sábado, 15 de novembro de 2008

Abram Alas para a Professora Selma


Primeiramente, transcrevo abaixo a íntegra do comentário deixado pela professora Selma, em resposta à minha crônica "A Professora que Emocionou um Blog". Em seguida, acrescento minhas palavras renovadas de incentivo, estendendo-os em sentido amplo a todos os educadores de nosso criativo e próspero país que hoje já pode começar a se orgulhar como uma grande potência mundial.

Olá, "Sou Selma Mascarenhas, professora da rede pública do estado da Bahia. Ao passar o filme "O Óleo de Lorenzo" para a turma do 3º ano do Ensino médio, percebi o interesse sobre a tématica do mesmo, por isso resolvi trabalhar de forma diferente. Na sala, discutíamos sobre a mensagem de vida transmitida pelo filme. E com isso, os alunos fizeram, oralmente e por escrito, resumos da obra,resenhas e análise crítica. Ao pesquisar na internet algo sobre filmes encontrei esse blog e o achei interessante, por isso resolvi publicar o que tínhamos trabalhado em sala. Levei essa turma- as outras trabalham com o orkut-Comunidade de Língua Portuguesa-para visitar o blog, ler as sinopses e reescreverem as resenhas já feitas em sala. Não imaginávamos que seríamos tão bem recebidos no mundo virtual e fico realmente feliz em saber que outros podem aproveitar o exemplo e trabalhar com suas turmas. O resultado foi gratificante, os alunos gostaram muito dessa atividade. O meu objetivo maior era fazê-los refletir sobre a vida, tornando-os críticos, persitentes, e lutadores. Parabéns a você que idealizou este blog, eu já selecionei outros itens para trabalhar com outras turmas, e certamente plantaremos uma sementinha que dará algum dia frutos." (Palavras exemplares da Professora SELMA, ecoadas pelo Grito Pacífico, no domingo do dia 09/11/2008)

Amiga educadora, humanamente Selma, dizem as boas línguas que a blogosfera ajudou a eleger a mais nova semente da geopolítica mundial, que atende pelo nome de Obama. Em minha otimista visão, a Mudança venceu o Poder. Mas enquanto o Barack investiga as origens e soluções do caos internacional, voltemos os holofotes para sua iniciativa local.

O que seria da natureza se não fossem as frondosas árvores que um dia já foram franzinas sementes? Para brindar as manifestações emanadas de seu próprio punho, o Grito Pacífico, em notas suaves de gratidão, amplifica aqui esta linda estrofe de pensamento, deixada por Henfil, um célebre e engajado cartunista brasileiro, também jornalista e escritor, que agora deve estar pintando, onde quer que esteja, caricaturas sombrias sobre nosso planeta, ainda analfabeto na lição de solidariedade que você soube tão bem plantar e semear na Bahia entre seus alunos.

"Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente." (HENFIL)

Eu não sou quase nada. A blogosfera ainda é um experimento em consolidação. Porém, se cada um de nós acreditar pelo menos um pouquinho em tudo aquilo que somos de bom e sonhamos de melhor, conheceríamos felicidades nunca antes imaginadas e a ignorância seria coletivamente extinta desta orbe, levando consigo os escombros de miséria intelectual, moral e espiritual que insistem em contaminar tantas mentes e corações, dentro e fora da maioria das salas de aula.

Se um extraterrestre minimamente evoluído visitasse nosso planeta agora, ele se espantaria com os paradoxos terrestres e certamente concluiria: "Este Mundo é um Mistério". O turista do além não entenderia porque líderes mundiais entram em desespero para salvar um modelo econômico incurável (o tal do neoliberalismo) e atenuar a falência de suas ambições financeiras, enquanto nunca houve uma mobilização séria e unificada para salvar o problema social reversível da África.

Em geral, Dona Selma, me desculpe a franqueza. Nossa educação formal está na UTI. Você e seus demais colegas educadores precisam ser polivalentes: médicos, enfermeiros, psicólogos. E essa doença atinge níveis crônicos nas academias. Os professores ficam discutindo teses. Os alunos ficam enfeitando diplomas. E o discurso da cidadania continua ali, comportadinho e geralmente intocável, brincando de imitar a cereja do bolo: o apêndice desprezível e impotente de um sistema formativo caduco, que comercializou o saber e prostituiu as utopias.

Você e seus alunos assistiram, debateram e escreveram sobre o filme O Óleo de Lorenzo. E foram mais longe: publicaram isso na internet para que qualquer outra pessoa (aprendiz ou mestre em potencial) se sensibilizasse com a importância sublime desse gesto e se sentisse convidada a adaptar esta dica para sua própria realidade cotidiana. E um último detalhe: seguramente esta idéia não estava no currículo porque ela não cai - e nem precisa caber - no famigerado Vestibular.

Isso é simplesmente fantástico, professora Selma. Você sacudiu a blogosfera e a militância virtual com sua atitude, que por acaso foi repercutida em meu blog. Pelo menos por algumas horas, quando parei para escrever este texto e o anterior, me tornei, mesmo aqui do Ceará, mais um aprendiz guiado pela vocação de mestre que você de alguma forma deve representar para diversos meninos e meninas da Bahia. Você agigantou sua alma educativa e ousou destoar da multidão, inspirando-se vivencialmente nos grãos de luz adubados pelos eternos educadores que cumpriram com louvor sua missão de amor, orientação e mudança, como a passagem seguinte - que por um venturoso acaso li ontem antes de dormir - metaforicamente exprime:

"Educar é, entre outras premissas, olhar para frente. Mas esse olhar não nos leva a nada se uma multidão nos separa do horizonte. Em circustâncias como essas é que precisamos de um ombro amigo e seguro, pois se sobre ele pudermos nos apoiar, enxergaremos longe, muito além da multidão" Essa parábola pode perfeitamente se contextualizar em nosso cotidiano se pensarmos que a "multidão" representa as dificuldades e as limitações impostas ao mestre em sua luta diária, e os "os ombros" se identificam com as admiráveis lições que podemos extrair de mestres geniais como Piaget, Vygotsky, Freinet, Dewey, Paulo Freire, Maria Montessori e muitos outros. Quando soubermos fazer de seu legado e do exame atento de suas obras um caminho, por certo estaremos nos apoiando em ombros fortes e, dessa maneira, ensinando melhor e plantando amanhãs." (CELSO ANTUNES, pág. 10 do livro "Piaget, Vygotsky, Paulo Freire e Maria Montessori em minha sala de aula")

Senhores e senhoras, batam palmas e abram alas para a professora Selma, que veio receber o Oscar profetizado na crônica anterior e proferir o discurso bloguificado no início da presente crônica, prosseguindo e realimentando o ciclo virtuoso de um futuro grandioso e mil vezes mais humano, com gerações de escolas mais reflexivas, críticas e lutadoras, conforme frisou a mulher homenageada pelo Grito Pacífico, antes que a internet voltasse em coro a aplaudi-la e difundi-la.

2 comentários:

Anônimo disse...

Achei o seu Blog "o máximo" e acredito que como você, também sou um grão de areia tentando fazer a diferença no mundo. Mas as dunas não são feitas de grãos de areia?
Então, mais uma vez parabéns por sua iniciativa e por ótimos textos.
Um abraço, Lelé.

PABLO ROBLES disse...

Lelé,

Seu comentário enche o Grito de alegria.

De grão em grão podemos mudar o mundo.

De blog em blog podemos mudar atitudes.

Temos muito a fazer e nada é impossível quando unimos o que somos e sonhamos de melhor!

Um abraço solidário!!!