sábado, 26 de abril de 2008

CONVITE: Seja Você Mesmo, Sempre!


Neste mundo de tanta informação e desinformação, encontros e desencontros, mudanças e recomeços, alguns princípios chegam a parecer utópicos, impossíveis, inaplicáveis. “Seja você mesmo, sempre!” seria um deles? Um desses ideais abstratos que só se hospedam nos discursos vazios e jamais encontram guarida na vida prática... Uma dessas virtudes metafísicas que todo mundo admira, mas ninguém vivencia...

“Seja você mesmo, sempre!” é um lema perfeitamente concretizável, com quem e onde quer que você esteja. Você já experimentou ser essencialmente a mesma pessoa: em toda hora, em todo lugar; seja no trabalho, na escola; com seus amigos, seus familiares? Por que fingir ser o que você não é? Ter o que não tem? Saber o que não sabe? Jogue fora essas máscaras volúveis que contaminam e corrompem a sua personalidade.

Não tenha medo de ser a pessoa única e original que você pode e merece ser. Não tenha vergonha de afirmar e reafirmar quais são os valores que formam seu caráter, sustentam suas práticas e orientam suas decisões. Seja movido por princípios e não por interesses. Não hesite em mudar, sobretudo se for para melhor, mas nunca deixe de preservar a identidade básica de sua alma, de sua mente, de seu coração.

Se você conhece alguém que possui um animal de estimação, como um cachorro, repare bem como ele se comporta. O dono chama, ele vem. O dono brinca, o rabo dele balança. O dono briga, o semblante do animal se retrai. O dono sai, o cachorro sente a sua falta e é capaz de ficar deprimido caso seu proprietário demore muito para voltar. Moral da história: se até um “primitivo” cachorro consegue ser ele mesmo, um “evoluído” ser humano é obviamente apto para cultivar por excelência o mesmo gesto.

Não venha dizer que a cadelinha meiga de sua namorada, o cachorrão daquele seu primo que você nunca mais visitou ou aquele cachorro barulhento do vizinho que assusta quem passa por perto, dentre outros latidos, ajam assim por mera submissão. Mentira. Esse simples mamífero, apesar de não apresentar a complexidade constitutiva do ser humano, não tem duas caras, espalha cinco versões nem inventa dez desculpas.

O cachorro que você, no cume de seu intelecto, julga tão bárbaro e atrasado, detém uma qualidade exemplar e sofisticada para os padrões caninos: o dom de ser fiel, sincero, coerente, sensível, e nesse sentido demasiadamente humano. Enfim, este animal é fundamentalmente ele mesmo, sempre. Se você ainda não conseguiu adotar esse princípio no cotidiano de suas relações, pelo menos nesse aspecto, que tal imitar (sem precisar latir) os cachorros, para ver se assim você aprende, verdadeiramente, a ser mais gente.

Gente que não muda de personalidade como troca de roupa. Que não muda de opinião como quem altera os canais de televisão. Gente que não trata as pessoas de acordo com seu diploma acadêmico, saldo bancário ou perfil estético. Gente que não seja mais amiga quando você está de carro e menos amiga quando você anda de ônibus. Que não seja muito prestativa quando necessita de algo e pouco solidária quando você não tem utilidade para os interesses dela. Corra! Afaste-se dessa gente para que seus valores de integridade não sejam reprimidos, prostituídos, triturados e, o que é mais fatal, desintegrados.

Pense nas três pessoas em que você mais se inspira neste mundo, isto é, nos três principais ídolos aos quais você provavelmente não se oporia em afixar um pôster no seu quarto em homenagem a cada um deles. De quem você se lembrou? Vou inclusive participar desta dinâmica. Eu, por exemplo, tenho o mais elevado respeito por Jesus Cristo, Mahatma Gandhi e Paulo Freire. Essas figuras ilustres revolucionaram, respectivamente, a religião ocidental, a justiça social e a educação popular.

Pois bem, você continuaria reverenciando os três majestosos guias de sua vida se viesse a descobrir que os mesmos não tiveram a devida personalidade para manter a firmeza de seus propósitos no transcurso de suas biografias? Acho que não. Se por acaso fosse convencido que seus ídolos traíram seus fãs e a si mesmos, aposto que você tenderia a despedi-los e logo elegeria outras personalidades para ocupar os tronos destituídos.

Se você não admite guardar imagens negativas, hipócritas e frustrantes de quem você tanto venera (ou venerava), por que você não tenta, a cada dia, fazer o mesmo que tantas pessoas de bem já fizeram diretamente quando vivas e ainda fazem indiretamente depois de mortas, uma vez que o espírito luminoso de suas obras geniais deixa pegadas inapagáveis. Sabemos não ser fácil, mas tente a cada dia ser você mesmo, sempre!

Quando confidenciar para alguém que o ama ou a ama, ame de fato, com todo seu coração e capacidade de amar. Quando oferecer auxílio a um amigo, esteja realmente à disposição para servi-lo e contribuir para a satisfação da ajuda solicitada. Quando sorrir, agradecer, elogiar, der bom dia, boa noite, e manifestar outras saudações do gênero, olhe fraternalmente para o destinatário de seus cumprimentos, como que para lembrar que tais gestos são espontâneos e estão longe de ser um rito burocratizado e artificial.

Quando se comprometer com alguma tarefa profissional, faça de tudo para executá-la dentro do prazo combinado, ou pelo menos tenha a humildade de justificar sem rodeios os motivos que impediram sua conclusão. Quando alguém te enviar um e-mail com uma pergunta objetiva, dê uma resposta também objetiva do tipo “sim” ou “não”. Evite o cômodo e ambíguo “talvez” e tampouco a indelicadeza omissa do silêncio, denotado pela ausência fria e indesejada de qualquer resposta, de qualquer consideração.

Mas se eu falar sempre a verdade, meu chefe me despede, meu casamento termina, meu filho se distancia, meus planos fracassam... Mas qual é o mérito efetivo desses supostos planos? Nenhum objetivo de longo prazo e de grande porte adquire solidez e legitimidade quando erigido sobre valores movediços, etéreos e indignos. Se você prefere ser uma metamorfose de princípios efêmeros, um camaleão sem personalidade própria e definida, parabéns então por sua opção covarde, egoísta e corrupta.

Depois não reclame quando os governantes negarem suas promessas de campanha, fazendo o contrário do que seu voto esperava. Também não reclame quando as empresas venderem produtos falsificados e oferecerem serviços inoperantes. E muito menos adianta lamentar que a paz que você tanto sonhou para seu bairro virou um pesadelo de violência, abrigando marginais que conquistam primeiro sua confiança para depois te roubar. Não ouse abrir a boca para falar de ética quando sua sombra escolheu perseguir caminhos ilusórios, obscuros e mentirosos, onde as pessoas não são elas mesmas, nunca.

Ninguém é perfeito, nem eu, nem você. Mas todos nós podemos tentar ser menos imperfeitos e, por conseguinte, construir um mundo mais verdadeiro para sermos felizes e deixar um mundo mais belo para as gerações vindouras. Acredite nas pessoas e em si mesmo, hoje e amanhã. Não despreze o impacto de suas palavras, a força de seu exemplo e a potência de seus valores (humanos). Seja você mesmo, agora e sempre!

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