quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Brasil deveria oficializar seu repúdio a Israel

Segue um artigo corajoso, lúcido e direto que apela diretamente à consciência dos governantes e cidadãos brasileiros. A péssima notícia é que, no momento em que faço esse comentário, a contabilidade sangrenta do genocício nazi-sionista contra Gaza já está beirando a marca de 1000 vítimas, fato que duplica a urgência reivindicada pelo texto e amplia incotestavelmente sua legitimidade. Nem as alas conservadoras e subservientes têm o direito de fazer vista grossa frente à esta barbárie. Os discursos vagos devem ser convertidos em atitudes concretas. O Brasil já não é mais tão capacho dos EUA como antigamente. Chegou a hora dos parlamentares, intelectuais e forças progressistas de nosso país repudiarem diplomaticamente a arrogância cínica e criminosa de Israel. Como as palavras abaixo deixam claro: a questão não é ser cúmplice do Hamas; o que não se pode admitir é ver o extermínio de um povo de camarote, como se o terrorismo de Estado perpetrado tivesse lugar em outro planeta.

(Comentários indignados do Grito Pacífico, mudando o mundo com você)

PELO IMEDIATO ROMPIMENTO COM ISRAEL!

Por Maurício Thuswohl

FONTE: Agência Carta Maior - 07/01/2009
LINK: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4069&boletim_id=513&componente_id=8910

“Muitas crianças palestinas estão morrendo e quase nenhuma criança israelense foi morta. Por quê? Porque nós cuidamos das nossas crianças.” (Shimon Peres, presidente de Israel, em 6 de janeiro de 2009)

De acordo com os dados divulgados periodicamente pela ONG internacional Save the Children, foi ultrapassada na terça-feira (6) a marca de 100 crianças palestinas assassinadas desde o início da última onda de agressões perpetrada por Israel. No mesmo dia, ataques aéreos israelenses destruíram três escolas da ONU na Faixa de Gaza, deixando cerca de 30 mortos. Horas antes, uma bomba caiu sobre uma casa onde cerca de 20 jovens recebiam de dois militantes dos Hamas treinamento de primeiros-socorros para ajudarem parte das milhares de vítimas palestinas. Não houve sobrevivente.

Ocorridos num único dia de combate, em meio aos milhares de episódios estarrecedores vividos em Gaza na última semana, esses eventos mereceram o repúdio internacional e fizeram crescer a pressão sobre o governo israelense para um cessar-fogo imediato. Respaldado pelo sólido apoio político e diplomático dos Estados Unidos, no entanto, os falcões-de-guerra israelenses, até o momento em que escrevo estas linhas, admitiram apenas a abertura de um “corredor humanitário” durante três horas por dia para que comida e medicamentos finalmente cheguem aos palestinos.

Face à impotência do Conselho de Segurança da ONU e ao bloqueio das discussões exercido pelos EUA, a tentativa de costura de uma solução que leve ao fim imediato das hostilidades sobrou para a União Européia. Capitaneados pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, os esforços europeus, no entanto, têm encontrado maior eco junto aos países árabes, Egito à frente, do que propriamente junto a Israel, que, como faz nos últimos 60 anos, mantém postura de arrogância e desprezo em relação à via diplomática multilateral.

Os países árabes, por sua vez, também repetem o velho cenário que se divide entre os regimes aliados dos Estados Unidos, liderados pela Arábia Saudita, e os regimes inimigos declarados ou velados de Israel, como Síria e Jordânia, entre outros. A história ensina que, na hora em que Israel resolve atacar com A maiúsculo, nenhum dos dois lados da elite árabe costuma mover uma palha em favor de palestinos, libaneses ou quem quer que seja.

Qual papel deve assumir o Brasil, postulante a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, diante dessa paralisia? O melhor e mais corajoso caminho a ser seguido é o imediato rompimento de relações diplomáticas com o governo assassino de Israel. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem diante de si a oportunidade de fazer valer todo o capital político acumulado no cenário internacional ao longo dos últimos seis anos e indicar claramente que a construção de um novo patamar de entendimento entre as nações, desejo manifesto de seu governo, não mais tolerará demonstrações unilaterais e desproporcionais de força militar.

É possível romper relações com Israel sem declarar apoio ao Hamas ou abandonar a posição neutra em relação ao conflito palestino-israelense. O que não dá mais é para assistir calado ao extermínio de um povo. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, como bem demonstrou o governo da Venezuela. No mesmo dia em que foi ultrapassada a marca de 100 crianças palestinas mortas, o presidente Hugo Chávez declarou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países e expulsou de Caracas o embaixador de Israel. Para justificar seu ato, Chávez afirmou que “Israel está promovendo um holocausto na Faixa de Gaza”.

Seguir o mesmo caminho da Venezuela consolidaria o papel político de liderança entre os países emergente exercido pelo Brasil no cenário diplomático internacional. Significaria também, mesmo que isso traga pouca conseqüência prática e imediata para quem está recebendo bomba na cabeça, um importante gesto de solidariedade do “mundo real” face ao martírio do povo palestino. Lula, se tomar essa atitude corajosa, mais uma vez colocará a política externa de seu governo a serviço da construção de um mundo menos injusto.

A simpatia do presidente brasileiro pela causa palestina não é segredo para ninguém. Em entrevista ao jornal Valor publicada na segunda-feira (5), o assessor especial de Política Externa da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, classificou a ofensiva israelense em Gaza como “terrorismo de Estado”. Em nota assinada por seu presidente, Ricardo Berzoini, o PT também condenou a ofensiva israelense e rechaçou o argumento de “autodefesa” utilizado por Israel. O rompimento temporário com Israel nas atuais circunstâncias seria, portanto, um caminho natural e coerente para o governo Lula.

Maurício Thuswohl é jornalista.

4 comentários:

Unknown disse...

obviamente nao quero guerra - mas nao podemos esquecer de algo: nao é um ataque insano de israel contra palestinos e sim um revide de ataques do hamas contra israel. o hamas nao aceita a existencia de israel - se o hamas colocar uma bandeira branca e acabar com o fanatismo israel para a guerra na hora - os judeus estao no seu direito de se defender. por que a midia nao explora isso?????

Wander Veroni Maia disse...

Oi, Pablo!

Muito legal esse artigo que vc reproduziu por mostra de perto a omissão de vários líderes políticos, não só o Brasil, a este genocídio. Acho que os dois lados estão errados e tem muita "picuinha" histórica/religiosa/política que precisa ser debatida de forma mais inteligente e responsável.

Abraço,

=]

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PABLO ROBLES disse...

Oi, André, obrigado pelo comentário

Considero o argumento "Hamas não reconhece Israel" um tanto falacioso, já andei lendo artigos diversificados que desconstroem essa tese, mesmo porque ela, a meu ver, é um posicionamento subjetivo por parte de determinados correntes, nunca foi nem será um consenso no Hamas

Estudos e matérias embasados do Oriente Médio tem demonstrado que Israel vem arquitetando esse ataque há vários meses, usando como principal estratégia o agravamento do bloqueio a Gaza. Seria simplismo supor que Israel está apenas reagindo, até porque Israel já quebrou historicamente vários acordos de paz na região, abusando de sua força militar, arrogância política e proteção norte-americana

Mesmo que Hamas não seja santo, pois não defendo ele, é preciso lembrar que eles foram eleitos democraticamente (EUA incentiva a democracia para dividir grupos e acirrar divisões, mas quando a democracia reinvidica autonomia ideológica, esses mesmos grupos se tornam terroristas)

E o terrorismo de Estado, que mata indiscrinadamente e pisam encima das resoluções da ONU, onde fica?

Abraços!

PABLO ROBLES disse...

Oi, Wander, valeu

Esse conflito é a ponta do iceberg de um barril de pólvora gigante, é preciso sair do imediatismo e recapitar o contexto de opressão e enfraquecimento dos povos da Palestina em torno de sua luta por direito a um Estado próprio, pois a Faixa de Gaza virou um gueto de Israel

Abraços