segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Política da Esperança Não Será Televisionada

A Política da Esperança Não Será Televisionada

É difícil viver sorrindo em um mundo estampado de tristezas, tragédias e mentiras. Abrimos a televisão e o que vemos e ouvimos, não poucas vezes, é puro lixo, da pior espécie, pois além de não poder ser reciclado em informação nem conhecimento, contamina e apodrece a consciência; a sua, a minha, a nossa consciência – um tanto quanto inconsciente.

Concluímos que não dá para continuar com a bunda anexada ao sofá, assistindo de camarote os absurdos disparados dia após dia pela mídia, enquanto o mundo vai adoecendo, estremecendo e afundando, de omissão em omissão. Quantas drogas são necessárias para se ignorar o drama da realidade? Quantos vícios precisam ser fabricados ou reeditados para que nossos sentidos mantenham-se imunes e indiferentes aos problemas dos outros?

Pessimismos e descalabros à parte, é proibido esquecer que a magia da esperança dança, feito criança pura, em todo lugar do mundo, em cada ternura da gente, nas epopéias e agruras dos povos, apesar dos tropeços e recomeços de suas revoluções, ideologias, instituições e nações. Sem esperança, o amor não tem cura e a paz nunca dura.

Não deixem que a sensação de fracasso e a epidemia da perdição escureçam seus passos, suas luzes, seus impulsos regeneradores de rebeldia e ousadia, sua vocação humanitária, seus ideais de melhoria embalados pela dança da mudança, aquela que jamais se cansa de avançar, de ensinar e de nos convidar a encarnar suas coreografias.

Para que novos valores, paradigmas e civilizações floresçam, urge que reciclemos nossos olhares, revisemos nossas decisões e repensemos nossas atitudes, antes que até a esperança desista da humanidade – ou pelo menos do pouco dela que conseguimos reter no decurso de nossas indevassáveis monstruosidades. Ninguém pode se dar ao luxo de nascer e conviver em sociedade para não fazer nada pelo bem-estar da coletividade.

Sem os políticos que dizem (retoricamente ou não) nos representar, o cotidiano seria refém do caos e as relações se rebaixariam a uma disputa infinita e incontrolável de interesses. No entanto, sem a devida participação ativa dos cidadãos comuns na formulação, acompanhamento e fiscalização de suas próprias demandas e aspirações coletivas, a população civil não passaria de uma massa servil, amorfa, desprovida de consistência crítica e substância autônoma.

Esse é o tipo de “povo” que as TVs, em geral, buscam forjar: um povo bobo, tangido pelo medo, identificado globalmente pela negligência local. E o grande problema é que essa mídia tradicional, conservadora, parcial, elitista, sensacionalista, entreguista – dogmaticamente privada e sutilmente golpista – busca nos governar (ou “desgovernar”) a qualquer custo, filtrando e transmitindo apenas o que lhes convém e deformando o resto.

Não basta simplesmente entrar no ringue das baixarias e competir com a oposição quem tem mais “denúncias na manga”, quem fede e vacila menos, quem sai menos mascarado na foto, quem reúne mais pontos em sua biografia. Chega de dejetos. O Brasil precisa é de projetos que levem seus moradores a patamares ainda mais sólidos de inclusão social, cuidado ambiental, equidade econômica, democracia científica e grandeza ética.

4 comentários:

cicero disse...

Colega, legal sua preocupação com mídia, falta de mudança, etc.
Mas (pra além de outras questões) tem um trecho no texto "mais" confuso. É o seguinte:
"Sem os políticos que dizem nos representar, o cotidiano seria refém do caos..."

Está correto, é isso mesmo, que escreveu e considera?

Pois não é justamente por conta dos políticos que nos dizem representar que nosso cotidiano (desde há muito tempo) está num caos, numa miséria, violência, desigualdades, e mais concentração de riquezas e lucros p/ gdes empresas, latifundiários (agronegócio), bancos, etc?

E o que muitos destes "políticos que dizem nos representar" e a Mídia também, vivem propagandeando é que temos que ter paciência, mais esperança, que o povo deve ser otimista, não pode lutar efetivamente e de forma independente, sem precisar destes pilantras, que "o Brasil tá indo bem", "é o país do futuro", que o papel do povo é só cobrar aqui e alí, fazer pressão, saber votar, que assim vamos ordeiramente (nesta ordem deles, da burguesia obviamente) "avançando", aos poucos, crecendo (a economia deles), desenvolvendo (o sistema) e etc.
Umas contribuições minhas, valeu.

Um abração.

PABLO ROBLES disse...

Oi, Cicera, valeu por enriquecer meu texto com bons comentários

Os políticos (queiramos ou não) são eleitos para nos representar, cabem a nós garantirmos a qualidade desse processo

A mídia e outras instituições não devem fazê-lo, pois não tem esse papel formal e profissional

Se nosso cotidiano é tão sofrido, devemos fazer a auto-crítica sobre o tipo de cidadão e eleitor que somos, ou não somos, beleza?

Abraços solidários

PABLO ROBLES disse...

Perdão, sobre meu comentário anterior, é CícerO, não CícerA, rs

Alceu A. Sperança disse...

Se você apurar bem, 99% das emissoras de rádio e TV cumprem fielmente as regras da concessão dos canais.

É importante dizer que os canais são do povo: as instalações físicas das emissoras é que são privadas.

É, pois, uma espécie de parceria público-privada, e requer o fiel cumprimento das regras contratuais.

Empresa não cumpriu, povo tira canal.

Deveria ser simples assim, mas o Brasil foi roubado por uma elite calhorda, que finge ser dona dos canais de rádio e TV, que usa abusivamente para propagar o tal do "pensamento único".

Sou pela ocupação imediata das emissoras ilegais ou seja, aquelas que descumprem a lei.

Claro, será preciso pagar as instalações: pague-se em títulos da dívida pública e fim de papo.