quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Amando para Mudar & Mudando para Amar

Amando para Mudar & Mudando para Amar

Ah se não fosse essa mania insistente e comovente
De se gostar tanto das coisas e sobretudo de gente!
De repente descobrimos, pela pedagogia da dor, que o amor
É a única força que nos salva, nos humaniza e nos transcende.

Que o melhor de cada um cresça e prevaleça entre todos nós!
Que nenhum obstáculo exterior desligue a essência da tua voz!

Sejamos personagens mais reais no palco da(s) vida(s),
Descartando as máscaras dos interesses que tiranizam
E reciclando os discursos que nos libertam, os enredos
Que (nos) evoluem e as performances que nos uni-ci-zam.

Que os sorrisos e as lágrimas descubram a sintonia perfeita
Nessa atmosfera de aparências mil e sensibilidade rarefeita!

Que a sutileza do detalhe e a riqueza do silêncio não sejam diluídas
Por diálogos vazios, sentidos superficiais e relações estereotipadas!

Que o veneno do preconceito nunca escoe pelos teus lábios
E a hipocrisia jamais se esconda nos bastidores do teu olhar!

Que o caos de tudo que não precisamos e secretamente nos mata
Seja reordenado pela simplicidade profunda daquilo que nos basta!

Se a televisão te emburrece, não tenha medo de dispensá-la,
Antes que a sua consciência seja globalizada e condicionada.
Desconfie das notícias que muito deformam e pouco informam.
Para conhecer a realidade, sinta o cheiro do povo a espreitá-la.

Nada que não passe pelo coração encontra eco na razão!
O mistério da felicidade não cabe em fórmulas calculadas!
A economia dos números que contabiliza nossa civilização
Será nocauteada pela magia das pessoas “descontroladas”!

Que a fé em qualquer Deus comece pela fé na humanidade
E que rituais tradicionais se convertam em obras de verdade!

Que a arte de ser quem você é não seja comercializada
E a neutralidade omissa da ciência seja logo eletrocutada!

Quando nem tudo parecer correto, coerente, justo e decente;
Abriga-te dentro dos teus sonhos, daquilo que é incorruptível!

Que a tristeza dos que tem menos derreta o ego das pessoas frias!
Que a vontade de mudar o mundo seja o refrão eterno das utopias!

Bendito o tempo que cicatriza feridas, peneira saudades,
Enterra absurdos, inverte paradigmas, renova esperanças;
Amadurecendo as “crianças” em suas idades e prioridades,
Além de nos ensinar a amar para mudar e mudar para amar!

Que os prêmios Nobel da Paz não façam hinos à guerra
E a olimpíada suicida do PIB não sacrifique mais a Terra!

Que os medos da noite abram alas para os triunfos do dia!
Que a tua alma nunca se feche para o orgasmo da poesia!

(Por Pablo Robles – POETA DO SOCIAL)

Em homenagem ao Natal de 2009 e ao Ano Novo de 2010

sábado, 12 de dezembro de 2009

Uma literária possibilidade real

De repente ela apareceu para ele. Ou vice-versa. Passaram a existir um para o outro. Os nomes principais dos dois cabem numa mesma quantidade de letras. Embora também identificados pela mesma idade, apresentam mundos necessariamente diferentes. Na verdade únicos, pois a singularidade sem limites da espécie humana não admite cópias.

Meia hora depois que se falaram à distância, ele se põe a ouvir a voz dela por telefone. O timbre um pouco ansioso dele foi dissolvido pela candura infantil exalada no outro lado da linha. Rápida no gatilho, acionado pela troca de mensagens via celular, ela vai ao encontro dele, de modo que um dia depois, no palco convidativo de uma praça, as personagens começavam a se revelar, se descobrir, se medir.

As impressões iniciais entre os dois se confrontam e se ajustam, mas possivelmente um segundo encontro será necessário para que as imagens que um está metabolizando sobre o outro se tornem mais nítidas e reveladoras. Enfim, não tardará para que o clima de estranhamento ganhe personalidade e seja nocauteado pela espontaneidade.

O que falaram quando se sentaram juntos pela primeira vez? Certamente priorizaram temas mais objetivos: estudos, trabalho, famílias, afazeres, namoros anteriores. Afinal de contas, a subjetividade precisa de mais tempo para ser desembrulhada. Palavras subtraídas por silêncios. Silêncios sacudidos por palavras. Dialética essa realçada por gestos denunciadores e testemunhada por olhares avaliadores.

O tempo dessa vez não foi generoso para esse par experimental de amigos, pois já estava tarde e tiveram que se apressar. Voltaram saboreando sorvetes, ao mesmo tempo em que degustavam suas preferências musicais e literárias. E assim despediram-se. Por enquanto ou para sempre? Ainda é muito cedo para um palpite razoável. Dormiram, sonharam e acordaram embalados por uma miríade consciente e inconsciente de incertezas.

Já não seria surpresa informar que ele e ela estavam solteiros, o que significa dizer que o magnetismo da esperança, no sentido afetivo do termo, desde o princípio os unira. Mas tal expectativa não foi administrada de forma idêntica: ele, mais idealista e decididamente mais explícito em seus anseios; ela, mais realista e sobretudo implícita em suas intenções. A empolgação do homem foi neutralizada pela cautela da mulher.

Quem é ele? Quem é ela? Por que não outro? Por que não outra? Dúvidas, naturalmente, dominavam os primeiros passos de destinos imprevisíveis e talvez conciliáveis. O fato é que o convite do amanhã houvera sido feito. Era uma vez uma possibilidade fecundada pelo tempo presente de ambos, nublado pelo desconhecimento quase total de seus passados.

Mereciam avançar, vencer eventuais medos e lançar os dados da sorte? O desafio do novo é a resistência do antigo. O risco é o ingrediente inevitável da felicidade. Sem a cor poética e democrática do mistério, o futuro não seria tão colorido e belo. Ela e ele, jovens já moldados pelas responsabilidades adultas, não embarcariam em armadilhas efêmeras.

Estariam habilitados a partilhar um mesmo horizonte, nem que fosse apenas durante uma estação, uma espécie de estágio probatório? Esta moça e este jovem beirando os trinta anos aprovariam o processo de metamorfose que seus mundos afetivos teriam que passar? Ou tudo não passaria de ilusões perdidas? Uma legião de dilemas tão agitados como a rotina urbana rondava o labirinto de suas mentes - ou, melhor dizendo, corações.

Estariam dispostos a sincronizar seus sorrisos e deslizarem algumas lágrimas nas mãos um do outro? Saberiam inventar carícias e colecionar emoções para o acervo de suas almas? Ou não! Alguma incompatibilidade, preconceito ou insensibilidade cortaria, sem paciência e sem piedade, as asas da esperança deste casal em potencial?

Há momentos em que a ficção literária confunde-se com a realidade da vida, como se um movimento atraísse o outro para virarem sinônimos. Caberão aos protagonistas anônimos deste breve conto, baseado a propósito numa cena verídica e bem recente, escolherem o desfecho que julgarem mais apropriados. No entanto, se ambos enxergarem nos próximos dias e conversas um atalho comum e convergente dentro de si mesmos, a vida, em vez de se contentar imitando a arte, poderá efetivamente transcendê-la.

Assim sendo, para a alegria dos leitores que acreditam na humanidade do amor (visto que sua essência original tem algo de divino e imponderável), um conto aparentemente sem pretensão poderá, nos bastidores da blogosfera, dar as boas-vindas para um romance autêntico, maduro, promissor e apaixonadamente real.