quinta-feira, 2 de outubro de 2008

ATENTADO: Contra a Educação

Posto aqui um protesto justíssimo que recebi por e-mail contra a truculência midiática da Veja, que deveria se chamar Não Veja, por sua capacidade - talvez insuperável entre as revistas nacionais - de envenenar e difamar conteúdos, pessoas e ideais, cuja chama de amor projeta luzes sem fim no horizonte do universo. Até meu rosto se molhou e meu óculos embaçou diante deste ataque descarado aos princípios mais elevados e libertadores de quem tantou se empenhou em mudar o mundo e nos alfabetizar para a cidadadia através da educação. Viva Paulo Freire.

VIÚVA DE PAULO FREIRE ESCREVE CARTA DE REPÚDIO À REVISTA VEJA

Na edição de 20 de agosto a revista Veja publicou a reportagem 'O que estão ensinando a ele?', De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, baseada em pesquisa sobre a qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:
'Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização'

Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:

'Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE - e um dos maiores de toda a história da humanidade -, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo que a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado , contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do 'filósofo' e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos.

Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu 'Norte' e 'Bíblia'. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso País, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire'.

4 comentários:

Sidarta disse...

A revista Veja, realmente, não dá para ser levada a sério. Publique suas poesias aqui, rapaz! Abraço!

Anônimo disse...

A máxima: "atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher" caiu muito bem nesta notícia.

Anônimo disse...

Eu sou um cara que repudio a Veja. Não existe neste país um veículo de imprensa tão racista, nefasto e elitista que a revista Veja. Matérias tendenciosas e recheadas de preconceito são publicadas a cada edição. Se tivesse poderes baniria para sempre a Veja. O mais triste é que a "pobre" classe média do país lê e assina a revista. Acham que a Veja é o máximo, que ela é a única revista brasileira que existe. Você vai a um consultório médico e o que tem lá: Veja. A classe média é pode ter um pouco de dinheiro, mas é pobre de conteúdo e inteligência. Mas tenho fé que no futuro a Veja seja uma simples revistinha que vende nas bancas de jornais.

Anônimo disse...

Olá amigo!
Em primeiro lugar, sinto uma imensa vontade de me solidarizar com Ana Maria, imagino o quanto foi duro para ela tomar conhecimento de tão desrespeitoso e injusto comentário sobre seu companheiro de vida, a quem ela acompanhou em seus esforços pelo bem comum. e todos sabemos o desafios gigantescos implicados na vida daqueles que lutam por um mundo melhor.
Num segundo momento, considero um ultraje moral, intelectual, emocional, o texto da citada matéria da Veja, no meu entender caberia processo jurídico, além de interdição pela prática de jornalismo de desinformação.
Gostaria de me comunicar com Ana Maria para dizer a ela que Paulo Freire vive sim, não só no coração de todos que o admiram, bem como nas sementes que lançou e ficarão para a posteridade!
um abraço e obrigada pela informação!