Para continuar exercitando e ampliando minha democracia musical, comprei nas Americanas meu primeiro CD de Sertanejo ("Pista Sertaneja: remixes"). Nada contra esse tipo de som, que merece reivindicar alguma lugar em meu inconsciente (assim como todos os outros estilos, sem exceção, senão meus ouvidos entrariam na ditadura, ou melhor, "escutadura").
Entretanto, no plano do (meu) consciente não consigo entender porque chamam a versão corrente de sertanejo universitário. Outros ritmos populares me apetecem mais, como o forró, mesmo que pareça "pré-universitário" para parte do povo situado ao Sul do Nordeste, nem sempre simpático às nossas raízes tradicionais.
Quando escuto forró (ou pelo menos quando o forró me fala), sinto o cheiro de nossa Região Nordestina, de nossa melosidade rústica, de nossa molecagem atrevida, de nosso tempero historicamente popular, como se cada música fosse o capítulo informalizado das novelas do cotidiano interpessoal.
Já o gênero sertanejo (dessa estirpe) me parece mais artificial, mais enlatado, mais estruturado, mais globalizável (vejam por exemplo como está bombando na Europa a música "Ai se eu te pego", do Michel Teló). Enfim, um estilo acadêmico demais, daí talvez o qualificativo estranhado no início e agora, ao final desta crônica, comicamente significado pelos meus botões amadores e sentidos musicais semi-analfabetos.
Afinal, parte do modus operandi acadêmico não passa de uma linha de montagem com esteiras "científicas", padronizando quantitativamente a lógica das citações que permeiam os artigos "intelectualmente" produzidos. Muitos dos acadêmicos, ao forjarem seu status com dezenas de referências, perdem a referência do popular, da cultura menos metódica e mais espontânea da gente.
O pior é que, de tanto ouvirem e repetirem a música dos outros cientistas (com obras já consagradas e carreiras já abençoadas), os sujeitos da universidade correm o grave risco de perderem a capacidade de criar, combinar e externalizar sua própria música; com autonomia, autenticidade, criatividade, flexibilidade, criticidade e utopia artística. Desligue o som quem nunca imaginou isso.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
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