A Consistência das Crises e a Precariedade de Respostas
O debate das eleições presidenciais começa aos poucos a engrenar. Chegou a hora de conhecermos melhor as propostas, biografias, pontos de vista, ideologias sócio-políticas, motivações partidárias e bastidores institucionais de cada candidato ou candidata. Aliás, deveria inverter a seqüência, pois duas dentre as três candidaturas mais bem posicionadas são de mulheres. Isso seria um indicador de novidade? Um sinal de surpresa? Provavelmente sim. Se mudanças e avanços pairam no ar, retrocessos e mesmices ameaçam tudo desmanchar.
A mídia televisiva, felizmente, já não reina sozinha. E quando tenta publicar sua opinião privada (pautada pelos empresários de comunicação), o povo já não engole tão cegamente as versões maquiavelicamente forjadas pelos jornalistas escravizados pela vontade de seus patrões. Ou seja, a opinião pública, hoje em dia, tornou-se menos homogênea, menos previsível e menos manipulável. O povo pode não entender de macroeconomia, mas tem – muitas vezes - sensibilidade suficiente para perceber as mudanças microeconômicas que afetam seu bolso.
É mais do que sabido que os problemas, inclusive os de longe, não podem mais ser assistidos de camarote, nem escondidos tão facilmente debaixo do tapete como se fazia outrora. Por exemplo, jorra-se descontroladamente petróleo no Golfo do México, mas as magnitudes dessa tragédia não recebem a devida atenção e seriedade da mídia, diferentemente dos casos de violência envolvendo pessoas famosas, que viram espetáculos à parte. “Desde o dia 20 de abril e até a quinta-feira passada o poço jogou nas águas do Golfo entre 35 mil e 60 mil barris de petróleo, no que se tornou a maior catástrofe ecológica da história dos EUA.”, alerta uma matéria recente do Portal Ig.
E se uma tragédia do tipo ocorresse no quintal da Venezuela, toda a cobertura seria negativamente amplificada e ganharia colorações forçosamente políticas, pois imagino que a imagem do presidente deste país seria atacada sem piedade pelos mesmos EUA e suas marionetes apaniguadas (como a TV Globo e a revista Veja), arrastando no rodapé das reportagens, por tabela labiríntica, fulanos, sicranos e beltranos (de nossa política doméstica).
Primeiro detalhe: os EUA protagonizaram a crise econômica internacional iniciada em 2008, cujas seqüelas em cascata vieram a jorrar estragos na economia grega (as pátrias do saudoso José Samarago e da atual campeã do Mundo de Futebol que se cuidem). Segundo detalhe: os EUA continuam jorrando soldados impotentes para o Afeganistão e Iraque, enterrando no fundo da lama da política internacional estadunidense o último Nobel da Paz. Eis a equação silenciosa do caos, em uma versão tríplice/tridimensional para não causar cegueira sistêmica: crise ecológica + crise econômica + crise militar = crise ética do paradigma “imperial”.
A voz norte-americana está cada vez mais desautorizada a governar o mundo, assim como a voz da mídia tradicional está cada vez mais enfraquecida para tanger os rebanhos de sua audiência, apesar da eloqüência dos apresentadores de plantão. A América Latina e a mídia alternativa ganharam maior respeito e influência no imaginário dos povos e cidadãos que tentam reciclar sentidos, costurar respostas e reajustar sua missão coletiva neste mundo carcomido por um rodízio renovável de crises. Aquelas que citei, obviamente, foram só uma amostra, das mais visíveis. As crises social, acadêmica e espiritual, por outro lado, caminham na surdina, metabolizando outras incógnitas e inspirando outros pesadelos.
Se há esperanças, devemos mergulhar e transcender nelas para ajudar a desmascarar e salvar o mundo... dos governos desgovernados, dos indivíduos descoletivizados, da identidade submissa das nações, das comunicações desumanas, das candidaturas suicidas, das relações insensíveis, dos prêmios inglórios, dos saberes impotentes, das crenças omissas, das palavras calculadamente inúteis, das propostas retoricamente vazias e até dos medos da desesperança.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
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1 comentários:
Parabéns pelo texto. Minha contribuição é refletir entre Dilma e Marina sobre governo. Dilma tem sua campanha como continuidade de Lula e Marina como uma outra proposta. Diante da polarização da eleição entre PT e PSDB, entendo um voto em Marina como um voto de protesto, pois a mesma não parece ter chances de ir para um segundo turno. Então pergunto para onde vão os votos de Marina no segundo turno; PT ou PSDB? Eu jà me decidi, Sou Mais Dilma 13. Saudações de luta.
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