sábado, 14 de março de 2009

Vivemos, também, uma Crise Acadêmica

Há esperança? Por que não? É possível viver sem acreditar em um futuro melhor? Mais humano, ou talvez realmente humano, já que o que vemos é paradoxalmente o contrário.

E as universidades? Qual sua parcela de contribuição na construção de um outro mundo? A cada ano, as academias geram novos graduados e pós-graduados. Novas mentes, novos cérebros. Mas a quem eles servem? Com quem seus neurônios estão comprometidos? As fibras do coração dessa comunidade intelectual que teve a oportunidade de concluir um curso superior ainda pulsam? Do ponto de vista ético, coletivo, transformador, revolucionário...

Grande piada: muitos alardeiam ter um diploma superior, privilegiado até, mas não abandonaram os interesses mesquinhos, inferiores, desses que ignoram o caos da realidade e tudo; desses que lêem um livro por semana e não fazem uma boa ação por mês.

A maioria rapidamente dirá. “Acorda, Pablo, o mundo mudou...” Eu logo concordaria, mas faria questão de acrescentar, sem disfarçar minha frustração: “... Mas mudou para pior”.

As universidades não surgiram simplesmente para azeitar as engrenagens do mercado. Elas cumprem uma função das mais importantes no mundo moderno (ou pós-moderno, isso não importa), porém, a grandeza original das universidades se tornou difusa. Quanto mais os mestres e doutores produzem conhecimentos, mas parece que destroem utopias.

Dou como exemplo o curso de Economia. O sujeito passa quatro, cinco anos sendo convencido pelos cânones ortodoxos de que a economia é auto-governável e não precisa ser regulada por nenhum governo, e quando ele se forma e pisa o chão atual da realidade, o chão já não existe mais, pois quase tudo que ele estudou não passou de areia movediça. Agora a onda é frear as rédeas da economia e fazer as pazes provisoriamente com o poder público, até que o mercado se reorganize dentro de dois ou três anos para retomar seu ciclo de exploração.

Falar em crise é eufemismo, pois o mundo já entrou na UTI faz tempo. Sua sobrevivência futura deixou de ser uma certeza científica, um dogma cartesiano e absurdamente linear. E não precisamos apenas de educação ambiental não. Nosso analfabetismo ecológico é só uma das cores de um arco-íris nebuloso e já sem o brilho de outrora. É perigoso olhar para o horizonte. É como tentar dialogar com a noite e não ver nenhuma estrela para desabafar. Estrela é esperança, é luz, é mudança. E para que isso acontece precisamos de mil e uma educações.

Aí eu volto para o princípio das coisas deste texto... e a academia? Virou um cemitério de teses empoeiradas, saberes herméticos e soluções atomizadas? Claro que não, pois é preciso acreditar que ainda há esperança, pois no dia em que as ciências conseguirem esvaziar todos os sonhos, o mundo não mais existirá, pois a humanidade terá perdido sua fé em si mesmo.

E já que está na moda falar de crise, lanço aqui mais uma. Vivemos, também, uma crise acadêmica. Falta militância. Falta alegria nas salas de aula. Falta ousadia nos corredores.

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