domingo, 13 de janeiro de 2008

COMENTÁRIOS: O Mosaico Partido


LIVRO: Mosaico Partido (Ladislau Dowbor. Ed. Vozes, 2000).

CONTEÚDO TRANSCRITO:

[...] Pág. 137 >>>

O essencial, para nós, é mostrar que o cidadão comum não é necessariamente impotente. Pode votar com o seu bolso na hora da sua compra, com a sua poupança na hora da aplicação financeira, com o seu trabalho voluntário na hora de apoiar as organizações da sociedade civil que estão surgindo por toda a parte. É impressionante o número de pessoas que preferem optar por um salário menor em organizações do terceiro setor, e socialmente útil, do que passar a vida tentando ostentar um sucesso individual vazio.

O mal-estar que sentimos não é necessariamente de esquerda ou de direita, não é necessariamente de rico ou de pobre, de país desenvolvido ou subdesenvolvido. É um mal-estar civilizatório, ou cultural no sentido mais amplo deste termo. O ser humano abriu a caixa, libertou fantásticas tecnologias, imensos potenciais científicos. Mas as suas necessidades continuam sendo prosaicamente humanas. Adaptar as tecnologias e o potencial econômico, para que sirva às necessidades humanas, essa é a tarefa simples e imensamente complexa com que nos defrontamos. Esta tarefa não exige mais produtos, exige mais iniciativa e organização, exige mais inteligência social. E não depende, fato de imensa importância, da espera pela chegada ao poder de uma classe ou de um personagem redentor. Inclusive, é provável que não surgirá um poder político diferente enquanto não construirmos pela base uma sociedade que se rearticule e reassuma as rédeas do seu desenvolvimento.

(...)

Não é o espectro da foice e do martelo que ronda hoje as megaempresas do dinheiro, da mídia, da especulação, da manipulação, e os seus eternos suportes políticos. É uma rejeição cultural, é o imenso saco cheio de uma sociedade que quer outra coisa, e está arregaçando as mangas.

<<< Pág. 139 [...]

MEUS COMENTÁRIOS:

O livro está dividido em três partes: mosaicos do passado – que aborda as trajetórias, vivências e reflexões do autor; o mosaico do futuro – que propõe algumas tendências e desafios institucionais da sociedade; e o mosaico reconstruído –que alerta o leitor para os perigos da fragmentação e o convida para a busca de atitudes mais sistêmicas. O conteúdo que comentarei essa a terceira parte e por conseguinte o livro.

De fato, podemos mais, valemos mais e somos mais do que normalmente nos fazem crer. Por maiores que sejam as pressões inescapáveis e influências incontroláveis que permeiam a existência, sempre haverá uma margem de manobra para exercermos a identidade, individualidade e livre-arbítrio que nos é próprio. Algumas vezes parecemos estar sufocados em meio a exigências alheias, mas temos que evitar essa velada escravidão.

Participar de associações civis, projetos comunitários ou movimentos sociais é um excelente exercício de cidadania política, responsabilização pessoal e intervenção no mundo. É muito fácil assistirmos de camarote, como platéias omissas, o conjunto de processos, iniciativas e decisões que outros empreendem em nosso lugar, contrariando muitas vezes as expectativas da maioria ou promessas publicamente anunciadas.

Não se questiona os benefícios da tecnologia e a importância da economia em si, enquanto áreas fundamentais para a produção avançada e a distribuição coletiva de bem-estar. O problema reside essencialmente, como bem destaca o autor, na apropriação, manipulação e distorção desses aspectos em prol dos interesses privatistas de uma minoria, que se fecha na redoma de suas ambições e esvazia suas capacidades humanas de convivência.

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