Poderia dedicar intermináveis linhas para comparar os avanços e resultados do governo Lula em relação ao seu antecessor FHC. Ambos tiveram o mesmo tempo como presidente. O de melhor educação formal foi o que menos fez para o povo. Aquele que nem inglês fala direito reposicionou o Brasil no mapa do mundo, perante os países e idiomas de todos os quadrantes.
Infelizmente, vivemos tempos efêmeros, líquidos, descartáveis. Somos bombardeados por informações curtas, rápidas e episódicas; e o que é pior, nem sempre imparciais, isentas e éticas. Falar e divulgar a verdade pode aborrecer o patrão e causar sua demissão e sua conseqüente exclusão do “mercado”. Noticiar coisas boas não dá lucro. Tragédias parecem mais eficentes.
Diante desses dois fatos (Lula/PT objetivamente melhor que FHC/PSDB; e uma mídia que, por informar mal, acaba nos deseducando e despolitizando), como entender a campanha Dilma x Serra e avaliar a qualidade da cidadania brasileira? Em vez de debatermos propostas e de discutirmos projetos estratégicos de país, nos deixamos infectar e hipnotizar por boatos.
O boato não é nada mais nada menos que a principal arma utilizada pela campanha Serra. A arma mais medíocre, mais primitiva, mais covarde. As eleições desse ano, como tantas vezes fizeram com o Lula, estão sendo pautadas pela tragédia. Uma voz aqui e acolá tenta elevar o nível, mas o grosso da estratégia do Serra “do bem” é espalhar o mal e associá-lo à Dilma.
Como toda tragédia tem sua face cômica, vamos a ela: a mulher do “bonzinho” Serra mordeu a própria língua e sua máscara de “virtude maternal” caiu: a Mônica Serra, quem diria, após revelações de uma ex-aluna sua e repercussões na mídia alternativa, assumiu já ter abortado, conforme noticiou a própria Folha de São Paulo (jornal tradicionalmente pró-Serra e anti-Lula): http://mariafro.com.br/wordpress/?p=20474. O feitiço voltou como bumerangue ao feiticeiro.
Quem opta por fazer valer conscientemente seu voto - partindo friamente da realidade coletiva do país e não dos fantasmas individuais do medo impregnados nas entranhas de preconceito que se nutrem dos farelos de egoísmo que pairam na moralidade humana - prefere a Dilma, mesmo que essa adesão não seja automática e desprovida de criticidade, como professou o PSOL e emendou um editorial do Brasil de Fato cujo diagnóstico foi ecoado por Emir Sader: “Dilma não é o governo dos nossos sonhos. Serra é o governo dos nossos pesadelos”.
Eu deveria saltar nesse testemunho o fator Marina Silva, pois acho muito ambígua e contraditória a postura do PV, que vem sendo assediado pelo PSDB em troca de alguns Ministérios caso Serra vença. Ver o Serra citando Chico Mendes soa tão oportunista e patético quanto se FHC viesse a citar o Che Guevara para seduzir os jovens da geração passada. Para quem votou em Marina para enriquecer o debate político no segundo turno, viu que o tiro até agora está saindo pela culatra, conforme argumentei no princípio do texto.
De qualquer forma, devemos aguardar os posicionamentos finais da Marina quanto ao duelo Dilma x Serra. De antemão, cabe a ressalva de que a neutralidade geralmente é omissa e pode chegar a ser burra, no sentido da incoerência histórica e biográfica. E por falar em neutralidade, o que penso do voto nulo, o clássico voto de protesto? Começo com a tese mais pragmática que minha essência idealista consegue tolerar: existe a opção do país ser presidido por ninguém, pelo nada, pelo acaso? Não existe: alguém (oxalá uma mulher) será eleito(a) para tal.
Sobre essa questão, escutemos o Código Eleitoral Brasileiro (Lei nº 4.737/art. 224) diz que: “se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do estado nas eleições federais e estaduais, ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações, e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias”. Quando se espalhou essa cláusula, houve quem achasse equivocadamente que os novos candidatos teriam que ser outros, mas isso não procede.
Sou pessoalmente socialista, e tenho mobilizado essa minha inclinação política através dos trabalhos sociais que desenvolvo há 11 anos em ONGs, dos escritos (em verso e prosa) que posto em meu blog e das frases reflexivas que ponho nas redes sociais da internet, como twitter, orkut/facebook e MSN. A propósito, um dos meus sonhos é que, a partir dos meus 50 anos de idade, eu possa encontrar mais tempo e melhores condições para me dedicar de forma mais atenta e livre à minha produção escrita e quem sabe fecundar algum romance. Mas se eu “abortar” antes algum livro solo de poesias (sociais), por favor, não me denunciem.
Cara pálida, mas o que o parágrafo anterior tem a ver com a Dilma e o voto nulo? Calma, eu explico. Tem a ver com minha atitude regular, contaste e radical de "protesto" contra o sistema capitalista. Quem já mergulhou no meu blog, se banha facilmente com essa minha orientação. Mas isso me impede de usar cartão de crédito? Não. De buscar negociar serviços e projetos sociais remunerados para sobreviver? Também não. Afinal, respiramos capitalismo.
Igualmente, respiramos o atual modelo republicano, presidencialista e representativo que compete à democracia política brasileira. Como poderia votar nulo se pago impostos e gero receitas para usufruir de bens e serviços públicos, desde o ônibus que pego para trabalhar, passando pelo Programa Luz para Todos que reduz minha taxa de aluguel até a atual faculdade pública de Ciências Sociais que curso na UFC, como estudante da primeira turma noturna que foi aberta (semestre 2009.1) – ampliação essa favorecida pelo governo Lula.
Desculpem se estiquei demais o texto. Tenho esse problema crônico e cíclico de TPM (Tensão de Prolixidade Máxima). Mas toda justificativa pública deve ser minimamente fundamentada em princípios, experiências e atitudes. Face ao exposto, declaro que Sou Dilma e a desejo como Presidente do Brasil. O que não significa dizer que me calarei e me acomodarei quando ela for eleita e alegrar a maioria das mulheres, homens, jovens e idosos do país. Termino este manifesto pessoal, independente e suprapartidário com a seguinte reflexão:
“Esses regimes são liberais: não recorrem essencialmente à coerção, mas a uma espécie de semi-adesão indolente da população. Esta acabou finalmente sendo penetrada pelo imaginário capitalista: a finalidade da vida humana seria a expansão ilimitada da produção e do consumo, o suposto bem-estar material etc. Em conseqüência disso, a população fica totalmente privatizada. O slogan metrô-trabalho-cama [métro-boulot-dodo] de 1968 transformou-se em carro-trabalho-Tv. A população não participa da vida política: votar uma vez a cada cinco ou sete anos em alguém que não se conhece, sobre problemas que não se conhece e que o sistema faz tudo para impedir que você conheça não é participar. Mas para que haja uma mudança, para que haja realmente autogoverno, é decerto preciso mudar as instituições para que as pessoas possam participar da direção dos assuntos comuns; mas também é sobretudo preciso que mude a atitude dos indivíduos com relação às instituições e à coisa pública, a res publica, o que os gregos chamavam ta koina (os assuntos comuns). Pois, hoje, dominação de uma oligarquia e passividade e privatização do povo são apenas os dois lados de uma mesma moeda”
(CORNELIUS CASTORIADIS, extraído do livro “Uma Sociedade à Deriva”, pág. 16)
1 comentários:
Pablo,
O Mundo de cabeça para baixo e você com a sua erguida,olhando fixamente para os seus ideais.Admirável.
Muita caca para pouco penico,canta uma música da sessão das sete.
De fato,o debate político e estratégico não está ocorrendo nesse segundo turno.Só vejo sujeira para todo o lado.Lamentável.
Seguirei minha linda de reciocínio : votarei em Dilma por conciliar um pouco do meu idealismo e muito do meu pragmatismo.
Parabéns pelo texto.
Nertan Rabelo
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