quarta-feira, 14 de novembro de 2007

DESABAFO: Indicadores do Absurdo


A cada dez indicadores (índices, parâmetros, estatísticas) revelados pelo mundo (parcial ou imparcial? adivinhe!) da mídia, pelo menos oito dados veiculados não tem nada a ver com nossas vidas imediatas, concretas e cotidianas. Tratam de códigos, jargões, hieroglifos de uma linguagem econômica distante, globalizada e muitas vezes especulativa. Assistindo o jornal por dez minutos, rapidamente percebemos a superficialidade de seus conteúdos sociais.

Em vez de informarem a dança desafinada do dólar, as totalizações difusas do PIB, o nervosismo paranóico das bolsas de valores, por que não denunciam o abismo estonteante das desigualdades, os sintomas indigestos da fome e o vício criminoso das corrupções? A maioria não está efetivamente preocupada em saber se a taxa Selic (relacionada aos juros) estacionou, escorregou ou levitou em tal período, muito embora ela deva ser baixa e competitiva.

A maioria quer saber em que planeta são gravadas as novelas da grande mídia, cujas personagens estão quase sempre bem vestidas, comem preferencialmente do bom e do melhor, andam de carro com a maior facilidade, muito raramente aparecem lendo, têm o hábito frequente de trairem seus pares conjugais e praticamente nunca expoem e debatem seus ideais coletivos. Sem falar da publicidade consumista que impesta o intervalo das programações.

A poucos metros da casa onde felizmente moro, não é difícil ver pessoas sem dinheiro, sem esperança, sem cidadania, sem teto, sem ocupação e sem tantas outras coisas essenciais para terem uma vida digna, autônoma e minimamente feliz. Essas pessoas não são simplesmente números resultantes de equações econômicas. São pessoas querendo ser gente, tentando sobreviver a cada dia e desejando ser reconhecidas (por que não?) como seres humanos.

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