quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dilma, Serra e seus (nossos) abismos

Vamos fazer uma brincadeira séria? Sacrifique poucos minutos de seu tempo para ler essas duas notícias, amostras representativas dos dois pólos da campanha presidencial em disputa:

a) Artistas e intelectuais repetem um palanque como o de 1989

b) Quem são os “investidores” que ouviram FHC?

Como todo jogo instrutivo, a regra é “faça de conta que você é de um país (ou planeta) distante e chegou agora no Brasil”. Isso lhe permitirá ver tudo sem preconceito, como a criança que você foi um dia achando “que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes” (trecho da música Índios, do Legião Urbana).

O jogo começa e ganha quem descobrir mais diferenças entre os dois candidatos. Descobertas o máximo de diferenças, elas serão utilizadas para ajudar as eleitoras e os eleitores brasileiros a escolherem o melhor candidato para governar o país.

Durante o jogo, algumas questões causam bastante perplexidade entre os participantes:

1) Por que Dilma tem tanto apoio de pessoas conhecidas, íntegras e preocupadas com o destino coletivo da nação, enquanto quase não se vê manifestos de pessoas e instituições declarando explicitamente e divulgando abertamente sua preferência pelo Serra?

2) Por que um lado (o da Dilma) afirma com orgulho o governo do partido que representa (PT), destacando suas conquistas históricas recentes (lideradas por Lula), enquanto o outro lado (o do Serra) esconde ou minimiza o papel, a imagem e a ideologia do PSDB de FHC?

3) Por que a esperança, a alegria, a solidariedade, a integração, a altivez, a positividade, a diversidade e a autocrítica predominam tanto nas falas e sentimentos dos partidários e simpatizantes da Dilma, enquanto que o preconceito, o medo, a arrogância, a intolerância, a difamação, o oportunismo, a hipocrisia e o anonimato são atraídos para o campo do Serra?

O jogo chega ao fim e os participantes, reunidos de forma presencial e pela internet em diversas assembléias – tanto nas esferas familiares e comunitárias como nos espaços institucionais e organizados – chegam praticamente a uma mesma reflexão, uma mesma conclusão, uma mesma visão:

UM ABISMO (MUITO MAIOR DO QUE SE PENSAVA) SEPARA DILMA E SERRA.

Ela, Dilma, quer continuar ajudando o Brasil a se libertar de seus atrasos históricos, que remontam aos tempos de quando os índios viviam aqui, certamente mais felizes, ainda que fossem cientificamente ingênuos em matéria de tecnologia moderna (atômica ou não).

Ele, Serra (político profissional com palhaçadas amadoras), parafraseando o Tiririca (palhaço profissional com popularidade amadora), é a certeza de que, se ganhar, “melhor do que tá não fica” e a suspeita mais ou menos certa de que as coisas vão piorar, regredir, involuir...

Especialmente para as maiorias populares e as minorias oprimidas por elites egoístas e entreguistas, satisfeitas em lucrar sozinhas enquanto os “menos capazes”, nordestinos ou não, para brilharem em Estados economicamente ricos como São Paulo, precisam muitas vezes transformar a piada da vida de seu povo pobre na alavanca digna da superação de si mesmos.

domingo, 17 de outubro de 2010

PORQUE SOU DILMA 13

PORQUE SOU DILMA 13

Poderia dedicar intermináveis linhas para comparar os avanços e resultados do governo Lula em relação ao seu antecessor FHC. Ambos tiveram o mesmo tempo como presidente. O de melhor educação formal foi o que menos fez para o povo. Aquele que nem inglês fala direito reposicionou o Brasil no mapa do mundo, perante os países e idiomas de todos os quadrantes.

Infelizmente, vivemos tempos efêmeros, líquidos, descartáveis. Somos bombardeados por informações curtas, rápidas e episódicas; e o que é pior, nem sempre imparciais, isentas e éticas. Falar e divulgar a verdade pode aborrecer o patrão e causar sua demissão e sua conseqüente exclusão do “mercado”. Noticiar coisas boas não dá lucro. Tragédias parecem mais eficentes.

Diante desses dois fatos (Lula/PT objetivamente melhor que FHC/PSDB; e uma mídia que, por informar mal, acaba nos deseducando e despolitizando), como entender a campanha Dilma x Serra e avaliar a qualidade da cidadania brasileira? Em vez de debatermos propostas e de discutirmos projetos estratégicos de país, nos deixamos infectar e hipnotizar por boatos.

O boato não é nada mais nada menos que a principal arma utilizada pela campanha Serra. A arma mais medíocre, mais primitiva, mais covarde. As eleições desse ano, como tantas vezes fizeram com o Lula, estão sendo pautadas pela tragédia. Uma voz aqui e acolá tenta elevar o nível, mas o grosso da estratégia do Serra “do bem” é espalhar o mal e associá-lo à Dilma.

Como toda tragédia tem sua face cômica, vamos a ela: a mulher do “bonzinho” Serra mordeu a própria língua e sua máscara de “virtude maternal” caiu: a Mônica Serra, quem diria, após revelações de uma ex-aluna sua e repercussões na mídia alternativa, assumiu já ter abortado, conforme noticiou a própria Folha de São Paulo (jornal tradicionalmente pró-Serra e anti-Lula): http://mariafro.com.br/wordpress/?p=20474. O feitiço voltou como bumerangue ao feiticeiro.

Quem opta por fazer valer conscientemente seu voto - partindo friamente da realidade coletiva do país e não dos fantasmas individuais do medo impregnados nas entranhas de preconceito que se nutrem dos farelos de egoísmo que pairam na moralidade humana - prefere a Dilma, mesmo que essa adesão não seja automática e desprovida de criticidade, como professou o PSOL e emendou um editorial do Brasil de Fato cujo diagnóstico foi ecoado por Emir Sader: “Dilma não é o governo dos nossos sonhos. Serra é o governo dos nossos pesadelos”.

Eu deveria saltar nesse testemunho o fator Marina Silva, pois acho muito ambígua e contraditória a postura do PV, que vem sendo assediado pelo PSDB em troca de alguns Ministérios caso Serra vença. Ver o Serra citando Chico Mendes soa tão oportunista e patético quanto se FHC viesse a citar o Che Guevara para seduzir os jovens da geração passada. Para quem votou em Marina para enriquecer o debate político no segundo turno, viu que o tiro até agora está saindo pela culatra, conforme argumentei no princípio do texto.

De qualquer forma, devemos aguardar os posicionamentos finais da Marina quanto ao duelo Dilma x Serra. De antemão, cabe a ressalva de que a neutralidade geralmente é omissa e pode chegar a ser burra, no sentido da incoerência histórica e biográfica. E por falar em neutralidade, o que penso do voto nulo, o clássico voto de protesto? Começo com a tese mais pragmática que minha essência idealista consegue tolerar: existe a opção do país ser presidido por ninguém, pelo nada, pelo acaso? Não existe: alguém (oxalá uma mulher) será eleito(a) para tal.

Sobre essa questão, escutemos o Código Eleitoral Brasileiro (Lei nº 4.737/art. 224) diz que: “se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do estado nas eleições federais e estaduais, ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações, e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias”. Quando se espalhou essa cláusula, houve quem achasse equivocadamente que os novos candidatos teriam que ser outros, mas isso não procede.

Sou pessoalmente socialista, e tenho mobilizado essa minha inclinação política através dos trabalhos sociais que desenvolvo há 11 anos em ONGs, dos escritos (em verso e prosa) que posto em meu blog e das frases reflexivas que ponho nas redes sociais da internet, como twitter, orkut/facebook e MSN. A propósito, um dos meus sonhos é que, a partir dos meus 50 anos de idade, eu possa encontrar mais tempo e melhores condições para me dedicar de forma mais atenta e livre à minha produção escrita e quem sabe fecundar algum romance. Mas se eu “abortar” antes algum livro solo de poesias (sociais), por favor, não me denunciem.

Cara pálida, mas o que o parágrafo anterior tem a ver com a Dilma e o voto nulo? Calma, eu explico. Tem a ver com minha atitude regular, contaste e radical de "protesto" contra o sistema capitalista. Quem já mergulhou no meu blog, se banha facilmente com essa minha orientação. Mas isso me impede de usar cartão de crédito? Não. De buscar negociar serviços e projetos sociais remunerados para sobreviver? Também não. Afinal, respiramos capitalismo.

Igualmente, respiramos o atual modelo republicano, presidencialista e representativo que compete à democracia política brasileira. Como poderia votar nulo se pago impostos e gero receitas para usufruir de bens e serviços públicos, desde o ônibus que pego para trabalhar, passando pelo Programa Luz para Todos que reduz minha taxa de aluguel até a atual faculdade pública de Ciências Sociais que curso na UFC, como estudante da primeira turma noturna que foi aberta (semestre 2009.1) – ampliação essa favorecida pelo governo Lula.

Desculpem se estiquei demais o texto. Tenho esse problema crônico e cíclico de TPM (Tensão de Prolixidade Máxima). Mas toda justificativa pública deve ser minimamente fundamentada em princípios, experiências e atitudes. Face ao exposto, declaro que Sou Dilma e a desejo como Presidente do Brasil. O que não significa dizer que me calarei e me acomodarei quando ela for eleita e alegrar a maioria das mulheres, homens, jovens e idosos do país. Termino este manifesto pessoal, independente e suprapartidário com a seguinte reflexão:

Esses regimes são liberais: não recorrem essencialmente à coerção, mas a uma espécie de semi-adesão indolente da população. Esta acabou finalmente sendo penetrada pelo imaginário capitalista: a finalidade da vida humana seria a expansão ilimitada da produção e do consumo, o suposto bem-estar material etc. Em conseqüência disso, a população fica totalmente privatizada. O slogan metrô-trabalho-cama [métro-boulot-dodo] de 1968 transformou-se em carro-trabalho-Tv. A população não participa da vida política: votar uma vez a cada cinco ou sete anos em alguém que não se conhece, sobre problemas que não se conhece e que o sistema faz tudo para impedir que você conheça não é participar. Mas para que haja uma mudança, para que haja realmente autogoverno, é decerto preciso mudar as instituições para que as pessoas possam participar da direção dos assuntos comuns; mas também é sobretudo preciso que mude a atitude dos indivíduos com relação às instituições e à coisa pública, a res publica, o que os gregos chamavam ta koina (os assuntos comuns). Pois, hoje, dominação de uma oligarquia e passividade e privatização do povo são apenas os dois lados de uma mesma moeda

(CORNELIUS CASTORIADIS, extraído do livro “Uma Sociedade à Deriva”, pág. 16)

sábado, 9 de outubro de 2010

POESIA ESPECIAL: Direito de Ser Criança

Aquela criança em (de)formação,
Sem maldade, malícia e preconceito;
Pode se tornar um adulto (in)feliz,
Com lacunas e amarguras no peito...
Psicologicamente fraca, familiarmente confusa,
Moralmente pobre, profissionalmente sem jeito.

Na ânsia competitiva de turbinarmos
A mente sem pressa e sem tensão
Das crianças, transformamos sua infância
Em paranóia; seu lazer, em ocupação.

Queremos que elas logo saibam ler,
Antes de serem estimuladas a sentir.
Nessa toada, são primeiro levadas a calcular
Fórmulas abstratas e decorar regras vazias;
Em vez de somar virtudes e dividir exemplos:
Como se fossem menos lucrativas e importantes
A equação do sorrir e a gramática do amar...
Como se apenas fossem miniaturas de gigantes!

Se o tempo é dinheiro, criança é poder ??
Se viver é consumir, ser equivale a ter ??

O que seriam as crianças para as instituições???
Recipientes férteis para escolas neuróticas?
Massas de modelar para religiões dogmáticas?
Mercados precoces para propagandas hipócritas?

Toda criança tem o direito de ser criança!!!...
Criar um mundo paralelo, dançar a sua dança!!
A fantasia ingênua e sadia é o seu único guia.
Adultecê-la é extinguir a mais elementar utopia!

Pablo Robles – POETA DO SOCIAL

(Em homenagem ao Dia das Crianças de 2010)