terça-feira, 11 de maio de 2010

Quem viver até 2022, lerá?

Entre idéias e ideais, um sonho até óbvio para o mundo dito desenvolvido continua um vergonhoso pesadelo para nós, habitantes de uma nação que ousa tornar-se a quinta economia do mundo em menos de uma década. Mas este “badalado” Brasil, que anda até bem na fita junto a opinião pública mundial, embora a mídia nativa e elitista prefira hipocritamente discordar, carrega um triste fardo, absolutamente anacrônico. Ainda somos, brasileiros e brasileiras (pasmem!), uma massa desigual, vulnerável e manobrável de analfabetos e analfabetas, enquanto alguns países da América Latina e Caribe, com capacidades de investimento mais modestas, já engavetaram exemplarmente o assunto nos anais dos museus: Cuba, Nicarágua, Venezuela, Equador e Bolívia.

Quando as cirandas financeiras desafinam e os bolsos dos especulares emagrecem, todo o universo imediatista dos políticos globais se desespera para reabastecê-los e salvá-los. Hoje na Grécia. Ontem nos EUA. Outrora na Argentina. Amanhã talvez em Portugal, nosso ex-invasor. Entretanto, não conseguem - porque não querem - se mobilizar para atenuar a fome no mundo, que ameaça a barriga de 1 bilhão de terráqueos, segundo dados da ONU. Voltando à outra fome, a de letras, de cultura: nos livraremos da chaga do analfabetismo dentro de 12 anos, como orgulhosamente conclama o Plano Brasil 2022, que vem sendo apresentado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo brasileiro? Ou isso não passa de mais uma euforia pré-Copa do Mundo, mais uma bravata para iludir eleitores em clima de eleições? Quando nossas consciências humanas serão convocadas a (se) educar?

O fundamental é que o Brasil não pode ousar ser gigante pela metade, apenas pelo viés econômico filtrado pelas lentes do PIB, sem combater sua anemia social e cronicamente educacional que insiste em nos apequenar, em nos emburrecer e nos atrasar. E para não complexificar nosso antipatriótico drama, percebam que a questão do meio ambiente sequer entrou em campo. Vencer a ignorância formal não é uma façanha tão mágica quanto ostentar um título mundial de futebol? De que adiantar chorar de alegria com um time campeão para no outro dia chorar de tristeza por não conseguir decifrar como essa felicidade foi narrada pelos jornais? Quem viver até 2022, verá; ou melhor, lerá... A contagem regressiva já começou, mas só se completará se todos nós agirmos para efetivar e acelerar a travessia da ampulheta.

(crônica inspirada na notícia comentada Brasil e o fardo do Analfabetismo)

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