estremecida, o suficiente para ela querer fugir, voar, partir. Por um acaso da vida, o lar de Querque foi lembrado, consultado e indicado. Querque empreendeu esse passo há um ano atrás. As motivações pessoais mudam, mas muitos dramas familiares se repetem.

Em menos de 24 horas, Lanny e Querque se encontraram e conversaram longamente sobre suas histórias, seus anseios, receios... A proposta era inédita e intrigante para ambos: dividirem o lar do Querque por algum tempo, enquanto Lanny reorganizava a sua vida, desde que longe da órbita doméstica em torno da qual girara até então. Entre o almoço num restaurante e a cerveja num bar, o rapaz de 30 anos apresentou à moça de 22 anos sua simples quitinete.

Se ela topasse morar algumas semanas ali, teria que se despir de eventuais frescuras, que poderiam esbarrar, de cara, na arquitetura e aparelhagem do lugar: vão único e sem televisão. Mas havia atrativos: dois quarteirões da faculdade dela e custo de moradia bem camarada. A grande questão que os preocupava, no entanto, dizia respeito à privacidade deles caso assumissem o risco inesperado dessa experiência teoricamente gratificante.

Experiência interessante, bacana, quase mística; pensaria um empolgado Querque. Experiência emergencial, emancipatória, praticamente irreversível; ponderaria uma confusa Lanny. Impossível que decisão tão conseqüente viesse a ser tomada logo. Coube então aos próximos dias diminuir o entusiasmo do homem e aumentar a segurança da mulher. Uma semana depois, independentemente do desfecho dessa sensível negociação, uma certeza começava a se esboçar entre os dois: um passaria a morar dentro das lembranças do outro.

Tornaram-se bons amigos, companheiros imprevisíveis de uma cumplicidade sem medos, sem pudores, sem lacunas. Como conseguiriam dormir sob o mesmo teto sem nenhum vínculo anterior de relacionamento interpessoal? Antes que uma amiga comum de Querque e Lanny os colocasse em contato telefônico e os encorajasse a interagirem, o rapaz só havia visto a moça uma vez, em menos de um mês atrás e de uma forma bem ligeira, algo protocolar.

Assim é a vida, essa desplanejada e imprevisível chama que anima e contorna as trajetórias retilíneas, curvilíneas e circulares da humanidade. Em busca angustiada por um novo eixo que pudesse - mediante uma nova moradia, convivência e rotina - dar um rumo solidário e transitório à sua vida de mulher independente em gestação, Lanny encontrou em Querque uma oportunidade inicial de “libertação”, um convite explícito para uma espécie de recomeço, ou melhor, para a execução de um novo ciclo na biografia da garota, cuja energia pulsante se incompatibilizara com os padrões incompreensivos e repressores do lar em que crescera.

Querque se viu de repente agitado por uma súbita idéia. Uma proposta típica dos enredos de cinema e que mereceria no mínimo um conto. Os bastidores e desdobramentos da história estarão agora reservados ao universo real destas duas personagens. O destino adora pregar peça em suas vítimas. As pessoas geralmente levam anos para edificar sólidos laços. Essa travessia, por força das circunstâncias intermediadas pela amiga comum, acabou sendo conduzida em um intervalo mínimo de tempo. Dividindo ou não o mesmo território geográfico, nenhum abismo humano, doravante, deveria separar a ponte que o universo estendeu entre Lanny e Querque.

domingo, 25 de julho de 2010

A Emancipação dos Negros continua...

Segue indicação de um artigo bonito, historicamente comovente e da mais alta relevância humana. A semana que passou foi marcada, por exemplo, pelo episódio da escolha (nada muito democrática e transparente) do novo técnico da Seleção brasileira de futebol, esporte que a propósito constitui-se no maior celeiro de carreira para negros. A velocidade da ascensão é tão galopante que alguns não conseguem administrar as doses cavalares de ambição. Outros se agarram à religião (nesse sentido útil e bem terapêutica) para não matarem sua dignidade.

Pois bem, apesar do obscurantismo midiático, saibam que um grande marco jurídico foi edificado para ajudar a reparar séculos de racismo, desigualdade étnica e marginalização sócio-econômica. Como informa com abrangência o artigo, iniciativas paralelas, em diversas searas, estão sendo levadas a cabo, inclusive aqui no Ceará, onde boa parte dos destinatários desta mensagem desenham suas pegadas existenciais. Nem a recente Copa do Mundo em solo africano, num país símbolo do racismo mais explícito e brutal, foi suficiente para convidar os jornalistas comerciais a darem publicidade social ao Estatuto da Igualdade Racial.

(Comentários do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)


ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL: SONEGAÇÃO INFORMATIVA E AS NOVAS BASES PARA ENFRENTAR O RACISMO

FONTE: Carta Maior - 24/07/2010
LINK: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16819

O Estatuto da Igualdade Racial foi sancionado esta semana pelo presidente Lula. O episódio mereceria um destaque muito maior por parte dos meios de comunicação. Mas, sem surpreender, a grande mídia comercial noticiou apenas discretamente o evento. Nenhum grande jornal deu na primeira página. E o Jornal Nacional da TV Globo fez apenas uma notinha curtíssima para a importância do fato, sem imagens. Ou seja, na proporção inversa da ampla divulgação que deu, por meses, à campanha do DEM contra as cotas para alunos pobres e negros na universidade. O artigo é de Beto Almeida.

Beto Almeida (*)

“Uma notícia ta chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão...”
( Milton Nascimento e Fernando Brant )

Nesta semana que termina o Estatuto da Igualdade Social foi sancionado pelo presidente Lula. Para um país que teve quase 4 séculos de escravatura, sendo o último a abolir este opróbrio, e , tendo ficado 112 anos à espera de uma legislação que consolidasse bases para um enfrentamento mais vigoroso ao racismo ainda vigente em nossa sociedade tão desigual, o episódio mereceria um destaque muito maior por parte dos meios de comunicação. Mas, sem surpreender, a grande mídia comercial noticiou apenas discretamente o evento. Nenhum grande jornal deu na primeira página. E o Jornal Nacional da TV Globo fez apenas uma notinha curtíssima para a importância do fato, sem imagens. Ou seja, na proporção inversa da ampla divulgação que deu, por meses, à campanha do DEM contra as cotas para alunos pobres e negros na universidade.

Já a Voz do Brasil, programa radiofônico que também nesta semana fez mais um aniversário, cobriu decentemente a sanção do Estatuto da Igualdade Racial, mesmo estando sob ataque da ideologia mídia de mercado, que quer mais uma hora para entupir os ouvidos do povo, predominantemente, com mais baixaria e publicidade. Portanto, nos grotões, nos quilombos, nos assentamentos da reforma agrária onde a Voz do Brasil alcança, a notícia até que chegou. Mas, como diz a música “Notícias do Brasil”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, a depender da grande mídia comercial, a informação ou é nula ou é a mais resumida possível. Será nostalgia das senzalas e do pelourinho por parte dos barões da mídia?

É preciso lutar para a lei pegar

Muitas conclusões podem ser tiradas da entrada em vigor do Estatuto da Igualdade Racial. Entre elas, certamente, a de que como nos demais estatutos, entre eles da Criança e do Adolescente, o do Idoso, ou o Código de Defesa do Consumidor, a sua plena vigência não é automática. Será preciso lutar para esta lei pegar. Com a dinâmica das lutas é que as leis se consolidam, se aperfeiçoam, ampliam direitos. A licença maternidade, por exemplo, instituída em 1932, na Era Vargas, estabelecia apenas dois meses. Acaba de ser ampliada para 6 meses. Em Cuba, há décadas, a licença maternidade é de um ano, e beneficia também o pai por um certo período.

Afinal, aqui estamos numa sociedade capitalista, com desigualdades trágicas, e onde a lei ainda é presa fácil do poder econômico e onde nem a própria Constituição alcançou ainda sua plenitude. Sem contar que tratam-se de textos legais rigorosamente desconhecidos da grande massa do povo brasileiro. Está escrito na lei que é crime matar, mas a taxa de homicídios impunes no Brasil alcança a tenebrosa estatística de 93 por cento dos casos, que ficam sem solução, são arquivados. Assim, transpondo para o Estatuto, para que ele realmente vire um texto a ser cumprido é indispensável a convocação da cidadania, dos sindicatos, dos movimentos sociais, para conscientizarem-se de sua existência, de seus alcances e limites. E também da necessidade de protagonismo e militância caso queiramos empreender uma inadiável batalha contra esta praga social do racismo. Talvez por isso mesmo a grande mídia não divulga, esconde, quando era tema para se fazer do Estatuto um grande fato comunicativo.

A insensibilidade social da mídia

Dois episódios me ocorrem para provar a insensibilidade social das oligarquias que dominam estes meios de comunicação como se administrassem um latifúndio do espectro eletromagnético ou impresso informativos. Quando Monteiro Lobato, revoltado com o analfabetismo de nossa gente, apelou a uma família proprietária de grande jornal paulista para que a imprensa realizasse uma cruzada contra este subproduto da deseducação, da ignorância e da pobreza. A resposta que recebeu deveria estar em todos os cadernos de alfabetizadores para lembrar que a alfabetização sempre teve inimigos nas oligarquias. “ Ô Lobato, mas se todos os negros analfabetos forem aprender a ler, quem é que vai pegar na enxada??”, ouviu um atônito Lobato, registrando-se no episódio uma soma de elitismo com racismo.

No outro episódio, ocorrido décadas depois, o diretor de redação deste mesmo jornalão paulista mata a sua namorada com três tiros, confessa o crime, é condenado e continua absolutamente livre. O motivo para o crime? A jovem jornalista, de origem pobre, meio mulata, queria terminar o namoro. Pena de morte! Ou seja, mesmo sendo proibido matar, mesmo tendo havido a confissão, mesmo tendo sido condenado, o tal jornalista, está desfilando sua impunidade livremente, indicando que tipo de ódio social pode estar sendo cultivado nas cúpulas de quem faz a comunicação no Brasil e a maneira muito especial que o Judiciário tem para julgar casos assim!. Quem será a próxima? Por isso, sem uma convocação da sociedade para transformar este Estatuto em muito mais que uma referência longínqua e teórica, nós poderemos talvez constatar que o racismo ainda irá resistir por mais tempo, mesmo sem qualquer razão para existir, pois trata-se de um crime.

Brasil tem novo rumo

A outra lição a ser tirada, orgulhosamente, é que o Brasil está na contra-mão das ondas de racismo e xenofobia que grassam pelos grandes países capitalistas, sobretudo naqueles países que se arrogam avançados. Ondas que vêm acompanhadas da demolição de uma série de direitos trabalhistas e sociais conquistados na edificação do Estado do Bem-Estar Social. Tudo isto em razão da crise do capitalismo que está sendo descarregada impiedosamente sobre os trabalhadores. O Brasil está ampliando direitos sociais!

Países como Suíça, Áustria ou mesmo França, debatem-se entre a tomada de medidas legais que restringem, agridem, desrespeitam trabalhadores negros e árabes que por lá trabalham. E em outros países como Itália, Espanha e Inglaterra, na prática o racismo vai mostrando seus dentes criminosos, seja nas condutas dos agentes públicos, dos agentes de emigração, e, muito especialmente dos agentes policiais. Estes, chegam ao ponto até há não hesitar em matar em caso de dúvida para com um negro, um mulato, um árabe, sempre que houver a dúvida, como dolorosamente ocorreu com o mineiro Jean Charles Menezes, executado em pleno metrô de Londres com 7 tiros na cabeça. Foi considerado terrorista por ter a pele amorenada e o cabelo não liso!!! Recentemente, o primo de Jean Charles, que também trabalhou na Inglaterra e luta para que se faça justiça de fato neste caso - o governo inglês deu uma indenização à família pela morte, como se fosse uma mala extraviada - acaba de ser deportado ao tentar entrar novamente naquele país que também está empilhando cadáveres no Afeganistão e no Iraque, além de ameaçar a Argentina com nova agressão militar ilegal pelas Ilhas Malvinas.

Basta uma consulta sobre quem anda preso hoje na Europa e encontraremos, na maioria, um contingente de jovens negros, árabes, pobres, recebendo o castigo da prisão. As estatísticas judiciárias nos EUA também revelam uma população carcerária predominantemente negra, pobre, asiática e hispânica. O mesmo ocorrendo sobre quem hoje está no corredor da morte para ser executado lá. Entre eles, o jornalista negro Múmia Abu Jamal, condenado num processo repleto de irregularidades e exatamente por Juiz conhecido por ser o campeão em enviar negros para a cadeira elétrica, onde fica claro que o crime principal de Múmia é o de ter nascido com a pele negra.

O Estatuto da Igualdade Racial é um passo forte nesta luta contra o racismo no Brasil, indicando direção oposta ao que ocorre no mundo. Da mesma forma que muitos países chamados de desenvolvidos estão fechando-se aos emigrantes, punindo-os, o Brasil adota política de abertura jurídica de espaços generosos aos estrangeiros que aqui vivem, linha oposta à xenofobia. Assim como nos EUA, em 1963, o Presidente Kennedy teve que enviar tropas do exército para garantir a matrícula de dois jovens negros na Universidade do Alabama, então vetada a negros, um estatuto aqui deverá ser alavanca para mobilizar vontades conscientes e dar bases jurídicas para que os que praticam racismo sejam condenados. Depois daquele episódio no Alabama, muitos massacres de negros houve nos EUA, e ainda os há. Executaram Martin Luther King e Malcon X. Aqui no Brasil os massacres se acumulam. Entre eles o massacre do Carandiru, dos 111 presos, quase todos pretos, como diz a música do Caetano. A Chacina da Candelária, a de Acari, a de Vigário Geral. Negros são os primeiros a tombar.

É preciso parar o Carandiru diário

O Estatuto da Igualdade Racial também desafia e estimula a criação de ações concretas por parte da Secretaria Especial de Direitos Humanos no sentido de coibir a prática diária de torturas nos estabelecimentos prisionais brasileiros. Houve uma concentração de esforços na apuração de tortura e assassinatos ocorridos durante a ditadura, mas não tem havido uma política eficiente da Secretaria contra a tortura diária, prática corriqueira, que atinge sobretudo pobres e negros agora mesmo na maioria destes órgãos judiciais.

Se o Estatuto dá as bases jurídicas para a punição da prática de racismo na internet, se protege os direitos das comunidades quilombolas, se proíbe às empresas a prática de critérios étnicos para preenchimento de vagas de emprego e, entre outras, torna obrigatório o ensino de história geral da África e da população negra do Brasil em escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio - e todos estes são pontos muito positivos para uma nova realidade de luta global contra o racismo - mesmo assim, só uma militância vigorosa, atenta, fortalecida fará com que a transformação pretendida seja a mais rápida, a mais profunda, a mais ampla.

O Estado brasileiro, ainda marcado por todos os vícios e deformações inerentes a um estado com as características da burguesia, vem experimentando por meio da convocação de Conferências Públicas, as mais variadas formas de democratização. Desde a primeira Conferência Nacional de Saúde, ocorrida também na Era Vargas, em 1942, e sobretudo durante o governo Lula, um torrencial de demandas e propostas está sendo perfilado, organizado, tornado visível, proclamado, muito embora, em vários casos, ainda sem conseguir a relação de forças adequadas para as mudanças mais radicais, mesmo sendo absolutamente necessárias. Algumas das bandeiras do movimento negro e dos movimentos sociais em geral, somente serão realidade com uma transformação social muito mais aprofundada, algo que um governo de composição como o atual ainda não reúne todas as condições de implementar e consolidar. Mas, as bases estão lançadas para um patamar superior destas lutas. Em vários casos, são os próprios movimentos sociais que não adotam também uma tática capaz de condicionar, o governo, por meio de um apoio crítico, a realizar mudanças concretas em muitos setores. Por exemplo, não se justifica que a TV Brasil - mesmo com toda abertura e visibilidade que já oferece às questões ligadas à África - não tenha ainda horários definidos e ampliados de sua programação que contemplem os diferenciados aspectos da luta contra o racismo. Ou da luta geral dos trabalhadores.

Distribuição massiva e gratuita

Exemplo disso é que, se não houver uma atitude decidida e vigorosa por parte dos movimentos que lutam contra o racismo, por parte dos sindicatos, dos intelectuais, corremos o risco do texto do Estatuto da Igualdade Racial sequer receber uma massiva divulgação, como se faz necessário. Os trabalhadores, ainda hoje, não conhecem seus direitos inscritos na CLT, a população brasileira em geral desconhece o texto da Constituição, não há consciência ampla ou sequer informação sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, muito embora já tenha completado 20 anos. É fundamental que seja cobrada do estado brasileiro uma edição massiva deste Estatuto da Igualdade Racial, algo na casa de dezenas de milhões de exemplares. E distribuição gratuita. Há capacidade gráfica ociosa para isto e há um povo que não tem acesso à leitura destes textos. Mas tem direito! Se não é dado ao cidadão o direito de desconhecer o texto de uma lei, em contrapartida, vemos que no Brasil o estudo e a divulgação ampla e gratuita da Constituição, para dar um exemplo, numa foram sistematicamente promovidas.

Todos estes textos legais devem merecer edições simples, popularizadas em sua forma e alcance, com a linguagem mais acessível e mais comunicativa possível, superando o intransponível juridiquês. Mas, estas edições massivas devem ser distribuídas gratuitamente, como se faz na Venezuela, por exemplo, com a divulgação de milhões de exemplares de bolso da Constituição Bolivariana, proporcionando um aprendizado importante para a população. Num país como o Brasil, que ainda registra formas de trabalho análogas ao trabalho escravo, o conhecimento dos direitos trabalhistas contidos na CLT deveria ser uma prioridade dos meios de comunicação e não apenas restrito a advogados trabalhistas e círculos de dirigentes sindicais. E os meios de comunicação, concessões de serviço público, deveriam sim priorizar horários específicos para o conhecimento das leis, no mínimo proporcionalmente ao tempo que desperdiça para estimular o consumo de álcool e a ingestão de comidas maléficas à saúde.

Universidade da África versus Navios Negreiros

Por fim, vale registrar que no mesmo dia da sanção do Estatuto da Igualdade Racial, o presidente Lula também sancionou a lei que cria a Universidade Federal da Integração Luso-Africana e Brasileira, a Unilab, que terá sede na cidade de Redenção, no Ceará, primeira cidade brasileira a abolir o escravagismo no Brasil, 5 anos antes da Lei Áurea. A criação desta universidade tem o mesmo simbolismo de outras iniciativas que colocam o Brasil em rumo oposto ao de muitos países que estão registrando endurecimento e perversidade no trato da questão racial.

Com a Unilab, que receberá estudantes africanos que aqui estudarão gratuitamente, o Brasil se aproxima do gesto de Cuba adotado há 12 anos, quando criou a Escola Latinoamericana de Medicina destinada a formar médicos para oferecer aos países mais necessitados do continente, inclusive aos Estados Unidos. Cerca de 500 jovens negros e pobres estadunidenses estudam medicina em Cuba, gratuitamente. Quando voltarem formados para os EUA, poderão praticar medicina social nos bairros negros do Harlem e do Brooklin onde viviam; Segundo disseram estes próprios estudantes, se tivessem lá continuado provavelmente teriam sido capturados pelas perversas redes e garras do narcotráfico. Nos EUA dificilmente poderiam estudar medicina. Em contraponto ao bloqueio econômico e às agressões que sofre há décadas dos EUA, Cuba “contra-ataca” doando ao povo norte-americano a generosa formação humanizada de centenas de seus filhos.

Consciência generosa e solidária

O Brasil vai nesta direção. Além da Unilab, que dará oportunidade para que jovens africanos formem-se em nível superior, ombro a ombro com estudantes brasileiros, proporcionando mutuamente a formação de uma consciência generosa e solidária, marcada pelo reconhecimento que todos os povos do mundo e nós brasileiros em particular temos em relação aos povos africanos! Para além da Unilab, também na linha de pagar nossa dívida, está a instalação de unidades da Embrapa em território africano, e vem sendo mencionado por Lula o propósito de estimular a produção de agroenergia, permitindo a autonomia,a independência e a soberania tanto energética quanto alimentar dos povos africanos, em sua maioria ainda dependentes da importação de petróleo, ou ainda sem capacidade para a geração de energia elétrica.

Mandela , Cuba e a Mama África

No final do ato de sanção do Estatuto da Igualdade Racial, Lula disse que agora somos uma nação um pouco mais negra, um pouco mais branca e , sobretudo, um pouco mais igual. Perante o mundo, comparecemos com uma iniciativa que nos coloca em diferencial positivo e generoso. De certo modo, tomamos de Cuba uma parte de sua solidariedade para com os africanos, muito embora Cuba tenha chegado ao ponto de pegar em armas para defender a independência de Angola, derrotando o exército racista da África do Sul na Batalha de Cuito Cuanavale, e, com isto, derrotando o próprio regime do apartheid, como reconhece Mandela, dedicando esta conquista ao povo cubano.

Mesmo que ainda tenhamos tantas dívidas não pagas internamente e tantas desigualdades ainda não resolvidas, agora somos nós brasileiros a nos lançar, como nação, ao pagamento da gigantesca e dolorosa dívida que temos para com os povos da África. E com ações concretas: uma universidade, a presença de uma estatal como a Embrapa, políticas e convênios etc. Vamos apostando, como nação, num mundo mais justo, mais solidário, mais humano, incorporando a África, quando muitos países a consideram continente descartável. Muito breve, poderemos estar fazendo como o generoso povo cubano, enviando médicos, técnicos e professores para a Mama África. Construindo as bases para que se faça o trajeto contrário dos navios negreiros, humanizando o retorno na forma de conhecimento, tecnologia, saber e solidariedade.

Enquanto isto, muitos países, sobretudo os ricos que apoiaram o animalesco regime do apartheid no passado, seguem o vergonhoso exemplo de espalhar tropas e morte pelo mundo. O Brasil está em outra direção!

(*) Beto Almeida é Diretor da Telesur

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Consistências e Precariedades

A Consistência das Crises e a Precariedade de Respostas

O debate das eleições presidenciais começa aos poucos a engrenar. Chegou a hora de conhecermos melhor as propostas, biografias, pontos de vista, ideologias sócio-políticas, motivações partidárias e bastidores institucionais de cada candidato ou candidata. Aliás, deveria inverter a seqüência, pois duas dentre as três candidaturas mais bem posicionadas são de mulheres. Isso seria um indicador de novidade? Um sinal de surpresa? Provavelmente sim. Se mudanças e avanços pairam no ar, retrocessos e mesmices ameaçam tudo desmanchar.

A mídia televisiva, felizmente, já não reina sozinha. E quando tenta publicar sua opinião privada (pautada pelos empresários de comunicação), o povo já não engole tão cegamente as versões maquiavelicamente forjadas pelos jornalistas escravizados pela vontade de seus patrões. Ou seja, a opinião pública, hoje em dia, tornou-se menos homogênea, menos previsível e menos manipulável. O povo pode não entender de macroeconomia, mas tem – muitas vezes - sensibilidade suficiente para perceber as mudanças microeconômicas que afetam seu bolso.

É mais do que sabido que os problemas, inclusive os de longe, não podem mais ser assistidos de camarote, nem escondidos tão facilmente debaixo do tapete como se fazia outrora. Por exemplo, jorra-se descontroladamente petróleo no Golfo do México, mas as magnitudes dessa tragédia não recebem a devida atenção e seriedade da mídia, diferentemente dos casos de violência envolvendo pessoas famosas, que viram espetáculos à parte. “Desde o dia 20 de abril e até a quinta-feira passada o poço jogou nas águas do Golfo entre 35 mil e 60 mil barris de petróleo, no que se tornou a maior catástrofe ecológica da história dos EUA.”, alerta uma matéria recente do Portal Ig.

E se uma tragédia do tipo ocorresse no quintal da Venezuela, toda a cobertura seria negativamente amplificada e ganharia colorações forçosamente políticas, pois imagino que a imagem do presidente deste país seria atacada sem piedade pelos mesmos EUA e suas marionetes apaniguadas (como a TV Globo e a revista Veja), arrastando no rodapé das reportagens, por tabela labiríntica, fulanos, sicranos e beltranos (de nossa política doméstica).

Primeiro detalhe: os EUA protagonizaram a crise econômica internacional iniciada em 2008, cujas seqüelas em cascata vieram a jorrar estragos na economia grega (as pátrias do saudoso José Samarago e da atual campeã do Mundo de Futebol que se cuidem). Segundo detalhe: os EUA continuam jorrando soldados impotentes para o Afeganistão e Iraque, enterrando no fundo da lama da política internacional estadunidense o último Nobel da Paz. Eis a equação silenciosa do caos, em uma versão tríplice/tridimensional para não causar cegueira sistêmica: crise ecológica + crise econômica + crise militar = crise ética do paradigma “imperial”.

A voz norte-americana está cada vez mais desautorizada a governar o mundo, assim como a voz da mídia tradicional está cada vez mais enfraquecida para tanger os rebanhos de sua audiência, apesar da eloqüência dos apresentadores de plantão. A América Latina e a mídia alternativa ganharam maior respeito e influência no imaginário dos povos e cidadãos que tentam reciclar sentidos, costurar respostas e reajustar sua missão coletiva neste mundo carcomido por um rodízio renovável de crises. Aquelas que citei, obviamente, foram só uma amostra, das mais visíveis. As crises social, acadêmica e espiritual, por outro lado, caminham na surdina, metabolizando outras incógnitas e inspirando outros pesadelos.

Se há esperanças, devemos mergulhar e transcender nelas para ajudar a desmascarar e salvar o mundo... dos governos desgovernados, dos indivíduos descoletivizados, da identidade submissa das nações, das comunicações desumanas, das candidaturas suicidas, das relações insensíveis, dos prêmios inglórios, dos saberes impotentes, das crenças omissas, das palavras calculadamente inúteis, das propostas retoricamente vazias e até dos medos da desesperança.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sexta com Brasil e sem Globo

Se a mão (ou o braço) que favoreceu um gol brasileiro no jogo contra a Costa do Marfim pela Copa 2010 da África do Sul foi "santo", a atitude de Dunga, ao desabafar contra um jornalista esportivo da Globo na coletiva concedida após esse jogo, parece ter sido "infernal". Pelo menos é o que a "inocente" emissora acha.

Boba a ilusão de achar que o futebol brasileiro precisa rodopiar em torno da Globo e dos seus interesses ambiciosos por audiência a qualquer preço, a começar pelas pretensões de querer escalar a "sua seleção", de querer armar o seu "esquema tático", passando pela sua tentativa (felizmente frustrada) de negociar por cima (ou melhor, nas costas) compromissos de acesso exclusivo a jogadores, até a sua audácia de entrevistar psicólogos para apreciar o "complicado" e "intempestivo" caso Dunga. O babado é o seguinte, mas não espalhe: se Freud não explica, a Globo explica.

Como se toda essa novela (digna de uma Globo, versão "Vale a pena ver - e se informar - de novo") se resumisse a um ou três palavrões expelidos (talvez estrategicamente) como forma - eventualmente saudável - de escape à pressão política diuturna que a Rede Bobo (ops, Globo), de factóide em factóide, tem buscado impor à comissão técnica encabeçada por Dunga. Enfim... há uma goleada de crônicas rolando sobre o episódio. O blogueiro reserva rapidamente convocado acaba de ajudar a lançar a campanha abaixo noticiada de boicote à Globo, em curso acelerado e quase unânime nos gramados da internet.

A bola está com você: invoque sexta-feira (sendo ou não dia 13) os poderes do seu dedo a fim de, na hora do jogo Brasil x Portugal, sintonizar outros canais para assistir a partida. Prove para todas as religiões de bom credo - incluindo os jornalistas de meia tigela - que a Globo, por mais poderosa que (ainda) seja, corporativamente, não é uma entidade onipresente e insubstituível. Se você repassar o e-mail, a democracia esportiva agradece. E lembre-se: futebol brasileiro sem Globo nunca foi tão possível e necessário!

(Comentários do Blog Grito Pacífico, mudando o mundo com você... e sem a Globo)

Na Internet, Dunga ganha apoio contra a Globo
http://cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16717

FONTE: Carta Maior - 22/06/2010

Jornalistas relatam que briga entre Dunga e Rede Globo deveu-se ao fato do treinador da seleção brasileira vetar o privilégio da concessão de entrevistas exclusivas de jogadores para a Globo. Entrevistas teriam sido negociadas pela Globo com presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Dunga não gostou e vetou. Repercussão do episódio indica que a maioria dos internautas está com Dunga e contra a Globo. Cresce no twitter campanha de boicote à Globo na transmissão de Brasil e Portugal na próxima sexta-feira.

(...)

Soccer City, caminho entre o estádio e as tendas da FIFA que abrigam o Centro de Mídia. Galvão Bueno, Arnaldo Cezar Coelho e o diretor da Central Globo de Esportes, Luiz Fernando Lima conversam, não escondem a irritação e nem se preocupam com quem passa ao lado e ouve. O alvo é o técnico da seleção brasileira, Dunga. Minutos antes, na coletiva pós Brasil x Costa do Marfim o técnico, numa dividida bem a seu estilo, deu na canela do comentarista Alex Escobar, da Globo.

Luiz Fernando Lima lembra as conversas recentes da emissora com Dunga, já na África do Sul:

- Falamos com ele duas vezes e ele não consegue entender que não é "a Globo", ele está falando para todo o país...

(...)

Aparentemente, os jornalistas de outras empresas consideram uma grosseria maior o fato de Dunga reagir contra esse tipo de privilégio a uma empresa do que a concessão do privilégio em si mesma. Mas, segundo a repercussão do episódio na internet indica que a maioria dos internautas está com Dunga e contra a Globo.

(...)

[Espalha-se massivamente na internet] a idéia de um boicote nacional à TV Globo na sexta-feira, data do próximo jogo do Brasil. A julgar pelo resultado do movimento desencadeado no twitter contra o locutor Galvão Bueno, a Globo pode estar entrando em rota de colisão não apenas com o temperamento de Dunga, mas com milhões de brasileiros e brasileiras.

Um outro forte indicador disso foi que, na madrugada desta terça-feira, cresceu no twitter o chamado para um #diasemglobo, que estimula as pessoas a verem o jogo entre Brasil e Portugal, sexta-feira, em qualquer outra emissora que não a Globo. Um pedido, aliás, não muito difícil de atender, dada a crescente antipatia do locutor Galvão Bueno.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Questionário sobre Blogosfera

QUESTIONÁRIO SOBRE O PAPEL DA BLOGOSFERA, VOLTADO PARA
USUÁRIOS DA INTERNET QUE POSTAM EVENTUAIS COMENTÁRIOS EM BLOGS

Caro(a) colega, somos estudantes do curso de graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e gostaríamos de solicitar sua colaboração no preenchimento deste questionário para fins de uma pesquisa de campo que estamos realizando sobre o papel da blogosfera na cultura política brasileira. Solicitamos que sua resposta seja enviada até o dia 08/06/2010 para o e-mail pablo.robles@superig.com.br Muito obrigado! Lhe comunicaremos depois o resumo dos resultados a que chegarmos, ok?

Cidade e Estado:_____________________________ Idade:______ Sexo: ( ) Masc. - ( ) Fem.
Grau de Instrução: ( ) Ens. Fundam. ( ) Ensino Médio ( ) Graduação ( ) Pós-graduação
Se for o caso, citar: Graduação:_________________ Pós-graduação:____________________
Exerce atividade profissional: ( ) não - ( ) sim (qual?_________________________________)

1. Que mídias você prefere utilizar para se informar de notícias?
( ) TV ( ) Rádio ( ) Revistas ( ) Jornais ( ) Internet ( ) Celular ( ) Outra:____________

2. Você tem blog? ( ) Não, nunca tive ( ) Não, mas já tive ( ) Sim, tenho
Se marcou um dos “não”, justifique:____________________________________________
________________________________________________________________________
Se “sim”, informe seu nome e endereço na internet, mencionando também o objetivo que motivou sua criação e a freqüência de uso com que você edita ou insere postagens nele.
Nome e Endereço do blog:__________________________________________________________
Objetivo da criação:________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
Frequencia de uso: ( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) mensalmente ( ) esporadicamente
(OBS.: Caso tenha mais de um, informe acima apenas o blog que você considera mais importante)

3. Quais são os três blogs que você mais acessa para ver notícias?

4. Qual foi o blog de notícias/artigos em que você mais postou comentários?

5. Quais são suas motivações ao postar comentários em blogs?

6. Comente se sua participação na blogosfera, seja como comentarista ou mesmo como blogueiro, mudou sua forma de ver o mundo e interagir com ele.

7. De que forma você acha que os blogs têm afetado as outras mídias (TV, jornais, rádio, revistas etc.)

8. Como você avalia a contribuição da blogosfera para a conscientização da sociedade?

9. Você já incentivou colegas a criarem seu próprio blog? Se “sim”, quantos?

10. Além do blog, que outras mídias da internet você costuma utilizar para manifestar opiniões e divulgar escritos e/ou notícias de seu interesse:

sexta-feira, 21 de maio de 2010

POEMITO XVII: Versos em Grito

"A poesia é um grito de alerta
Disparado na medida incerta
Para públicos de mente aberta
Cansados da racionalidade certa"

(VEIA ESTOURADA do Poeta do Social)

POEMITO XVI: Versos em Grito

"A poesia é a verdade escondida,
Quase soterrada pela civilização
A ciência é a mentira maquiada,
Já prostituída pela privatização"

(VEIA ESTOURADA do Poeta do Social)

POEMITO XV: Versos em Grito

"Meu mundo é uma ponte
Desviada para o infinito
Sonhar é o horizonte
Onde dignamente existo"

(VEIA ESTOURADA do Poeta do Social)

POEMITO XIV: Versos em Grito

"O nada é a sombra do tudo
O absoluto é o relativo total
A arte é a coerência do absurdo
A certeza é a escravidão do ideal"

(VEIA ESTOURADO do Poeta do Social)

POEMITO XIII: Versos em Grito

"Antes que cheguemos, precisamos voar
Antes que voemos, precisamos (re)agir
Antes de (re)agir, precisamos (pre)sentir
Antes de (pre)sentir, precisamos (des)pensar"

(VEIA ESTOURADA do Poeta do Social)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Humores e Cores do Futebol

O futebol também pode ser um instrumento de integração humana e solidariedade entre os povos. Apesar da indústria que movimenta as estrelas do futebol ser oligárquica, no sentido estratosférico do termo, a multidão anônima de torcedores que dá popularidade, emoção e repercussão a este esporte têm vocação apaixonadamente democrática.

Pois nenhuma classe, profissão e idade social estão proibidas de colorir e encantar esta festa, usando as cores de cada time e país para desenhar e propagar o arco-íris da alegria, daquela euforia... sem fronteiras, sem preconceitos e, quando sua seleção é campeã, sem limites, uma espécie de orgasmo coletivamente compartilhado e respingado efusivamente entre os sorrisos carnavalescos dos torcedores e torcedoras.

Embora discorde de duas coisas colocadas no começo da notícia que publico (a idéia bem-vinda das frases nos ônibus e a posição acertada de não convocar Neymar e Ganso), achei legal a lista de lemas ludicamente sugeridos para os times da Copa.

Pra frente, Brasil, Bra-Sil, BRASIL; no futebol, na política e na inclusão social; até para que mais e mais revelações de talentos façam revoluções artísticas dentro do campo, das quatro linhas capazes de formar em nossos corações, por obra de efeitos magicamente especiais, geometrias vibrantes de felicidade e identificação coletiva.

FRASES DE PARACHOQUE

http://blogdojuca.uol.com.br/ - 18/05/2010

Por Rafael Klein*

A Fifa deve ser um bom lugar para se trabalhar porque, aparentemente, não tem muito o que se fazer por lá.

Ou vá me dizer que certas bobagens não são frutos do ócio?

A última – e acho que não é tão última assim, porque se não estou enganado já aconteceu na copa passada – é a ideia de que todos os ônibus utilizados pelas seleções no mundial, devem ter frases de incentivo escritas em suas latarias.

Depois, pedem a sei-lá-quem para criar essas frases e o resultado vai do original “Vamos, Suíça”, passando pelo enigmático “Chutando ao estilo Kiwi” até o tocante “Lotado! O Brasil inteiro está aqui dentro!”.

Convenhamos: melhor seria se ao invés desta frase, o ônibus brasileiro levasse o Neymar e o Ganso.

Porém, já que a bobagem está escalada para entrar na copa, é hora de dar uma força, e ficam aqui sugestões mais adequadas aos ônibus de todas as seleções:

África do Sul: Futebol aqui é preto no branco.

Alemanha: A caneca é nossa!

Argélia: Sem essa de nadar, nadar, nadar e morrer nas dunas.

Argentina: Gracias, Dunga.

Austrália: Tirando onda dos adversários.

Brasil: Um ônibus, 10 volantes.

Camarões: Um time meio sem cabeça, mas cheio de pernas.

Chile: Um país inteiro tremendo de esperança.

Coreia do Norte: Vamos bombar nesse mundial!

Coreia do Sul: Vamos nos matar em campo. Mas se o jogo for contra a Coreia do Norte, matamos eles.

Costa do Marfim: Vamos, Elefantes! E ai de quem trombar com a gente.

Dinamarca: Ficaremos com os louros da vitória.

Eslováquia: Perdemos a Tcheca, mas não perdemos a honra.

Eslovênia: Pela milésima vez, não temos nada a ver com a Eslováquia.

Espanha: Não vamos fazer feio: convocaremos a Penélope Cruz.

Estados Unidos: Ê ô, ê ô, o Osama é um terror.

França: Desodorantes podem estar vencidos, o time nunca.

Gana: Gatos em pele de leões.

Grécia: Chuto, logo existo.

Holanda: Ônibus ecológico: fumaça só do lado de dentro.

Honduras: Em busca de um sonho. Ou pelo menos de um presidente.

Inglaterra: Chá com a gente.

Itália: A Copa do Mundo é massa.

Japão: A gente caberia numa van, né?

México: Se buscamos nosso lugar ao sol, porque temos que usar esses malditos sombreros?

Nigéria: Vamos tirar a barriga da miséria.

Nova Zelândia: Mas que diabos da tazmânia estamos fazendo aqui?

Paraguai: Copa do Mundo por apenas R$ 1,99.

Portugal: Seremos campeões em plena Ásia!

Sérvia: Vai dar Zebracovic.

Suíça: Vamos dar um chocolate neles.

Uruguai: Gaúcho é a mãe, tchê.

Ah!, e aproveite que você está aí sem fazer nada (se não não estaria lendo esse texto) e dê a sua sugestão também aí nos comentários.

*Rafael Klein é publicitário.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Quem viver até 2022, lerá?

Entre idéias e ideais, um sonho até óbvio para o mundo dito desenvolvido continua um vergonhoso pesadelo para nós, habitantes de uma nação que ousa tornar-se a quinta economia do mundo em menos de uma década. Mas este “badalado” Brasil, que anda até bem na fita junto a opinião pública mundial, embora a mídia nativa e elitista prefira hipocritamente discordar, carrega um triste fardo, absolutamente anacrônico. Ainda somos, brasileiros e brasileiras (pasmem!), uma massa desigual, vulnerável e manobrável de analfabetos e analfabetas, enquanto alguns países da América Latina e Caribe, com capacidades de investimento mais modestas, já engavetaram exemplarmente o assunto nos anais dos museus: Cuba, Nicarágua, Venezuela, Equador e Bolívia.

Quando as cirandas financeiras desafinam e os bolsos dos especulares emagrecem, todo o universo imediatista dos políticos globais se desespera para reabastecê-los e salvá-los. Hoje na Grécia. Ontem nos EUA. Outrora na Argentina. Amanhã talvez em Portugal, nosso ex-invasor. Entretanto, não conseguem - porque não querem - se mobilizar para atenuar a fome no mundo, que ameaça a barriga de 1 bilhão de terráqueos, segundo dados da ONU. Voltando à outra fome, a de letras, de cultura: nos livraremos da chaga do analfabetismo dentro de 12 anos, como orgulhosamente conclama o Plano Brasil 2022, que vem sendo apresentado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo brasileiro? Ou isso não passa de mais uma euforia pré-Copa do Mundo, mais uma bravata para iludir eleitores em clima de eleições? Quando nossas consciências humanas serão convocadas a (se) educar?

O fundamental é que o Brasil não pode ousar ser gigante pela metade, apenas pelo viés econômico filtrado pelas lentes do PIB, sem combater sua anemia social e cronicamente educacional que insiste em nos apequenar, em nos emburrecer e nos atrasar. E para não complexificar nosso antipatriótico drama, percebam que a questão do meio ambiente sequer entrou em campo. Vencer a ignorância formal não é uma façanha tão mágica quanto ostentar um título mundial de futebol? De que adiantar chorar de alegria com um time campeão para no outro dia chorar de tristeza por não conseguir decifrar como essa felicidade foi narrada pelos jornais? Quem viver até 2022, verá; ou melhor, lerá... A contagem regressiva já começou, mas só se completará se todos nós agirmos para efetivar e acelerar a travessia da ampulheta.

(crônica inspirada na notícia comentada Brasil e o fardo do Analfabetismo)

Brasil e o fardo do Analfabetismo

É triste vir ao mundo e não sonhar, nem que seja através dos livros. Mas o placar trágico do analfabetismo que escancara as contradições sócio-econômicas de nosso país, conforme a matéria adiante prefigura, deverá ser zerado até 2022, quando nossa independência política (parcial) completará 200 anos, pois um povo que ainda não aprendeu a ler minimamente seu passado (por incompetência política historicamente nacional, diga-se de passagem), está completamente desautorizado a escrever um futuro justo e dignamente soberano para a geração que há de vir... e sonhar melhor.

(Comentários do blog Grito Pacífico, mudando o mundo com você)

BICENTENÁRIO, ANALFABETISMO E POTÊNCIA SOCIAL

FONTE: Agência Carta Maior - 11/05/2010
LINK: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16589 - 11/05/2010 - por Beto Almeida.

O Plano Brasil 2022 estabelece metas e define os instrumentos para que o País se torne uma potência social quando comemorar o bicentenário de sua independência. Um país sem analfabetos e miseráveis, com água encanada, tratada e esgoto alcançando a todos. E , sobretudo, reduzindo as dramáticas vulnerabilidades externas de que o Brasil ainda padece. Essa sim é uma forma de comemorar uma data importante. Seria paradoxal falar em independência quando ainda somos dependentes de medicamentos e fertilizantes estrangeiros, só para citar dois exemplos que demonstram o quão perigosa é esta dependência. O artigo é de Beto Almeida.

Talvez seja a primeira vez que o Brasil perceba tanta clareza, realismo e pontaria num projeto estratégico de longo prazo, sem escorregar para um discurso de Brasil Potência do passado ditatorial que desprezava por completo a existência de um povo majoritariamente pobre habitando e construindo este país. Agora, as metas realçam os objetivos sociais. É como se o discurso lúcido do Ministro Samuel Pinheiro Guimarães estivesse a nos alertar: não podemos ser Brasil Potência com milhões de analfabetos, sem saneamento básico, sem cinema, sem cultura, com 60 mil homicídios por ano, com nossa juventude pobre capturada pelo narcotráfico, com a situação dantesca dos nossos hospitais públicos!!!

Naquele discurso anterior, constatava-se, com um tom de arrogância, a defesa de um tipo de desenvolvimento que concentrava a riqueza e penalizava o povo brasileiro. Aí está o resultado: somos um país emergente, mas ainda somos um dos campeões mundiais em desigualdade social! O Plano Brasil 2022 vem para corrigir aquele modelo: temos que ser potência social!

Monteiro Lobato e analfabetismo

Incansável na luta pela democratização da cultura, o genial Monteiro Lobato sempre sentiu a amarga barreira social do analfabetismo a travar o progresso do povo brasileiro. Procurou a família Mesquita, proprietária do centenário jornal paulista. Disse-lhes que a imprensa poderia ter um papel determinante colaborando para a erradicação do analfabetismo, e propôs claramente uma ação prática, conjunta. Um dos membros da família, pensou na proposta, matutou em silêncio e afinal disparou: “Oh Lobato, mas se todos aprenderem a ler e escrever...... quem é que vai pegar na enxada???!!!” Confissão da indiferença social das elites, sempre operando para impedir o combate concreto ao analfabetismo como um das prioridades nacionais.

Enterramos nossos geniais educadores - Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire - possivelmente com a mágoa de não terem alcançado tarefa tão nobre, libertadora e tão realizável. A não ser quando as políticas públicas não priorizam o combate ao analfabetismo. Ele está sempre a nos desafiar. Anísio morreu em circunstância estranhas no auge da ditadura, enquanto Paulo Freire e Darcy foram enxotados para o exílio. Para nossa vergonha, foram altamente reconhecidos internacionalmente pelas suas qualidades, mas não aqui. Vários governos os contrataram para que atuassem nas políticas públicas de superação da ignorância e do atraso social. Darcy esteve no Chile de Allende e no Peru de Alvarado a enfrentar as mesmas oligarquias que aqui cultivaram sempre a manutenção do analfabetismo. Paulo Freire caminhou com seu método libertário pela África que derrotava o colonialismo português e depois foi recebido de braços abertos pela Nicarágua Sandinista que, com um ano da Cruzada Nacional de Alfabetização, viu um povo campesino e pobre aprender a ler e escrever. Com a ajuda de professores cubanos - muitos assassinados pela contra-revolução a soldo norte-americano - pois Cuba desde o início da década de 60 já não convivia mais com esta praga social do analfabetismo, erradicado em 1 ano, com intensa e generosa mobilização social, e já tinha condições de exportar educadores.

De tal forma o analfabetismo nos persegue e nos desafia que em 1988, na Constituição Cidadã, em suas Disposições Transitórias, é fixado o prazo de 10 anos para a sua eliminação. Como tantas metas constitucionais, esta também não foi cumprida. No entanto, foi cumprida religiosamente aquela contida no artigo 166 da Carta, praticamente sacralizando o pagamento dos serviços da dívida, proibindo constitucional mente sua suspensão, em qualquer situação. Esta é uma invenção financeira brasileiríssima, nenhum país tem dispositivo semelhante em sua Constituição. Serviços da dívida pagos aos rentistas, intocáveis; combate ao analfabetismo.....deixa prá depois.

Sabotagens

A Argentina praticamente erradicou o analfabetismo em 1952. Ele tendeu a ressurgir na década neoliberal, quando mais se espalharam villas miséria (favelas) e desemprego pelo País vizinho. Segundo estudos do prof. Márcio Pochmann, presidente do IPEA, se a política econômica implantada na Era Vargas não tivesse sido demolida o Brasil seria hoje a terceira maior economia do mundo. Foi lá atrás o início do Programa Nuclear Brasileiro, a industrialização, a nacionalização da energia, da marinha mercante,das ferrovias, medidas combinadas com a implantação de direitos trabalhistas e a seguridade social. Uma grande sabotagem veio em 1954, com o golpe que leva o presidente Vargas ao suicídio.

Nova sabotagem veio em 1964, com a plena vitória do golpe que não alcançou seu objetivo total em 1954, o tiro no coração frusta o golpismo. A derrota da ditadura não impediu que também a estrutura montada na Era Vargas pudesse ser preservada no vendaval neoliberal dos anos 90.

Hoje, novamente, o povo brasileiro está buscando impulsionar, com suas lutas e o seu voto, um processo de mudanças que permita ao Brasil ter toda sua potencialidade desenvolvida como nação justa, democrática e soberana. O Plano 2022 é uma expressão desta busca. Mas, ainda assim, sabotagens várias continuam operando.

Uma delas, a pressão para a manutenção de altas taxas de juros. A cada nova elevação quantas pequenas e médias empresas vão à falência? Quantos novos desempregados surgem? Quantos destes não vão engordar uma população carcerária tratada de modo animal, sem que as políticas de direitos humanos consigam evitar a prática diária de torturas, aumentando a ferocidade destes presidiários quando soltos? A taxa de juros alta inibe a produção, o crescimento da economia que permitiria gerar mais emprego, fortalecer o consumo, o mercado interno. Eis aí uma sabotagem promovida pelo poder financeiro, com apoio midiático, que sempre torce e enaltece a elevação dos juros.

Possibilidades

Apesar disso, as possibilidades de que as metas do Plano Brasil 2022 sejam cumpridas são reais, inclusive com a clara possibilidade de que tais armadilhas sejam desativadas por meio do fortalecimento das políticas públicas. Os bancos públicos brasileiros se fortaleceram com a crise internacional do capitalismo eclodida em 208 e ainda não debelada, muito pelo contrário. As lições são claras: os países que menos sofreram com a crise são aqueles que possuem alto grau de controle estatal sobre o seu sistema financeiro, China e Índia, fundamentalmente.

Enfrentadas estas sabotagens, teremos sim possibilidades não apenas de promover no Brasil um crescimento econômico que não se combine com indecente acumulação de capital, mas com sua distribuição. Muitas das políticas públicas já implementadas recentemente, como a Bolsa Família, cuja expansão é sugerida pelo Ministro Samuel Pinheiro Guimarães, já estão provando que ações de estado são capazes sim de reduzir a desnutrição, aumentar o consumo de bens essenciais, muito embora a miséria extrema ainda não tenha sido totalmente debelada. Esta é a meta.

Ao tempo em que registramos a expansão do número de universidades públicas, de escolas técnicas, de ampliação dos recursos para a educação básica, a própria colocação da meta de erradicar o analfabetismo para 2022 talvez indique, por si só, não ter havido, até o momento, uma priorização de medidas eficazes para alcançá-lo.

A comparação é inevitável. Países como economia muito mais frágeis e como menos recursos que a brasileira, como Cuba, Nicarágua, Venezuela, Equador e Bolívia - esta talvez a economia mais débil da América do Sul - já conseguiram erradicar o analfabetismo, tal como anunciou a UNESCO. Nem mesmo estas simples informações objetivas são divulgadas à sociedade brasileira. Recentemente, um experimentado professor de Relações Internacionais de universidade pública confessou desconhecer o fato de que a Bolívia, com toda sua dramática herança social, já tinha alcançado superar o analfabetismo. E duvidou. Até quando lhe foi apresentada a declaração da UNESCO reconhecendo a gigantesca conquista da nação andina. Informação que a mídia jamais divulgou....

Ora, se a Bolívia conseguiu, por que não nós? Se a China conseguiu, há muito tempo, alfabetizar seu povo, arrancá-lo do poço de miséria e doenças em que vivia, transformando-se hoje numa potência que atua no espaço sideral e no país que mais fabrica computadores do mundo, por que não nós?

O Plano Brasil 2022, que será submetido a consulta pública, tem este mérito. Define claramente os alvos, não ignora nossa gigantesca dívida social, não teme afirmar que pretendemos ser uma potência olímpica, que devemos ter índices de saúde e educação muitíssimos mais elevados, não teme reconhecer que ainda estamos em dívida com os brasileiros. Já não exalta mais um tipo de crescimento reduzido a indicadores de produção e de economia. É um claro sinal de alerta para que saibamos, como Nação, rejeitar a idéia de um Brasil potência com um povo miserável, sem educação, desdentado, sem saúde, sem saneamento, sem emprego, com toda uma juventude nos cárceres. O povo brasileiro, pela sua história, merece que os trilionários recursos do petróleo pré-sal, ao invés de abocanhados pelas transnacionais que levaram Vargas à morte, sejam a alavanca fundamental de transformações sociais que transformem o Brasil não apenas numa economia forte, mas também numa potência social. O Plano Brasil 2022 é um sinal de consciência de que isto é possível! Muito embora, as sabotagens existam e devam ser enfrentadas corajosamente.

(OBS.: indico a crônica Quem viver até 2022, lerá?, inspirada nesta postagem.)