FONTE: Livro “O Ponto de Mutação”, de Fritjof Capra (Ed. Cultrix)
Estocamos dezenas de milhares de armar nucleares, suficientes para destruir o mundo várias vezes. (...)
Os custos dessa loucura nuclear coletiva são assustadores. Em 1978, antes da mais recente escalada de custos, os gastos militares mundiais orçavam em cerca de 425 bilhões de dólares – mais de um bilhão de dólares por dia. (...)
Enquanto isso, mais de 15 milhões de pessoas – em sua maioria crianças – morrem anualmente de fome; outros 500 milhões de seres humanos estão gravemente subnutridos. Cerca de 40 por cento da população mundial não tem acesso a serviços profissionais de saúde; entretanto, os países em desenvolvimento gastam três vezes mais em armamentos do que em assistência à saúde da população. Trinta e cinco por cento da humanidade carece de água potável, enquanto metade de seus cientistas e engenheiros dedica-se à tecnologia da fabricação de armas. (...)
Um sinal impressionante do nosso tempo é o fato de as pessoas que se presume serem especialistas em vários campos já não estarem capacitadas a lidar com os problemas urgentes que surgem em suas respectivas áreas de especialização. Os economistas são incapazes de entender a inflação, os oncologistas estão totalmente confusos acerca das causas do câncer, os psiquiatras são mistificados pela esquizofrenia, a polícia vê-se impotente em face da criminalidade crescente, e a lista vai por aí afora. (...)
Como causas de sua confusão ou renúncia os intelectuais citaram ´novas circunstâncias` ou ´o curso dos acontecimentos` - Vietnam, Watergate e a persistência de favelas, pobrezas e criminalidade. Nenhum deles, entretanto, identificou o verdadeiro problema subjacente à nossa crise de idéias: o fato de a maioria dos intelectuais que constituem o mundo acadêmico subscrever percepções estreitas da realidade, as quais são inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo. (...)
Precisamos, pois, de um novo ´paradigma` - uma nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores. Os primórdios dessa mudança, da transferência da concepção mecanicista para a holística da realidade, já são visíveis em todos os campos e suscetíveis de dominar a década atual. (...)
Os anos 60 e 70 geraram uma série de movimentos sociais que parecem caminhar, todos, na mesma direção, enfatizando diferentes aspectos da nova visão da realidade. Até agora, a maioria desses movimentos ainda opera separadamente, eles ainda não reconheceram que suas intenções se inter-relacionam. (...)
Assim que isso acontecer, podemos esperar que os vários movimentos fluam juntos e formem uma poderosa força de mudança social. A gravidade e a extensão global de nossa crise atual indicam que essa mudança é suscetível de resultar numa transformação de dimensões sem precedentes, um momento decisivo para o planeta como um todo.”
MEUS COMENTÁRIOS
Uma das passagens iniciais que me impressiona e inclusive me assusta é o paralelo absurdo entre os gastos mundiais voltados para a qualidade de vida (como saúde) e aqueles dirigidos à destruição da vida (como armamentos).
Outra colocação que salta aos olhos é a incapacidade dos ditos especialistas em compreenderem, diagnosticarem e solucionarem tantos problemas, questões e desafios que envolvem as suas áreas específicas, mas que estão muito longe de serem objetos exclusivos e estanques de uma disciplina ou campo de saber específicos.
Em vez disso, precisam ser encarados a partir de um novo paradigma, representado pela visão sistêmica, que representa uma abordagem apta a reconhecer as relações dinâmicas, interdependentes e plurais que conectam em rede todos os fenômenos da vida.
O aspecto interessante e mais revolucionário das implicações práticas de tal concepção se traduz nas possibilidades de convergência e unificação das demandas, propostas e bandeiras reivindicadas pelos movimentos e atores sociais que começaram a ganhar expressão nos anos 60 e 70, atingindo uma relevância crescente nos tempos atuais, como é o caso das organizações não-governamentais.
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