Seria divertido ler essa notícia, se não fosse sensacionalmente devastadora. O circo funciona assim: eles se vestem bem (com as grifes de muitas empresas cujas ações andam fracas na bolsa de valores); percorrem aviões de primeira classe e cruzam de carro caminhos impecáveis para que não vejam mendigos até chegarem nas reuniões (necessariamente de cúpula); cumprem todos os ritos protocolares que a investidura de seus cargos exigem, mal disfarçando a vontade de verem suas fotos estampadas nos noticiários políticos de plantão; quando abrem a boca, proferem palavras devidamente sopesadas pelo filtro comunicativo de seus assessores que aprontam nos bastidores; quando olham para o relógio e se percebem voltando para os países de onde não deveriam ter saído, a consciência destes senhores (pois o palco costuma ser bem masculino mesmo) estende um sorriso cínico - entremeado com uma ou outra declaração evasiva e inofensiva - para os repórteres de última hora, os quais sofrem para tentar explicar e traduzir para a população o que não tem a mínima explicação civilizada. Tudo uma farsa, um jogo de cena, mais do mesmo. Esses ministros de semblantes globalizantes tiveram, mais uma vez, a oportunidade de fazer (diga-se decidir) muita coisa, mas não fizeram quase nada de concreto, pra variar. Eu já nem faço questão de assistir, por exemplo, o famoso "cirque du soleil". Se é para ver palhaçada (desculpem a rebeldia da metáfora), a que houve nessa infrutífera reunião é pelo menos de graça, para a pobre desgraça desse mundo de meu Deus, pois haja estoque de fé para sublimar o disparate de tantos glutões inermes.
Comentários gravemente lúdicos do Grito Pacífico, mudando o mundo com você
Pobre mundo sem homens de visão
Nahum Sirotsky - 14/03/2009
FONTE: http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/nahum/2009/03/14/pobre+mundo+sem+homens+de+visao+4784923.html
TEL AVIV - A reunião dos ministros da Fazenda em Londres prova mais uma vez que faltam em nossa época os grandes homens. Há gente em grandes funções e visões míopes. Falam bonito e não dizem nada de substancial. Fazem promessas e não botam nada preto no branco. A história vai recordá-los como grupo que perdeu a oportunidade de darem forma ao retorno de dias melhores. Comportaram-se como políticos na disputa de cargos menores. O mundo pega fogo e Nero toca sua guitarra.
“Os ministros e presidentes de banco centrais comprometeram-se a adotarem ação que seja necessária até que o mundo volte a crescer. Indicaram que no futuro estímulos fiscais e medidas regulatórias seriam introduzidas. Apesar de nada decisivo ter sido adotado os ministros ficaram satisfeitos com o espírito predominante”, foi comentário de um dos mais essenciais veículos pra quem precisa se informar, o Financial Times, de Londres.
Não exageremos, ok. Eles concordaram que é preciso encher a caixa vazia do Fundo Monetário Internacional que já empregou bilhões em ajuda a países em dificuldades. Não assumiram compromissos. Os ministros declararam que permanecem fiéis ao objetivo de ajudar países emergentes e em desenvolvimento. Palavras, palavras, palavras, como escreveu Shakespeare há centenas de anos.
“Os Grandes 20, G.20- ainda tentam chegar a um acordo sobre como promover a reversão da recessão antes da reunião de Cúpula de Chefes de Governo marcada para abril. Será que é questão de botar mais dinheiro ou de urgência em políticas de mais rigorosa regulamentação das bolsas e sistema financeiro? Não sabem. O corretor-vigarista que enganou os mais espertos e assessorados investidores por 20 anos, enganou os serviços de regulamentação oficiais, fez desaparecer 50 bilhões, confessou na manhã de sábado, na Justiça, que não fosse a Crise poderia continuar pela eternidade. Os bancos centrais responsáveis pelos sistemas monetários estão falidos. E os ministros com suas centenas de assessores e instrumento de acompanhamento não sabem! Trilhões já foram doados na guerra contra a crise sem grandes vitórias e os ministros não sabem.
Se a crise é global num mundo globalizante nada mais lógico concluir que só têm soluções globais. Que a questão é pensar globalmente com uma visão de um mundo operando dentro de regras e normas globais. Se, por exemplo, existe a necessidade de regras para o comércio internacional nada mais lógico ser necessárias para o funcionamento do sistema financeiro de fato globalizado. A questão é das estruturas a serem criadas. Admitir que dentro do mundo existissem povos, nações, países e Estados transformados em municípios. Que o desenvolvimento tecnológico nos leva a um mundo só com suas diferenças como existem entre São Paulo e Maranhão, digamos, que ou conviverão com leis que permitam coexistam ou voltaremos para o começo de tudo.
Cobra se mata no ninho, no máximo antes do bote. Esses ministros pensam velho. São todos pré-globalização que não sabem pensar internet. Pobre mundo.
sábado, 14 de março de 2009
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3 comentários:
Reproduzi íntegra de um retorno que recebi por e-mail:
"Prezado Pablo,
Muito bom e oportuno sua iniciativa de trazer ao conhecimento deste público do Terceiro Setor a indignação de Nahum Sirotsky em seu muito bem colocado Grito Pacífico, indignação esta que está contida inconscientemente. na pele de muitos e conscientemente no coração de poucos.
Creio ser oportuno tecer alguns comentários a respeito, não sem antes lembrar alguns fatos históricos para o exercício do raciocínio, pouco exercido pela maioria, até porque certamente é o passado que ilumina o futuro.
Quem sabe ler - e compreende o que lê - e que conheceu o caso do Muro de Berlim, poderia imaginar que um dia ele cairia?
Quem conhece um pouco de história do passado - a registrada em fatos - poderia imaginar a queda da União Soviética?
Quem conhece um pouquinho da história americana com seus conflitos raciais explícitos, poderia imaginar que um afro-americano seria um dia presidente da maior potência mundial?
Se formos buscar na história, do passado antigo como no recente, em todos os ramos da ciência, vamos encontrar inúmeros fatos até então inimagináveis e que se tornaram realidade e corriqueiros nos dias de hoje.
Para não deixar o leitor com muita expectativa, o que todos esses fatos tem com a indignação do respeitável Nahum Sirotsky?
Este é o exercício do raciocínio que deveremos fazer sempre que tomamos conhecimento dos noticiários.
A Síndrome Circense da Miopia está nos ministros e nos políticos em geral como infere o autor do artigo. Mas em realidade, a miopia está em nós mesmos de forma epidêmica. Onde é mesmo o circo? Como esses artistas circenses chegaram ao picadeiro? Quem escolheu o espetáculo e pagou para vê-lo? Quem são mesmo os míopes? Ou será que já estão cegos?
Caro Pablo, a indignação do Nahum é certa, mas a maior indignação é nossa que vemos uma minoria que se interessa por ler as notícias e não exercita a inteligência para perceber a nítida manipulação dos fatos, a constante inversão de valores, o desrespeito com a inteligência daqueles que ainda pensam e analisam o que lêem. A maioria dos que assistem aos espetáculos circenses, comentado no texto, é que são míopes, os cegos somados aos indiferentes, estes últimos os que nos faz mais indignados.
É preciso em primeiro lugar que, a exemplo da história, do passado, que as mudanças não ocorrem de um dia para o dia seguinte. As mudanças de que falo se realizarão e para um Brasil que certamente não veremos, mas que será para nossos netos e bisnetos.
Então é preciso começar a tratar com urgência dessa visão míope e da cegueira que se alastra. Para acabar com os espetáculos circenses neste circo de horror despoluindo a política e renovando a vida com justiça e liberdade, é preciso de atitudes já! É preciso que atravessemos juntos os desertos da indiferença, do egoísmo e do descaso. É preciso exercer uma cidadania de forma ativa. Começando hoje, o Brasil do Futuro deixará de ser meras palavras e será uma realidade - não para nós - mas para os que nos sucederem. Só depende de nós a cura da nossa miopia e da nossa cegueira.
Carlos Grand
Por uma cidadania ativa"
(respondendo ao comentário inserido anteriormente)
Oi, Carlos
O fato de não colhermos diretamente as mudanças que almejamos não significa que as sementes plantadas sejam em vão. Realmente, como você fundamentou com relevantes exemplos históricos, o que parecia impossível ontem virou realidade hoje, e as tantas coisas absurdas que nos indignam hoje haverão, por força inexorável do ciclo de evoluções e revoluções da humanidade, de dar lugar amanhã a práticas civilizatórias e valores existenciais melhores, por mais árido que seja o deserto de miopia e muitas vezes cegueira reinantes.
Abraços solidários
Pablo Robles
Retransmitindo por aqui:
"Olá Pablo,
As sementes de que falamos devem ser semeadas já, ainda que o solo não seja muito fértil! Se alguma semente brotar já ficarei contente. É o que representa a cidadania ativa de que tanto falo. O que não podemos, é ficar somente assistindo o espetáculo circense e apenas negar o aplauso. É necessário muito mais. Atitudes! Exemplos, bons exemplos!
Grande abraço do
Carlos Grand
por uma cidadania ativa"
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