domingo, 9 de dezembro de 2007

DESABAFO: Por Que Tanta Miséria?

O mundo invade meu mundo. Minha cabeça vira um palco de encontros e desencontros. A miséria, esta gangrena que açoita e macula o tecido da terra, continua deixando meus neurônios perplexos. Alguns dos quais, mais sensíveis e inconformados, preferem se suicidar em vez de reconhecerem a existência deste absurdo dos absurdos, batizado eufemisticamente de miséria.

Minhas mãos, acometidas de incontrolável indignação, se armam com uma caneta qualquer encontrada em seu percurso aéreo e despejam sua fúria na primeira folha em branco que se insinua perante seus dedos febris, animados por uma revolta pacificamente explosiva. O papel, outrora intacto e esvaziado, vai sendo trovejado e ocupado por uma sucessão de palavras, frases e parágrafos.

O texto que emerge, no entanto, não está feliz. A mensagem se revela ofegante, indisciplinada e urgente. Por que tanta miséria? Perguntas e promessas demais. Respostas e soluções de menos. Cada hiato que intercala um e outro sentido evocado pelas letras está impregnado de luto, em protesto às pessoas que estão sendo involuntariamente apagadas do planeta neste instante fugaz e quase imperceptível.

É como se cada vírgula refletisse ou sinalizasse os arranhões da humanidade em seu esforço hercúleo de sobrevivência. Como se cada ponto final fosse a sombra literária de uma gota de sangue. Como se as reticências fossem três esperanças reunidas em prece, três lamentos indecifráveis, três reações silenciadas. Como se cada exclamação fosse uma crise de perplexidade face a tanta pobreza, injustiça e desigualdade.

Cada nova angústia esculpida no papel herda a cicatriz de desesperos pretéritos e prenuncia a erupção de desesperos vindouros. Miséria? Tu ainda não foste extinta? Quanta tinta de caneta haverá de contabilizar sua destruição? A maioria das pessoas está infectada por este vírus que nenhum país conseguiu curar - não por ausência de conhecimento, ciência e tecnologia; mas por falta de amor, vontade e rebeldia.

0 comentários: