sábado, 16 de maio de 2009

Assim estamos com o mito Obama

Assim estamos com o mito Obama

Passados os cem dias iniciais de Obama na Casa Branca e enquanto o espetáculo da gripe suína despontava, negociações sujas de lama começaram a mostrar melhor o cheiro do caráter de Obama: verniz progressista de pop-star com essência mais conservadora que o mundo pensava.

Não é à toa que no começo do mês mais de 100 civis do Afeganistão foram atingidos pelo “espirro” letal dos bombardeiros americanos. Para que autorizar os soldados norte-americanos a combaterem na lama, no chão a chão? Só se fosse para arriscarem morrer ou pelo menos arranharem os broches do Obama que alguns iludidos devem ostentar em suas fardas.

Vamos acompanhar a metamorfose ambulante do sujeito político mais poderoso do planeta, tomando emprestado notícias publicadas na internet pela Folha de S. Paulo:

Era uma vez (em 27/01/2009)
"Após Guantánamo, Obama terá de lidar com prisão no Afeganistão"
“Bastaram 48 horas na Casa Branca para que o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenasse o fechamento do polêmico centro de detenção da base militar americana em Guantánamo”

Perceberam o entusiasmo da matéria que futuramente se revelaria etérea?
(mas então...)

Não muito tempo depois (em 15/05/2009)
Obama anuncia manutenção dos tribunais para suspeitos de terrorismo

Percebam que, como informa essa mesma matéria, o mito Obama se desfez duas vezes em uma única semana, para o desespero dos crédulos de todas as democracias:
“Esta é a segunda decisão controversa de Obama em menos de uma semana. O presidente rejeitou a divulgação das fotos de torturas cometidas por agentes americanos contra prisioneiros no Iraque e Afeganistão alegando que as imagens colocam em risco os soldados americanos.”

O que podemos aprender com essa frustrante notícia?

Lanço uma hipótese pedagógica:

Obama, ao decidir manter os tribunais criminosos, parece que não leu nem o prefácio do livro do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (Veias abertas da América Latina), entregue pessoalmente por Hugo Chavez no encontro de Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago.

As veias mudaram (em grande parte) de endereço e agora o sangue do imperialismo vaza das artérias do Afeganistão, como vimos, e também das tubulações desumanas do Iraque, onde os atentados pipocam tão corriqueiramente que a mídia ocidental ou esquece vez por outra de noticiá-los ou já deve estar enjoada de tanto mostrá-los.

Pois bem - voltando a falar de literatura - não faltaram ilustres escritores que, embarcando no sedutor otimismo falsamente inspirado por Obama, reforçassem a dica venezuelana, como foi o caso de José Saramago:
"Agora só nos falta ver como aproveitará Barack Obama a leitura das veias abertas. Bom aluno parece ser", conclui o Nobel português.

Ah, entendi... acho que matei a charada: os “professores pragmáticos” (leia-se assessores) de Obama negaram-lhe a oportunidade de ler previamente o livro Ensaio sobre a cegueira, de Saramago, pré-requisito indispensável para tornar o pop-star menos míope.

E por ter a honra de mencionar o Galeano, despeço-me com as palavras afiadas dele, mil vezes mais precisa do que a pontaria daqueles disparos no Afeganistão:

"Os cinco principais fabricantes de armas são os encarregados da paz do mundo... Assim estamos! [inclusive com o mito Obama, acrescentaria eu]".

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