quinta-feira, 15 de novembro de 2007

COMENTÁRIOS: Uma Sociedade à Deriva


Uma Sociedade à Deriva: "carro-trabalho-Tv"

Livro: UMA SOCIEDADE À DERIVA: ENTREVISTAS E DEBATES – 1974-1997

( Cornelius Castoriadis, Ed. Idéias e Letras, 310 p. – Ano 2006, São Paulo )

[...] PG. 16 >

Que é o projeto de autonomia individual e coletiva?

É o projeto de uma sociedade onde todos os cidadãos têm a mesma possibilidade efetiva de participar da legislação, do governo, da jurisdição e por fim da instituição da sociedade. Esse estado de coisas pressupõe mudanças radicais nas instituições atuais. É nesse sentido que pode ser chamado de projeto revolucionário, subentendendo-se que revolução não significa massacres, rios de sangue, o extermínio de chouans ou a tomada do palácio de Inverno. É claro que esse estado de coisas está muito longe do sistema atual, cujo funcionamento é essencialmente não democrático. Nossos regimes são equivocadamente chamados democráticos, quando na verdade são oligarquias liberais.

Como esses regimes funcionais?

Esses regimes são liberais: não recorrem essencialmente à coerção, mas a uma espécie de semi-adesão indolente da população. Esta acabou finalmente sendo penetrada pelo imaginário capitalista: a finalidade da vida humana seria a expansão ilimitada da produção e do consumo, o suposto bem-estar material etc. Em conseqüência disso, a população fica totalmente privatizada. O slogan metrô-trabalho-cama [métro-boulot-dodo] de 1968 transformou-se em carro-trabalho-Tv. A população não participa da vida política: votar uma vez a cada cinco ou sete anos em alguém que não se conhece, sobre problemas que não se conhece e que o sistema faz tudo para impedir que você conheça não é participar. Mas para que haja uma mudança, para que haja realmente autogoverno, é decerto preciso mudar as instituições para que as pessoas possam participar da direção dos assuntos comuns; mas também é sobretudo preciso que mude a atitude dos indivíduos com relação às instituições e à coisa pública, a res publica, o que os gregos chamavam ta koina (os assuntos comuns). Pois, hoje, dominação de uma oligarquia e passividade e privatização do povo são apenas os dois lados de uma mesma moeda.

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