terça-feira, 30 de junho de 2009

O Demais Nunca Basta aos Banqueiros

O DEMAIS NUNCA BASTA AOS BANQUEIROS

Existem notícias dotadas de um poder mágico, surreal. Conseguem ser classificadas tão rapidamente na categoria do absurdo que quase ninguém do mundo real é capaz de enxergar, sentir e se indignar com esse tipo de notícia. Refiro-me particularmente à notícia Falhas de Mercado e Pobreza no Mundo, que gira em torno (pasmem!) do seguinte dado-denúncia: “Socorro a bancos em 1 ano supera ajuda a países pobres em 50, diz ONU”.

Não porque tais matérias não sejam importantes. Muito pelo contrário: elas saltam aos olhos, rasgam a alma e podem deixar todo mundo petrificado. Calma, não estou falando de bruxas, magos e feitiçarias. Mas a notícia referida (alvo desta crônica) só pode ser, no mínimo, de um outro mundo. E do pior dos mundos possíveis e imagináveis.

Eu próprio confesso que tenho medo de ler essa notícia como deveria. Me envergonho até de divulgá-la como gostaria. Que mundo é esse em que nasci (nascemos)? Que sociedade é essa na qual um dia morrerei (morreremos)? O que nossos filhos e netos haverão de pensar? “Vocês foram capazes disso, em pleno início do terceiro milênio?” Sem explicação.

Enquanto nosso ego hedonista e semi-suicida dominar nossos pensamentos, como finaliza a citada notícia, jamais o absurdo da pobreza falará ao nosso coração, pois nosso pobre coração parece ter assumido a forma de um cifrão; o cifrão do dinheiro, da ambição, da propriedade. Respiramos lucro, processamos caos e defecamos indiferença.

Como musicaria Renato Russo: “esse é o nosso mundo: o que é demais nunca é o bastante...” Os banqueiros que o digam. Nossa felicidade, aquela medida pela órbita de nosso próprio umbigo, é a única que praticamente importa. A África, a Bolívia, o Haiti; todo o resto que se exploda. O capitalismo tornou-se o Deus terreno de nossa maior tragédia civilizatória.

Viramos escravos de uma meta obsessiva, disseminada por uma televisão que nos emburrece e alimentada por uma publicidade que nos enlouquece: consumir o máximo que puder, através do prazer insaciável do ter, na ilusão de atingir um paraíso que essencialmente não existe – ou dura muito pouco. A liberdade individualista do capitalismo produziu um egoísmo material sem precedentes. Mas nem tudo está perdido. A esperança quer nascer.

As falhas não estão simplesmente no mercado. As empresas, por serem a ponta do iceberg, são o contágio menos perigoso e por assim dizer mais curável. O grande problema é: que interesses são institucionalizados e aplicados pelas organizações? Sendo mais direto e específico: quem institucionaliza tais interesses e valores? Pois é; as falhas originais (e corrigíveis) estão, em primeira instância, dentro de nós. Perceberam? Dentro de nós.

Avançamos materialmente o suficiente para solucionar todos os problemas de cada quilômetro quadrado habitável deste planeta, de modo a ninguém precisar passar fome ou ver seu nome ignorado pelas estatísticas distantes do PIB. Por outro lado, temos cada vez menos tempo para se preocupar com o outro, aceitar o diferente e dialogar com as utopias. A urgência pragmática do hoje é a sombra que cega nosso ser para as luzes de um mundo radicalmente melhor. Sim, você adivinhou: um novo paradigma nunca foi tão necessário.

1 comentários:

Anônimo disse...

Pablo, muito coerente seu posicionamento. Eu participo da Marcha Mundial pela Paz e pela Não-violência, que entre suas fundamentações, coloca que com 10% do orçamento gasto em armas poderíamos acabar com a fome no mundo. Não é retórica, muitas vidas poderiam ser salvas, muitos seres humanos poderiam ter seu direito à vida e à alimentação garantidos se a direção dos governantes e representantes das potências mundiais fosse mais humana. Os humanistas propõem colocar o ser humano como valor central na tomada de decisões que afetam a todos nós. Hoje esse valor é o dinheiro, e as vidas humanas são descartáveis. Chegou a hora de mudarmos essa direção errada para não acabarmos na auto-destruição, para fazermos jus ao que nos torna efetivamente seres humanos, que não é meramente o fato de sermos bípedes. Criar consciência sobre a necessidade de respeitar as diferenças, e conviver em paz solucionando nossos conflitos através da não-violência é a proposta da Marcha Mundial. Por isso, sugiro que nos ajude a divulgar esta marcha de todos, para que todas as vozes silenciadas sejam ouvidas. Caso queira colocar um link em seu blog avise-nos.
Paz é força!

Cris