quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

CONTO: Justamente o Nome Dela

O episódio intrigante se passou na pequena cidade de Aguiarnópoles, no jovem e desconhecido Estado de Tocantins. Era em torno de duas horas da madrugada do dia 16 de fevereiro de 2011. Estava eu arrumando preguiçosamente minha mala, prestes a deixar o hotel onde me hospedara por dois dias, no intuito de voltar para minha residência em Fortaleza, Ceará. De repente, escuto um nome conhecido. Olho para meu notebook e vejo que o nome vem de uma música de reggae de um dos três CDs que eu havia comprado há bem poucas horas atrás, quando saí para jantar fora com os colegas de trabalho.

Dizer que é um nome conhecido trata-se de um eufemismo ingrato, pois é justamente a palavra viva que mais tem pulsado em meu coração ultimamente: Thainah. Desnecessário dizer porque. Ela sabe disso até mais do que deveria e gostaria. Afinal, sem a devida reciprocidade os relacionamentos não se desenvolvem com harmonia, firmeza e naturalidade. Em meus momentos de reflexão interior e recolhimento pessoal, tenho dialogado com o destino e perguntado: por que não dessa vez? Sob que condições daria certo? O que eu devo deixar de fazer e ela passar a fazer para que nossos sentimentos entrem em sintonia?

O tempo, os cupidos e as atitudes (acertadas ou frustradas) de ambas as partes haverão, sem pressa nem método, de encaminhar a melhor solução para Pablo e Thainah. Acho que é a primeira vez que escrevo um conto tão impregnado de realidade e tão destituído de fantasia. Se bem que há momentos que a mais linda poesia é aquela vivida silenciosamente por um casal. A internet, por questões de foro íntimo, não precisa ser contratada para descrever e muito menos explicar as motivações subjetivas e os bastidores afetivos das pessoas.

Jamais planejava escrever esse tipo de texto, assim como nenhuma estatística haveria de prever uma “coincidência” tão improvável: o nome (nada comum) da Thainah ser cantado quatro vezes – como parte do refrão – em uma curiosa música de reggae (constante de um CD pirata de capa intitulada Marabá Reggae, conforme se pode aferir na foto aqui estampada) cuja letra nunca ouvi falar e sequer se encontra disponível no Google e tampouco no You Tube, de modo que caberá a mim tirar essa intrigante música de seu estranho anonimato. Chega de suspense. Já bastam as reticências hospedadas dentro de mim. Reparem na letra:

MÚSICA “ALÔ THAINAH”

“Alô Thainah / Liga para mim / Estou a te esperar
Alô Thainah / Liga para mim / Estou a te esperar
Ainda sinto o gosto / Dos beijos seus
Relembro os momentos / Que juntos sempre / Sempre vivemos
Eu sei que errei / Porque eu pensei que / Não fosse te amar te amar
Agora eu sei / A falta que você me faz / Vem me amar
Eu quero te falar / Teu amor me faz sonhar / Quero te abraçar / Meu amor lhe entregar
Sei que estás só / Vou desvendar / Teu mistério / Aventura eu te amar”

Em virtude do refrão ter sido dedicado explicitamente à esta mulher, tomei a livre iniciativa de batizar a música de Alô Thainah. Sim, e ainda é dessas sofisticadas, cheias de “h”, em vez de ser simplificadamente Tainá. Ademais, a letra em si não é muito distante do nosso contexto, a exemplo da última parte, cujo adjetivo misterioso se encaixa como uma luva na personalidade algo inacessível e às vezes rebelde da garota. A música referida corresponde à faixa 11 do CD. O dado adicional, para coroar a sutil intervenção do destino, é que a oitava música (uma adaptação de forró até boazinha de ouvir) do mesmo CD começa assim: “E essa vai especial para toda moçada de Fortaleza, Ceará”. Detalhe: nenhuma outra música do CD é introduzida dessa forma, direcionada especialmente a uma cidade específica do Brasil.

Um amigo meu (a quem prezo muito) que está trabalhando comigo nesse serviço de consultoria, de vez em quando, me recomenda gentilmente a cultivar mais a espiritualidade, convencido de que eu tenho boas energias que poderiam ser canalizadas de forma mais edificante e produtiva. E eu geralmente digo para ele que tudo tem seu tempo e que em breve vou ter que priorizar minha meta de fazer mestrado. Ontem, quando chegamos da atividade, sentamos no hotel, debatemos sobre a vida e ele voltou a pautar comigo esse assunto. Teve uma hora que eu até falei para ele, meio brincando, meio sério: “mas cara, se tu acha que eu devo dar mais atenção à questão espiritual, bem que eu poderia receber algum sinal, e tal”. Ele me encarou e disse algo assim: “Pablo, a espiritualidade não envia sinais sem real necessidade, e é preciso também fazer por merecer”.

Partilho integralmente com ele a premissa de que nada é por acaso. Essa é de fato a maior verdade que sustenta a minha filosofia existencial. E mesmo não pretendendo ser candidato a guru espiritual de ninguém, eu também concordo com ele na perspectiva de que, quanto melhor administramos nossa alma e os recursos mentais, melhor gerenciamos o nosso corpo e as contingências materiais. Todavia, penso que a maioria das pessoas engajadas em religiões ou doutrinas espirituais está mais preocupada em se salvar do que em salvar o mundo. Deus, em sua infinita sabedoria e misericórdia, não monopolizou nem elegeu arbitrariamente nenhum sistema de crenças para evoluirmos com Ele. Portanto, todos os caminhos bem-intencionados e regados com amor tendem a nos levar, cedo ou tarde, a desígnios superiores.

Uma hora depois que me despedi dele, falei com a Thainah duas vezes pelo MSN. Interrompi a primeira conversa para jantar com ele e mais quatro colegas do Projeto. Assim que estávamos voltando, ele parou para comprar uns DVDs, influenciando-me indiretamente para que eu repetisse o gesto com uns CDs, dentre eles o que veio com a música Alô Thainah. Durante o trajeto de uma hora e meia do hotel para a outra cidade (Imperatriz, MA) de onde pegaríamos o avião, eu, meu amigo e o motorista ouvimos o encantado CD do “Reggae Marabá”. Ao saberem do episódio, meu amigo disparou, sorrindo serenamente: “viu Pablo como o sinal às vezes chega rápido”. Eu, com sono, já rendido pelas forças do “acaso” e deveras impressionado, apenas externei: “Mas que coisa né?... justamente o nome dela”.

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